segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Papa que não sorria


Fernando Madrinha, Expresso, 15 de Maio de 2010

Este era o Papa que, segundo os seus críticos, não condenava os casos de pedofilia na Igreja Católica com a clareza necessária, apesar de já o ter feito repetidas vezes. Na viagem para Lisboa, afirmou 'O sofrimento da Igreja vem do interior da Igreja, dos pecados que existem na Igreja'. Mais 'O perdão não exclui a Justiça'. Isto para quem ainda tivesse dúvidas, ou estivesse para as inventar, sobre o modo como Bento XVI entende que devem ser tratadas as 'ervas daninhas' da sua Igreja.

Este era o Papa retrógrado e fundamentalista, supostamente intolerante para com as outras religiões e os que não têm religião alguma. No Centro Cultural de Belém, disse; 'A convivência da Igreja com as outras 'verdades' e com a 'verdade' dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer'.

Este era o Papa enquistado na sua fé, conservador, passadista e, portanto, incapaz de promover o diálogo inter-religioso e de fomentar o ecumenismo. Afirmou, a propósito; 'O diálogo, sem ambiguidades e assente no respeito entre as partes envolvidas, é hoje uma prioridade no mundo, à qual a Igreja não se subtrai.' E ainda sobre a diversidade cultural e a relação entre culturas. 'É preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem a enriquecer-se com ela.'

São exemplos de como, nestes dias da visita a Portugal, Bento XVI passou o tempo a desmentir os mitos, as falsidades e os juízos errados que muitos críticos encartados põem a correr sobre ele e sobre o seu pensamento.

Este era também o Papa que não sorria, incapaz de um gesto afectuoso e de estabelecer empatias com as audiências. Mas vimos como se dirigiu aos jovens na Nunciatura e como eles lhe responderam, vimos como as multidões o receberam no belíssimo palco do Terreiro do Paço, no impressionante cenário de Fátima e na Avenida dos Aliados, ou como o aplaudiram no Centro Cultural de Belém.

Compreende-se que tudo isto irrite os que detestam o Papa e o que ele representa.

Mas enquanto não lhes for possível o Povo, esse empecilho que trava o passo na política e nos seus esforços para derrubarem os Valores que a Igreja defende - muitas vezes de modo incoerente, é certo, e não raro contraditório com a prática de alguns dos seus membros - têm que ter paciência. Eles, que são criaturas perfeitas e exigem uma Igreja perfeita, embora só esta que combatem assanhadamente e não outras bem menos tolerantes, o que têm a fazer é meter a viola no saco."




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