terça-feira, 1 de maio de 2012

As feridas da Igreja VII


José Augusto Santos

Para quem esteja a seguir esta série de textos e ainda pense que tudo o que venho expondo é a simples opinião de quem não avançou no tempo, como já ouvi algumas vezes dizerem-me, veja o que foi defendido publicamente na visita do Santo Padre a San Marino (o mais pequeno país europeu), no dia 19 de Junho do ano passado:

«Neste domingo da Santíssima Trindade, nossa Igreja diocesana se encontra unida com o Sucessor de Pedro para a celebração da Santa Missa, fonte e cume da vida nova em Cristo. Queremos viver este momento em comunhão com a Igreja universal, presidida na caridade por Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Por esta razão, chamamos a atenção agora sobre o modo de receber a Sagrada Comunhão. (…) Os fiéis que, depois de se terem confessado, se encontram actualmente em estado de graça e que, então, apenas eles, podem receber o Santíssimo Corpo do Senhor, se aproximarão do ministro que lhes estiver mais próximo. A Comunhão, segundo as disposições universais vigentes, (o destaque é meu) será distribuída exclusivamente na língua, a fim de evitar profanações mas sobretudo de educar a se ter uma sempre maior e mais alta consideração para com o Santo Mistério que é a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não será permitido a ninguém receber a Comunhão em suas próprias mãos. Após ter feito a devida reverência, adoremos a Hóstia que então é apoiada sobre a língua. Aos que não estão impedidos por motivos de espaço ou de saúde, a Comunhão pode ser recebida também de joelhos».

Foram estas as palavras do Bispo diocesano de San Marino, Monsenhor Luigi Negri, dirigidas aos fiéis presentes na Santa Missa. Como pode constatar-se, «as disposições universais vigentes» determinam que se receba a Eucaristia na língua. Outro modo continua a ser um erro, um abuso e uma profanação que tanto ofende Nosso Senhor.

Se pensarmos na formação que faz parte do crescimento dos filhos, nos casos em que vemos pais bons, em tudo exemplares, se tivéssemos que dar algum conselho aos seus filhos, não os aconselharíamos todos nós a seguirem o exemplo daqueles pais? Então onde está a nossa coerência de filhos da Santa Igreja, quando Ela, pelo seu sagrado Magistério, nos recomenda uma coisa e nós fazemos outra? Que ninguém pense usar como desculpa aquilo que vê ser «o normal» nos dias de hoje, nem dê ouvidos a muitos membros da Igreja que procuram mostrar-se liberais, modernos. Esses, são aqueles que, no hipotético caso referido, diriam aos tais filhos para se divertirem, para não levarem tão a sério seus pais, porque eles não souberam acompanhar os tempos…

Aos que criticam os católicos «praticantes», há quem responda, e bem, que a Igreja, mais do que uma casa de santos, é um hospital de pecadores. Eu porém, ouso acrescentar que, atendendo àquela valência que está sempre a rebentar pelas costuras, a este hospital seria mais apropriado classificá-lo de manicómio, sabendo nós que neste género de hospitais são muito raros os doentes que reconhecem que o são…

Na Igreja passa-se exactamente o mesmo. Pelo que vejo (e ando “nisto” há muitos anos), é muito raro encontrar alguém, de entre todos os que nela prestam algum serviço, que não sofra da grave doença do relativismo, do modernismo. E dado que estas duas doenças se confundem em vários pontos, difícil se torna vê-las em separado. A pessoa que não teve todos os cuidados necessários para não se contagiar por elas, tende a dar sinais de um outro mal, que é o sincretismo religioso que nela se começa a perceber.

Antes de prosseguir vejamos o que é o relativismo e o modernismo:

O relativismo nega o que a verdade tem de absoluto, colocando-a ao nível da opinião de cada um. Segundo o relativismo, o que é verdade para uns pode não o ser para outros, e neste clima e por este prisma se vêem os critérios morais. Até as próprias leis reflectem as opiniões dominantes… As encíclicas Veritatis splendor e Fi­des et ratio, de João Paulo II, são um meio excelente para compreendermos esta problemática.

O modernismo é um movimento surgido no final do século XIX, que procura adaptar a doutrina e a vida da Igreja às correntes de pensamento do tempo, e submete a fé à crítica filosófica. Para o modernismo não há comportamentos morais certos ou errados, porque isso é uma questão de critérios pessoais. Como já dissera em texto anterior, o Papa S. Pio X, na encíclica Pascendi, condena veementemente o modernismo.

Como dizia atrás, estas tão graves doenças da alma atacam lentamente, sem que a pessoa dê por isso. Uma vez incubadas, levam-na a uma espécie de sede, só saciável quando outros lhe dão dessa mesma água.

O tal Masterplan de que falei no texto anterior, aproveitando estas duas correntes filosóficas, não podia deixar de atacar o ensino da Religião Católica. Assim, o que se verifica ao nível da catequese é um rigoroso cumprimento do que nele fora prescrito.

Nestes últimos tempos, a catequese é como um balão muito grande e enfeitado com lindas e variadas cores e imagens, mas como balão que é, o interior é um grande vazio. Por isso, apesar de tantos que nele se empenham para o conceber, nenhuma outra utilidade tem senão servir para enfeitar…

É isso, e nada mais para além disso, o que se verifica com o programa catequético das nossas crianças e adolescentes. O grande balão são os dez anos de catequese; e a catequese propriamente dita, nada mais é do que a construção e enfeitamento do balão que alguns padres e muitos catequistas gostam de exibir. A forma como o fazem varia conforme a aceitação dos padres e empenhamento dos catequistas que mais se renderam ao modernismo. Acionemos, pois, as necessárias sinergias, para que a catequese deixe de ser um simples ATL (apoio aos tempos livres), e seja uma escola de autêntica formação moral e religiosa que faz germinar as sementes da Fé.

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