José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Ainda no avião, e no início da sua viagem a Portugal, Bento XVI declarou que a grande perseguição à Igreja "não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja"[1], o pecado que os filhos da Igreja praticam. O mesmo Bento XVI declarou na celebração eucarística em Lisboa que nada destruirá a Igreja, nem sequer o pecado que no seu interior se pratica, porque ela, apesar de ter filhos pecadores, é santa, da santidade do seu esposo, Cristo, e da santidade dos santos, que são esses que, como disse Bento XVI, reflectem perfeitamente o rosto da Igreja: "A ressurreição de Cristo assegura-nos que nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja"[2].
Este pormenor é muito importante, que os jornalistas de propósito não consideraram, apontando logo o dedo para os outros, como se eles estivessem fora, e não participassem nem no pecado que se pratica na Igreja, se forem católicos (e muitos são pelo menos baptizados, e não viver de acordo com o baptismo já faz parte desse pecado de que fala o Papa) nem no que se pratica no mundo, o pecado do mundo, nesta cultura do terror e da morte que o homem provoca, mas que não pode parar. Deste pecado falou Bento XVI na homilia em Fátima, e já antes havia o denunciado na sua recente encíclica, A Caridade na Verdade (CV 75).
Na homilia no Porto o Papa interpelou os leigos a darem testemunho de Cristo no lugar em que se encontram no mundo, porque “se não fordes vós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar?"[3]. Ora quando se fala na corrupção em Portugal, os cristãos católicos têm grande responsabilidade nisso, e isso faz parte do pecado que se pratica na Igreja, que não pode por isso reduzir-se à sacristia e aos domínios do culto; quando elementos da hierarquia dizem que a Igreja não intervém em determinadas questões – as questões fracturantes - porque elas não são especificamente religiosas, também isso faz parte das omissões e dos silêncios que são o pecado que se pratica na Igreja e que é um dos seus grandes inimigos.
Onde estão os homens rectos que Bento XVI diz ser necessário existir para que em Portugal e no mundo possa construir-se a justiça e a paz? Na encíclica Caridade na Verdade recorda o Papa: "O desenvolvimento é impossível sem homens rectos, sem operadores económicos e homens políticos que sintam intensamente em suas consciências o apelo do bem comum" (CV 71). Quando o Presidente da República promulga leis que vão directamente contra o sentir comum da sociedade portuguesa e da moral católica, abdicando (por alegadas razões políticas) dos princípios nos quais diz pessoalmente acreditar, onde está o carácter, a rectidão, a firmeza que faz os homens grandes nos momentos cruciais da história? Infelizmente parece que já não há homens em Portugal, já não há pastores, e o rebanho encontra-se à mercê de mercenários sem escrúpulos, dispostos a vender a alma ao diabo!...
Como foi diferente a atitude dos Pastorinhos de Fátima: eles acolheram o convite do céu, feito pelo Anjo e Nossa Senhora para rezarem e se sacrificarem pela conversão dos pecadores para que as suas almas não fossem para o inferno; para repararem os pecados que estavam na origem dos males no mundo: as perseguições à Igreja e ao Papa, as guerras e devastações, o extermínio de tantas nações…; para oferecerem as suas vidas para consolarem Deus dos pecados que tanto O ofendiam e ao Coração Imaculado de Maria. E assim fizeram recentemente outras crianças: como aquele menino de cinco anos que disse à sua professora, nas vésperas de Natal, que queria o presépio na escola e não o pai-natal, pois este é o símbolo da coca-cola; ou aquele outro, de 10 anos, que, em obediência ao seu pai, se recusou a participar numa aula de educação sexual, porque o seu pai não tinha sido informado pela escola acerca dos programas e dos conteúdos da disciplina, de acordo com a lei!...
Os Pastorinhos e estes dois meninos mostraram ser homens de carácter e homens rectos. A salvação de Portugal passará por eles, e passaria por tantos outros que o egoísmo e a perversão de leis favorecem o seu precoce desaparecimento. Quem será que hoje responde aos apelos do céu a reparar e a consolar Deus, porque Ele está tão triste?
[1] BENTO XVI em Portugal, Discursos e Homilias (Lisboa: Paulinas 2010) 12.
[2] BENTO XVI, Discursos e Homilias, 27.
[3] BENTO XVI, Discursos e Homilias, 105.
Ilustrações da Redacção.
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