quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Hitler, a guerra e o Papa

Hitler, a Guerra e o Papa é o título do livro de Ronald J. Rychlak apresentado em Nova Iorque no dia 11 de Dezembro.

Advogado e formado em Economia, o autor apresenta documentos e depoimentos que prestam esclarecimentos sobre a acção do Papa Pio XII durante a II Guerra Mundial.

O volume foi oferecido a Bento XVI, no Vaticano, por Gary e Meredith Krupp, fundador da «Pave the Way Foundation» (PTWF).

Foi também apresentada outra obra histórica, dos jesuítas Robert J. Araujo e John Lucal: Diplomacia Pontifícia e Organizações Internacionais.

Esta apresentação foi organizada pela Missão de Observação Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Carta de Bento XVI aos seminaristas




Queridos Seminaristas,

Em Dezembro de 1944, quando fui chamado para o serviço militar, o comandante de companhia perguntou a cada um de nós a profissão que sonhava ter no futuro. Respondi que queria tornar-me sacerdote católico. O subtenente replicou: Nesse caso, convém-lhe procurar outra coisa qualquer; na nova Alemanha, já não há necessidade de padres. Eu sabia que esta «nova Alemanha» estava já no fim e que, depois das enormes devastações causadas por aquela loucura no país, mais do que nunca haveria necessidade de sacerdotes. Hoje, a situação é completamente diversa; porém de vários modos, mesmo em nossos dias, muitos pensam que o sacerdócio católico não seja uma «profissão» do futuro, antes pertenceria já ao passado. Contrariando tais objecções e opiniões, vós, queridos amigos, decidistes-vos a entrar no Seminário, encaminhando-vos assim para o ministério sacerdotal na Igreja Católica. E fizestes bem, porque os homens sempre terão necessidade de Deus – mesmo na época do predomínio da técnica no mundo e da globalização –, do Deus que Se mostrou a nós em Jesus Cristo e nos reúne na Igreja universal, para aprender, com Ele e por meio d’Ele, a verdadeira vida e manter presentes e tornar eficazes os critérios da verdadeira humanidade. Sempre que o homem deixa de ter a noção de Deus, a vida torna-se vazia; tudo é insuficiente. Depois o homem busca refúgio na alienação ou na violência, ameaça esta que recai cada vez mais sobre a própria juventude. Deus vive; criou cada um de nós e, por conseguinte, conhece a todos. É tão grande que tem tempo para as nossas coisas mais insignificantes: «Até os cabelos da vossa cabeça estão contados». Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele e O levem aos outros. Sim, tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir.

O Seminário é uma comunidade que caminha para o serviço sacerdotal. Nestas palavras, disse já algo de muito importante: uma pessoa não se torna sacerdote, sozinha. É necessária a «comunidade dos discípulos», o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos. Com esta carta, quero evidenciar – olhando retrospectivamente também para o meu tempo de Seminário – alguns elementos importantes para o vosso caminho a fazer nestes anos.



1. Quem quer tornar-se sacerdote, deve ser sobretudo um «homem de Deus», como o apresenta São Paulo (1 Tm 6, 11). Para nós, Deus não é uma hipótese remota, não é um desconhecido que se retirou depois do «big-bang». Deus mostrou-Se em Jesus Cristo. No rosto de Jesus Cristo, vemos o rosto de Deus. Nas suas palavras, ouvimos o próprio Deus a falar connosco. Por isso, o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. O sacerdote não é o administrador de uma associação qualquer, cujo número de membros se procura manter e aumentar. É o mensageiro de Deus no meio dos homens; quer conduzir a Deus, e assim fazer crescer também a verdadeira comunhão dos homens entre si. Por isso, queridos amigos, é muito importante aprenderdes a viver em permanente contacto com Deus. Quando o Senhor fala de «orar sempre», naturalmente não pede para estarmos continuamente a rezar por palavras, mas para conservarmos sempre o contacto interior com Deus. Exercitar-se neste contacto é o sentido da nossa oração. Por isso, é importante que o dia comece e acabe com a oração; que escutemos Deus na leitura da Sagrada Escritura; que Lhe digamos os nossos desejos e as nossas esperanças, as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos erros e o nosso agradecimento por cada coisa bela e boa, e que deste modo sempre O tenhamos diante dos nossos olhos como ponto de referência da nossa vida. Assim tornamo-nos sensíveis aos nossos erros e aprendemos a trabalhar para nos melhorarmos; mas tornamo-nos sensíveis também a tudo o que de belo e bom recebemos habitualmente cada dia, e assim cresce a gratidão. E, com a gratidão, cresce a alegria pelo facto de que Deus está perto de nós e podemos servi-Lo.

2. Para nós, Deus não é só uma palavra. Nos sacramentos, dá-Se pessoalmente a nós, através de elementos corporais. O centro da nossa relação com Deus e da configuração da nossa vida é a Eucaristia; celebrá-la com íntima participação e assim encontrar Cristo em pessoa deve ser o centro de todas as nossas jornadas. Para além do mais, São Cipriano interpretou a súplica do Evangelho «o pão nosso de cada dia nos dai hoje», dizendo que o pão «nosso», que, como cristãos, podemos receber na Igreja, é precisamente Jesus eucarístico. Por conseguinte, na referida súplica do Pai Nosso, pedimos que Ele nos conceda cada dia este pão «nosso»; que o mesmo seja sempre o alimento da nossa vida, que Cristo ressuscitado, que Se nos dá na Eucaristia, plasme verdadeiramente toda a nossa vida com o esplendor do seu amor divino. Para uma recta celebração eucarística, é necessário aprendermos também a conhecer, compreender e amar a liturgia da Igreja na sua forma concreta. Na liturgia, rezamos com os fiéis de todos os séculos; passado, presente e futuro encontram-se num único grande coro de oração. A partir do meu próprio caminho, posso afirmar que é entusiasmante aprender a compreender pouco a pouco como tudo isto foi crescendo, quanta experiência de fé há na estrutura da liturgia da Missa, quantas gerações a formaram rezando.

3. Importante é também o sacramento da Penitência. Ensina a olhar-me do ponto de vista de Deus e obriga-me a ser honesto comigo mesmo; leva-me à humildade. Uma vez o Cura d’Ars disse: Pensais que não tem sentido obter a absolvição hoje, sabendo entretanto que amanhã fareis de novo os mesmos pecados. Mas – assim disse ele – o próprio Deus neste momento esquece os vossos pecados de amanhã, para vos dar a sua graça hoje. Embora tenhamos de lutar continuamente contra os mesmos erros, é importante opor-se ao embrutecimento da alma, à indiferença que se resigna com o facto de sermos feitos assim. Na grata certeza de que Deus me perdoa sempre de novo, é importante continuar a caminhar, sem cair em escrúpulos mas também sem cair na indiferença, que já não me faria lutar pela santidade e o aperfeiçoamento. E, deixando-me perdoar, aprendo também a perdoar aos outros; reconhecendo a minha miséria, também me torno mais tolerante e compreensivo com as fraquezas do próximo.

4. Mantende em vós também a sensibilidade pela piedade popular, que, apesar de diversa em todas as culturas, é sempre também muito semelhante, porque, no fim de contas, o coração do homem é o mesmo. É certo que a piedade popular tende para a irracionalidade e, às vezes, talvez mesmo para a exterioridade. No entanto, excluí-la, é completamente errado. Através dela, a fé entrou no coração dos homens, tornou-se parte dos seus sentimentos, dos seus costumes, do seu sentir e viver comum. Por isso a piedade popular é um grande património da Igreja. A fé fez-se carne e sangue. Seguramente a piedade popular deve ser sempre purificada, referida ao centro, mas merece a nossa estima; de modo plenamente real, ela faz de nós mesmos «Povo de Deus».

5. O tempo no Seminário é também e sobretudo tempo de estudo. A fé cristã possui uma dimensão racional e intelectual, que lhe é essencial. Sem tal dimensão, a fé deixaria de ser ela mesma. Paulo fala de uma «norma da doutrina», à qual fomos entregues no Baptismo (Rm 6, 17). Todos vós conheceis a frase de São Pedro, considerada pelos teólogos medievais como a justificação para uma teologia elaborada racional e cientificamente: «Sempre prontos a responder (…) a todo aquele que vos perguntar "a razão" (logos) da vossa esperança» (1 Ped 3, 15). Adquirir a capacidade para dar tais respostas é uma das principais funções dos anos de Seminário. Tudo o que vos peço insistentemente é isto: Estudai com empenho! Fazei render os anos do estudo! Não vos arrependereis. É certo que muitas vezes as matérias de estudo parecem muito distantes da prática da vida cristã e do serviço pastoral. Mas é completamente errado pôr-se imediatamente e sempre a pergunta pragmática: Poderá isto servir-me no futuro? Terá utilidade prática, pastoral? É que não se trata apenas de aprender as coisas evidentemente úteis, mas de conhecer e compreender a estrutura interna da fé na sua totalidade, de modo que a mesma se torne resposta às questões dos homens, os quais, do ponto de vista exterior, mudam de geração em geração e todavia, no fundo, permanecem os mesmos. Por isso, é importante ultrapassar as questões volúveis do momento para se compreender as questões verdadeiras e próprias e, deste modo, perceber também as respostas como verdadeiras respostas. É importante conhecer a fundo e integralmente a Sagrada Escritura, na sua unidade de Antigo e Novo Testamento: a formação dos textos, a sua peculiaridade literária, a gradual composição dos mesmos até se formar o cânon dos livros sagrados, a unidade dinâmica interior que não se nota à superfície, mas é a única que dá a todos e cada um dos textos o seu pleno significado. É importante conhecer os Padres e os grandes Concílios, onde a Igreja assimilou, reflectindo e acreditando, as afirmações essenciais da Escritura. E poderia continuar assim: aquilo que designamos por dogmática é a compreensão dos diversos conteúdos da fé na sua unidade, mais ainda, na sua derradeira simplicidade, pois cada um dos detalhes, no fim de contas, é apenas explanação da fé no único Deus, que Se manifestou e continua a manifestar-Se a nós. Que é importante conhecer as questões essenciais da teologia moral e da doutrina social católica, não será preciso que vo-lo diga expressamente. Quão importante seja hoje a teologia ecuménica, conhecer as várias comunidade cristãs, é evidente; e o mesmo se diga da necessidade duma orientação fundamental sobre as grandes religiões e, não menos importante, sobre a filosofia: a compreensão daquele indagar e questionar humano ao qual a fé quer dar resposta. Mas aprendei também a compreender e – ouso dizer – a amar o direito canónico na sua necessidade intrínseca e nas formas da sua aplicação prática: uma sociedade sem direito seria uma sociedade desprovida de direitos. O direito é condição do amor. Agora não quero continuar o elenco, mas dizer-vos apenas e uma vez mais: Amai o estudo da teologia e segui-o com diligente sensibilidade para ancorardes a teologia à comunidade viva da Igreja, a qual, com a sua autoridade, não é um pólo oposto à ciência teológica, mas o seu pressuposto. Sem a Igreja que crê, a teologia deixa de ser ela própria e torna-se um conjunto de disciplinas diversas sem unidade interior.

6. Os anos no Seminário devem ser também um tempo de maturação humana. Para o sacerdote, que terá de acompanhar os outros ao longo do caminho da vida e até às portas da morte, é importante que ele mesmo tenha posto em justo equilíbrio coração e intelecto, razão e sentimento, corpo e alma, e que seja humanamente «íntegro». Por isso, a tradição cristã sempre associou às «virtudes teologais» as «virtudes cardeais», derivadas da experiência humana e da filosofia, e também em geral a sã tradição ética da humanidade. Di-lo, de maneira muito clara, Paulo aos Filipenses: «Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor, isto deveis ter no pensamento» (4, 8). Faz parte deste contexto também a integração da sexualidade no conjunto da personalidade. A sexualidade é um dom do Criador, mas também uma função que tem a ver com o desenvolvimento do próprio ser humano. Quando não é integrada na pessoa, a sexualidade torna-se banal e ao mesmo tempo destrutiva. Vemos isto, hoje, em muitos exemplos da nossa sociedade. Recentemente, tivemos de constatar com grande mágoa que sacerdotes desfiguraram o seu ministério, abusando sexualmente de crianças e adolescentes. Em vez de levar as pessoas a uma humanidade madura e servir-lhes de exemplo, com os seus abusos provocaram devastações, pelas quais sentimos profunda pena e desgosto. Por causa de tudo isto, pode ter-se levantado em muitos, e talvez mesmo em vós próprios, esta questão: se é bom fazer-se sacerdote, se o caminho do celibato é sensato como vida humana. Mas o abuso, que há que reprovar profundamente, não pode desacreditar a missão sacerdotal, que permanece grande e pura. Graças a Deus, todos conhecemos sacerdotes convincentes, plasmados pela sua fé, que testemunham que, neste estado e precisamente na vida celibatária, é possível chegar a uma humanidade autêntica, pura e madura. Entretanto o sucedido deve tornar-nos mais vigilantes e solícitos, levando precisamente a interrogarmo-nos cuidadosamente a nós mesmos diante de Deus ao longo do caminho rumo ao sacerdócio, para compreender se este constitui a sua vontade para mim. É função dos padres confessores e dos vossos superiores acompanhar-vos e ajudar-vos neste percurso de discernimento. É um elemento essencial do vosso caminho praticar as virtudes humanas fundamentais, mantendo o olhar fixo em Deus que Se manifestou em Cristo, e deixar-se incessantemente purificar por Ele.

7. Hoje os princípios da vocação sacerdotal são mais variados e distintos do que nos anos passados. Muitas vezes a decisão para o sacerdócio desponta nas experiências de uma profissão secular já assumida. Frequentemente cresce nas comunidades, especialmente nos movimentos, que favorecem um encontro comunitário com Cristo e a sua Igreja, uma experiência espiritual e a alegria no serviço da fé. A decisão amadurece também em encontros muito pessoais com a grandeza e a miséria do ser humano. Deste modo os candidatos ao sacerdócio vivem muitas vezes em continentes espirituais completamente diversos; poderá ser difícil reconhecer os elementos comuns do futuro mandato e do seu itinerário espiritual. Por isso mesmo, o Seminário é importante como comunidade em caminho que está acima das várias formas de espiritualidade. Os movimentos são uma realidade magnífica; sabeis quanto os aprecio e amo como dom do Espírito Santo à Igreja. Mas devem ser avaliados segundo o modo como todos se abrem à realidade católica comum, à vida da única e comum Igreja de Cristo que permanece uma só em toda a sua variedade. O Seminário é o período em que aprendeis um com o outro e um do outro. Na convivência, por vezes talvez difícil, deveis aprender a generosidade e a tolerância não só suportando-vos mutuamente, mas também enriquecendo-vos um ao outro, de modo que cada um possa contribuir com os seus dotes peculiares para o conjunto, enquanto todos servem a mesma Igreja, o mesmo Senhor. Esta escola da tolerância, antes do aceitar-se e compreender-se na unidade do Corpo de Cristo, faz parte dos elementos importantes dos anos de Seminário.

Queridos seminaristas! Com estas linhas, quis mostrar-vos quanto penso em vós precisamente nestes tempos difíceis e quanto estou unido convosco na oração. Rezai também por mim, para que possa desempenhar bem o meu serviço, enquanto o Senhor quiser. Confio o vosso caminho de preparação para o sacerdócio à protecção materna de Maria Santíssima, cuja casa foi escola de bem e de graça. A todos vos abençoe Deus omnipotente Pai, Filho e Espírito Santo.

Vaticano, 18 de Outubro – Festa de São Lucas, Evangelista – do ano 2010.

Vosso no Senhor



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dia de Natal*

Diálogo entre o Pai Natal e o Menino Jesus

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Foi numa esquina qualquer que se encontraram o Pai Natal e o Menino Jesus. Enquanto aquele se preparava para trepar um prédio, com o seu saco às costas, este último, recém-nascido, descia à terra e oferecia-se inerme, num pobre estandarte, que cobria uma mísera janela.

– Quem és tu, Menino – disse o velho – e que fazes por aqui?! É a primeira vez que te vejo!

– Sou Jesus de Nazaré e ando há vinte séculos à procura de uma casa que me receba e, como há dois mil anos em Belém, não há quem me dê pousada.

– Pois não é de estranhar! Não vês que vens quase nu?! Porque não trazes roupas quentes, como as que eu tenho, para me proteger do frio do inverno?

– O calor com que me aqueço é o fogo do meu amor e o afecto dos que me amam.

– Eu trago muitos presentes, para os distribuir pelas casas das redondezas. E tu, que andas por aqui a fazer?

– Eu sou rico, mas fiz-me pobre, para os pobres enriquecer com a minha pobreza. Eu próprio sou o presente de quem me acolher. Não vim ensinar os homens a ter, mas a ser, porque quanto mais despojada é a vida humana, maior é aos olhos do Criador.

– E de onde vens e como vieste até aqui? Eu venho da Lapónia, lá para as bandas do pólo norte.

– Eu venho do céu, de onde é o meu Pai eterno, e vim ao mundo pelo sim de uma virgem, que me concebeu do Espírito Santo.

– Que coisa estranha! Nunca ouvi falar de ninguém que tenha nascido de uma virgem e assim tenha vindo ao mundo! E não tens nenhum animal que te transporte para tão longa viagem, como eu tenho estas renas?

– Um burrinho foi a minha companhia em Belém, e foi também o meu trono real, na entrada triunfal em Jerusalém.

– Um burro?! Não é grande coisa, para trono de um rei…

– O meu reino não é deste mundo e a sua entrada é tão estreita que os meus cortesãos, para lá entrarem, se têm que fazer pequeninos, porque destes é o meu reino.

– E que coisas ofereces? Que tesouros tens para dar? Que prometes?

– Trago a felicidade, mas escondida na cruz de cada dia; trago o céu, mas oculto no pó da terra; trago a alegria e a paz, mas no reverso das labutas do próprio dever; trago a eternidade, mas no tempo gasto ao serviço dos outros; trago o amor, mas como flor e fruto da entrega sacrificada.

– Pois eu trago as coisas que me pediram: jogos e brinquedos para os miúdos e, para os graúdos, saúde, prazer, riqueza e poder. Mas, por mais que lhes dê, nunca estão satisfeitos!

– A quem me dou, quer-me sempre mais na caridade que tem aos outros, porque é nos outros que eu quero que me amem a mim.

– Mais um enigma! De facto, somos muito diferentes, mas pelo menos numa coisa nos parecemos: ambos estamos sós, nesta noite de consoada!

– Eu nunca estou só, porque onde estou, está sempre o meu Pai e onde eu e o Pai estamos, está também o Amor que nós somos e estão aqueles que me amam.

– Bom, a conversa está demorada e ainda tenho muitas casas para assaltar, pela lareira, como manda a praxe.

– Eu estou à porta e bato e só entrarei na casa de quem liberrimamente me abrir a porta do seu coração e aí cearei e farei a minha morada.

– Pois sim, mas eu vou andando que já estou velho e cansado …

– Eu acabo de nascer e quem, mesmo sendo velho, renascer comigo, será como uma fonte de água viva a jorrar para a vida eterna.

O velho Pai Natal, resmungando, subiu ao telhado do luxuoso prédio, atirou-se pela chaminé abaixo e desapareceu.

Foi então que a janela onde estava o estandarte se abriu e uma pobre velhinha de rosto enrugado, como um antigo pergaminho, beijou o reverso da imagem do Deus Menino, que estremeceu de emoção. A seguir, encostou a vidraça, apagou a luz e, muito de mansinho, adormeceu. Depois, o Menino Jesus, sem a acordar, pegou nela ao colo e, fazendo do seu pendão um tapete mágico, levou-a consigo para o Céu.

* Os primeiros cristãos chamavam dies natalis, ou seja, natal, ao dia da sua morte, porque entendiam que esse era o dia do seu nascimento para a verdadeira vida.


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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Bento XVI alenta nova geração de católicos
sem complexos de inferioridade na política


Em Outubro, na sua mensagem pela 46.° Semana Social dos católicos italianos, o Papa Bento XVI explicou que para trabalhar pelo bem comum de um país e de toda a grande família humana é necessário que "surja uma nova geração de católicos, pessoas interiormente renovadas que se esforcem na actividade política sem complexos de inferioridade".

Assim o indicou na carta enviada ao Presidente da Conferência Episcopal Italiana e Arcebispo de Génova, o Cardeal Angelo Bagnasco, por ocasião do mencionado evento em Reggio Calabria com o tema "Uma agenda de esperança para o futuro do país".

No texto, com data de 12 de Outubro, divulgada pelo L'Osservatore Romano, o Santo Padre assinala que diante da crise económica global que também afecta a Itália e que gera nos jovens sentimentos de desesperança "é necessário reconhecer e sustentar com força e com actos a insubstituível função social da família, coração da vida afectiva e relacional, o melhor lugar no qual se assegura a ajuda, a atenção, a solidariedade, a capacidade de transmissão do património de valores às novas gerações".

"Por isso é necessário que todos os sujeitos institucionais e sociais se esforcem em assegurar à família eficazes medidas de apoio, dotando-a de recursos adequados e permitindo uma justa conciliação com o tempo de trabalho", acrescentou.

Ao falar do desenvolvimento humano integral, tema de sua encíclica Caritas in Veritate, o Papa ressalta que "fazer frente aos problemas actuais, tutelando a vida humana desde a concepção até a morte natural, defendendo a dignidade da pessoa, protegendo o ambiente e promovendo a paz, não é uma tarefa fácil, mas tampouco impossível, se mantivermos firme a confiança na capacidade do homem, amplia-se o conceito de razão e seu uso e cada um assume suas próprias responsabilidades".

Mover-se no mundo nesta perspectiva de responsabilidade, continua o Santo Padre, "comporta a disponibilidade a sair do próprio interesse exclusivo, para perseguir juntos o bem do país e da inteira família humana. A Igreja, quando reclama o horizonte do bem comum – categoria que leva sua doutrina social – se refere ao 'bem de todos nós', que 'não se busca por si mesmo, mas para as pessoas que fazem parte da comunidade social e que só nela podem realmente e mais eficazmente conseguir seu bem'".

Por outras palavras, explica Bento XVI, "o bem comum é o que constrói e qualifica a cidade dos homens, o critério fundamental da vida social e política, o fim do actuar humano e do progresso e, 'exigência de justiça e caridade', promoção do respeito aos direitos dos indivíduos e povos, além de relações caracterizadas pela lógica do dom. Isso encontra nos valores do cristianismo o 'elemento não só útil, mas também indispensável para a construção de uma boa sociedade e de um verdadeiro desenvolvimento humano integral'".

Por esta razão, exortou o Papa, "renovo o chamado para que surja uma nova geração de católicos, pessoas interiormente renovadas que se esforcem na actividade política sem complexos de inferioridade. Tal presença, certamente não se improvisa, permanece como o objectivo para o qual deve tender um caminho de formação intelectual e moral que, partindo das grandes verdades em torno de Deus, ao homem e ao mundo, ofereça critérios de julgamento e princípios éticos para interpretar o bem de todos e de cada um".

Bento XVI assinala que esta tarefa, a educação para formar consciências cristãs amadurecidas e assumir a responsabilidade política com competência profissional e espírito de serviço constitui "uma alta vocação, à qual a Igreja convida a responder com humildade e determinação".




Relatório à direcção da Confederação Nacional
das Associações de Família
sobre o visionamento prévio de dois filmes
a emitir pela RTP2

[ Apresentado por Heduíno Gomes à Direcção da Confederação Nacional das Associações de Família em Maio de 2005, na sequência do visionamento prévio pela CNAF de 2 filmes sobre a suposta «educação sexual» de crianças e jovens na RTP2.

Refere-se à operação lesiva do equilíbrio moral e psíquico de crianças e jovens montada por Manuel Falcão, então director do referido canal do Estado, e Teresa Paixão, produtora. ]

Ler em:






quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Imaculada Conceição

José Jacinto Ferreira de Farias, scj

Dogma proclamado a 8 de Dezembro de 1854 por Pio IX declara a santidade da Virgem Maria desde o primeiro momento da sua existência

1. O dogma da Imaculada Conceição, proclamado a 8.12.1854 por Pio IX (Bula “Ineffabilis Deus”), declara a santidade da Virgem Santa Maria desde o primeiro momento da sua existência, desde a sua Conceição, ou seja, que ela foi preservada desde sempre da mácula do pecado original, no qual nascem todos os filhos de Adão. Enquanto estes estão privados da graça divina, a Virgem Maria foi toda pura, santa e imaculada desde o início da sua vida. Esta foi desde sempre a convicção profunda da Igreja, que viu na Virgem Maria a ‘Nova Eva’ (S.Ireneu).

2. Apesar da sua reconhecida devoção a Nossa Senhora, homens como S. Bernardo, S. Alberto Magno, S. Boaventura e S. Tomás tiveram dificuldade em admitir a Imaculada Conceição, porque difícil de conciliar com o dogma da universalidade da Redenção.

Proclamar a Imaculada Conceição parecia implicar retirar a Virgem Maria da órbita da Redenção em Jesus Cristo, a qual, por ser necessária e absoluta, era tão universal como o pecado original. Se a Virgem Maria não estivesse incluída no número dos que contraíam o pecado de Adão, ficava então igualmente excluída da redenção, e esta não seria universal, pois não abrangeria todos os descendentes de Adão.

Perante esta alternativa, foram como que obrigados a negar o privilégio de Maria até ser possível conciliá-lo com o dogma da universalidade da redenção em Cristo.

3. A solução do problema foi dada pelo beato Duns Escoto (séc. XIV), segundo o qual a Imaculada Conceição não exclui a Virgem Maria da redenção, porque ela foi preventivamente redimida pelo seu próprio Filho. Ela foi antecipadamente redimida e por conseguinte preparada para a sua divina maternidade. Esta explicação acabou por ser recebida na teologia e nas declarações do magistério.

4. Como todos os dogmas, também a ‘Imaculada Conceição’ foi a solene proclamação da fé do povo de Deus, do sentir da Igreja, do que nós poderíamos chamar a ‘devoção popular’. A ‘Imaculada Conceição’ caracteriza o catolicismo em Portugal, tendo sido sob esta invocação Nossa Senhora proclamada por D. João IV Rainha e Padroeira de Portugal, no dia 25 de Março de 1646, título que nenhum regime, mesmo o republicano e o que surgiu de Abril de 1974, foi capaz de abolir.

Na Universidade de Coimbra, ela é a Padroeira, ainda hoje, e houve tempos em que defender esta verdade da fé era título de honra e compromisso de todo o lente daquela Universidade! Mas que significa para nós hoje este admirável mistério?

5. O dogma da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria foi a solene confirmação do mistério central da fé. A Virgem Maria foi pensada por Deus como a mediadora do mistério da Incarnação.

Porque chamada a ser a mediadora deste mistério, a Virgem Maria não podia ser pensada senão como a primeira totalmente redimida, e como a primeira redimida é que ela concebeu sem pecado o Filho de Deus, porque sem pecado foi concebida.

Ao acolher a Palavra do Anjo, a Virgem Maria permitiu que a Palavra eterna de Deus assumisse a carne do pecado e por causa desta assunção ela foi previamente redimida pelo seu próprio Filho. Por ela o Verbo de Deus entra na história, inaugurando o tempo da Graça e da Liberdade dos filhos de Deus.

A Virgem Maria abriu a porta do mundo para o Advento do Deus redentor, na carne da humanidade. Ela é por excelência a primeira na ordem da Redenção.

O dogma da Imaculada Conceição proclama que ela desde o início do seu ser não foi apenas envolvida pelo mistério da Graça da redenção prometida, mas a primeira redimida pelo seu Filho que ia gerar; este dogma toca, portanto, no centro do mistério da Redenção.

A ‘Imaculada Conceição’ mostra a Virgem Maria como a primeira na ordem da Redenção, Redenção esta que não pode acontecer sem ela. Sem a Imaculada Conceição da Virgem Maria não seria pensável a redenção, como vitória divinizante da natureza humana sobre o pecado do mundo.

6. A Virgem Maria é a primeira redimida: depois dela e por meio dela, todos são chamados a participar na vitória da redenção, através do baptismo, pelo qual o homem é regenerado, e chamado também a ser santo e imaculado na presença de Deus.

A Imaculada Conceição eleva a Virgem Maria a paradigma da antropologia cristã. Ela manifesta de um modo eminente a transfiguração do homem que se opera pela participação no mistério de Cristo, com o qual por graça o homem é chamado a configurar-se.

A Imaculada Conceição da Virgem Maria revela a ontológica transfiguração do ser e da existência na relação com o Verbo de Deus encarnado. Paradigma da antropologia cristã, a Imaculada Conceição é o caso eminente da redenção pela graça, a que ela corresponde, na plena liberdade do ‘ecce ancilla’, no mistério da Anunciação. Não apenas do ‘homem novo’, mas também da Igreja.

Mariano, com certeza, o dogma da ‘Imaculada Conceição’ é também eclesial, porque nela se espelha o que é o mistério da Igreja a qual, tendo na Virgem Imaculada a sua figura excelsa (cf. LG 53; 63), é também santa e imaculada, Mãe e Virgem puríssima dos seus filhos gerados nas águas do baptismo.

Por isso, com razão na ‘Imaculada Conceição’, a Igreja e todos os fiéis exultam de alegria, talvez como em nenhum outro dia, porque aí está o exemplo das maravilhas de Deus na história, do que Ele pode fazer na Igreja e na vida de cada crente se como a Virgem Santa Maria cada qual se colocar na mesma atitude de filial obediência e de amor, naquele cujo Nome é grande e que grandes coisas realizou na sua humilde serva! Bem-aventurada a nação que se honra por tê-la como Mãe e Padroeira!
 

sábado, 4 de dezembro de 2010

Um comentário e comentário ao comentário
sobre a Milícia de São Miguel

(Comentários publicados na nossa secção Breve Apresentação da Milícia de São Miguel)


bloguedasboasnoticias.blogspot.com disse...

Com todo o respeito pergunto: antes do cristianismo se tornar uma religião de conquista, não era pelo EXEMPLO DE VIDA que os cristãos procuravam "Moldar a Terra à Imagem do Céu"? Não vi nesta "Breve Apresentação" sequer uma alusão a isso: EXEMPLO DE VIDA! Terei lido mal?

Tudo de bom.

jose
 
3 de Dezembro de 2010 19:13


Nós dissemos...

Caro José,

Como disse, o texto que leu é uma breve apresentação. A sua preocupação do exemplo, entre outras questões, é referida, mas apenas referida, no texto desenvolvido. A breve apresentação apenas procura explicar o que é a Milícia e não o que é um bom cristão...

Damos como adquirido o facto de se ser cristão, procurando criar as condições de operacionalidade na sociedade para que as políticas do Estado se coadunem com a concepção cristã do mundo, definição que remetemos para os documentos do magistério da Igreja.

Quanto ao aspecto de vencer o mal pelo exemplo, entendemos que este método é insuficiente. A realidade é que existem forças organizadas contra a Igreja (maçonaria e outras) e por isso é necessário ir à luta no terreno contra essas forças. Infelizmente, não se trata de «conquista», como diz, mas já de autodefesa, pois a cristandade perdeu a iniciativa estratégica, no seu interior a favor de forças dissolutas e seitas, e no seu exterior a favor do islamismo.

A orientação da Milícia é, efectivamente, esta:
«A sua intervenção é activa e particularmente empenhada no combate de ideias, na cultura, na defesa dos valores cristãos na sociedade. A Milícia de São Miguel exerce o apostolado por todo o lado, no trabalho, na rua, na escola, na cultura, nas artes, no desporto, na política, na administração, tendo como meta impregnar de espírito evangélico a ordem temporal.»
Afonso



 
 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Bento XVI puxa as orelhas aos bispos italianos:
«Aprendam com São Francisco!»

Sandro Magister

Numa mensagem à hierarquia católica italiana, onde os opositores a Bento XVI continuam em posição de força, o Papa repreende-a e escreve que São Francisco compreendia bem o que é uma verdadeira reforma litúrgica.

Os últimos dois papas apresentavam a Igreja italiana e o seu episcopado como modelo. Contudo, há um domínio no qual a Igreja italiana não brilha: o da liturgia. É o que deixa compreender a severa lição de Bento XVI aos bispos italianos reunidos em assembleia de 8 a 11 de Novembro, sobre o tema da nova tradução do missal romano.

Na mensagem que dirigiu aos bispos nas vésperas da reunião, Bento XVI não se limitou a saudações e votos. Ele foi direito ao assunto e indicou os critérios de uma verdadeira reforma litúrgica.

Ler mais, incluindo os anexos no fim do artigo:




segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Faleceu o sacerdote presidente
da associação de exorcistas
fundada pelo Pe. Amorth


No passado 8 de Novembro, com a idade de 65 anos, faleceu o presidente da Associação Internacional de Exorcistas, Pe. Giancarlo Gramolazzo, depois de ter padecido uma grave enfermidade. Este organismo foi fundado em 1990 pelo exorcista da diocese de Roma e o mais conhecido do mundo, o Pe. Gabriele Amorth, quem foi seu presidente até ao ano 2000.

O Bispo Auxiliar de L'Aquila (Itália), Dom Giovanni D'Ercole, presidiu às exéquias do Pe. Gramolazzo na paróquia romana de Todos os Santos.

A Eucaristia foi concelebrada por 60 sacerdotes. Nela estiveram presentes os familiares e membros da Congregação fundada por São Luigi Orione, à qual pertencia o exorcista e o Bispo que presidiu a liturgia.

Também participaram alguns sacerdotes exorcistas e representantes da Associação Família da Imaculada, fundada pelo Pe. Gramolazzo.

A Rádio Vaticano esboçou um perfil deste presbítero que esteve à frente da Associação Internacional de Exorcistas desde ano 2000 e recorda que nasceu em Ortonovo na província de La Spezia. Uma nota de sua congregação recorda que "o Pe. Giancarlo foi exorcista e se dedicou a este delicado ministério por mais de 30 anos, tornando-se também presidente internacional dos exorcistas. Estava culturalmente preparado e era espiritualmente sensível, atento às necessidades do próximo.

Comunicadores devem ser construtores da verdade

Cardeal Bertone

Durante a homilia da Missa que se celebrou na Basílica de São Pedro e que deu início à terceira jornada de trabalho do Congresso de Imprensa Católica, o Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de estado do Vaticano, recordou aos comunicadores que sua missão é converter-se em construtores da verdade e promover a cultura de respeito pela dignidade da pessoa humana.

O Escritório de Imprensa da Conferência Episcopal do Chile informou que o Cardeal Bertone reflectiu em torno do Evangelho de São Lucas e se referiu ao valor da oração na vida da comunidade, porque "quem aprende a orar, aprende a bem viver".

Ao referir-se ao rol dos comunicadores como construtores de verdade, o Secretário de estado enfatizou que os meios de imprensa da Igreja devem ser capazes de transmitir incisivamente a mensagem do Evangelho, e que isso responde a uma urgente exigência da fé de hoje.



Um dos temas deste congresso católico foi o das novas tecnologias. Sobre este tema a Dra. Leticia Soberón explicou o tema de "A Imprensa Católica e a Internet", enquanto o vaticanista italiano Sandro Magister explicou que a relação entre a imprensa impressa e a Internet não é fácil, e expôs que a integração do texto com os recursos digitais multimédia é um elemento chave para o futuro do jornalismo.



Por sua parte o professor Daniel Arasa, da Faculdade de Comunicação Institucional da Universidade da Santa Cruz, expôs os principais desafios da cultura digital ao serviço da comunicação eclesiástica. Entre eles se referiu à necessidade de pôr o usuário no centro da comunicação, de assumir uma linguagem multimédia e sistemas multiplataforma integrados em uma estratégia global de comunicação e em constante monitoriamento.



Ao concluir o terceiro dia de reuniões, os diversos expositores responderam perguntas dos participantes em torno das realidades da presença digital em cada país, os critérios para assumir alguns dos desafios expostos e as possibilidades de compartilhar novas experiências e recursos.
 
 

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Bento XVI fala de São Martinho


Tendo nascido numa família pagã na Panónia, actual Hungria, por volta de 316, foi orientado pelo pai para a carreira militar. Ainda adolescente, Martinho encontrou o Cristianismo e, superando muitas dificuldades, inscreveu-se entre os catecúmenos para se preparar para o Baptismo.

Recebeu o sacramento por volta dos vinte anos, mas teve que permanecer ainda por muito tempo no exército, onde deu testemunho do seu novo género de vida: respeitador e compreensivo para com todos, tratava o seu criado como um irmão, e evitava as diversões vulgares.

Tendo-se despedido do serviço militar, foi a Poitiers, na França, junto do santo Bispo Hilário. Por ele ordenado diácono e presbítero, escolheu a vida monástica e deu origem, com alguns discípulos, ao mais antigo mosteiro conhecido na Europa, em Ligugé.

Cerca de dez anos mais tarde, os cristãos de Tours, tendo ficado sem pastor, aclamaram-no seu bispo. Desde então Martinho dedicou-se com zelo fervoroso à evangelização no campo e à formação do clero.

Mesmo sendo-lhe atribuídos muitos milagres, São Martinho é famoso sobretudo por um acto de caridade fraterna. Quando era ainda jovem soldado, encontrou na estrada um pobre entorpecido e trémulo de frio.

Pegou no seu manto e, cortando-o em dois com a espada, deu metade àquele homem. Nessa noite apareceu-lhe Jesus em sonho, sorridente, envolvido naquele mesmo manto.

Queridos irmãos e irmãs, o gesto caritativo de São Martinho inscreve-se na mesma lógica que levou Jesus a multiplicar os pães para as multidões famintas, mas sobretudo a deixar-se a si mesmo como alimento para a humanidade na Eucaristia, sinal supremo do amor de Deus. (...) É a lógica da partilha, com a qual se expressa de modo autêntico o amor ao próximo.

Ajude-nos São Martinho a compreender que só através de um compromisso comum de partilha, é possível responder ao grande desafio do nosso tempo: isto é, de construir um mundo de paz e de justiça, no qual cada homem possa viver com dignidade.

Isto pode acontecer se prevalecer um modelo mundial de autêntica solidariedade, capaz de garantir a todos os habitantes do planeta o alimento, as curas médicas necessárias, mas também o trabalho e os recursos energéticos, assim como os bens culturais, o saber científico e tecnológico.

Bento XVI (11.11.2007)



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Bispo anglicano augura conversão
de milhares de crentes ao catolicismo

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Henrique Neto:
«Sócrates está no topo da pirâmide
dos que dão cabo disto»

Numa grande entrevista concedida a Anabela Mota Ribeiro para o Jornal de Negócios, Henrique Neto, empresário e histórico do PS, diz que Sócrates "é um vendedor de automóveis" que "está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto".

Revela que Sócrates disse que cortar na Função Pública era atacar a base eleitoral do partido. A maçonaria "é a coisa pior que pode existir na política". "Ser empresário hoje é ser herói."

Acusando o primeiro-ministro de "mentira" e falando também de Mários Soares, Jorge Sampaio ou Pina Moura, Henrique Neto critica a actual forma de direcção do Partido Socialista: "Isto é uma máfia com experiência na maçonaria".



Educação

P. Virgílio do Nascimento Antunes, Reitor do Santuário de Fátima

(...) Somos hoje herdeiros de uma sociedade que deixou de educar, mas investiu a maior parte das suas energias na transmissão de conhecimentos, de ciência e até de erudição. O nosso país e mundo encheram-se de escolas, que são necessárias, mas não resolvem a questão da educação integral do ser humano. A família, ocupada com as questões económicas, obcecada pelas questões administrativas e marcada pelo desejo de ter e desfrutar dos bens pelos quais se mede a dignidade das pessoas, deixou as tarefas educativas para segundo plano ou, então, delegou na escola e no Estado essa sua nobre missão. O Estado, ideológico e omnipresente, pretende controlar todo o processo de educação e a propor um único projecto de educação, recusando na prática e cada vez mais às famílias a possibilidade de escolher o modelo educativo que mais lhes interessa.

O materialismo instalou-se na educação e tem consequências bem mais perniciosas para a pessoa humana do que o materialismo na economia ou nas outras áreas da gestão dos recursos que a terra nos dá. Na gestão dos recursos, é necessário saber fazer bem as contas para ver o que é suficiente, o que faz falta, o que sobra, o que existe para dividir. Na questão da educação não bastam as contas bem feitas, pois podemos ter os meios materiais todos, mas ter falta de alma, de vida, de princípios, de valores e as pessoas continuarem profundamente infelizes e sem perspectivas de realização.

Por que razão somos sociedades de escolaridade obrigatória para todos, com elevados níveis nos rankings do sucesso do ensino e temos tão grandes dificuldades a nível da satisfação pessoal, do relacionamento familiar ou comunitário? Por que razão havemos de lamentar o mau ambiente existente em algumas escolas, a insubordinação na relação entre os companheiros e com os mais velhos, professores ou pais? Por que razão continua a haver tantos casos de maus tratos domésticos, tanta violência, tão graves problemas nas ruas das cidades e aldeias?

As últimas décadas têm cavado um autêntico fosso educativo, tanto na escola, como na família e até na Igreja. E não é por se educar para a liberdade, pois toda a educação tem de ser para a liberdade e na liberdade. É sobretudo por se educar na irresponsabilidade e para a irresponsabilidade, bem flagrante nos últimos tempos no modo como se propõe a educação sexual nas escolas sem uma dimensão ética, e contrariando tantos dos princípios de muitas famílias.

Alicerçada na palavra do Senhor, hoje escutada, a educação da fé e a educação humana feita em ambiente cristão e sob inspiração cristã, têm de ser diferentes, têm de romper com um conjunto de preconceitos e propor ao mundo caminhos novos e ousados.

O general sírio Naamã, de quem nos falava a primeira leitura, de coração humilde, disponibilizou-se para mergulhar sete vezes nas águas do Jordão, a fim de curar a lepra que lhe desfazia o corpo. Reconheceu que em toda a terra não há outro Deus senão o Deus de Israel. Reconheceu que, afinal, a sua grandeza e força de general de pouco lhe valiam, pois a vida não é uma questão de poder ou de força para dominar os outros e vencê-los. Mais importante é dominar-se a si mesmo, vencer-se a si mesmo, reconhecendo de forma humilde que estamos nas mãos de Deus e precisamos de nos abrir fraternalmente aos outros.

Grande contraste com a atitude de homens e mulheres que fazem valer os seus direitos pela afirmação de si mesmos, pela superioridade dos seus títulos, pela força da violência ou pela quantidade dos seus bens. Grande contraste com a atitude das crianças ou dos jovens que exigem tudo dos seus pais, da sua escola, da sociedade, sem querer dar nada em troca. Grande contraste com a nossa atitude diante de Deus a quem pedimos insistentemente sem que isso nos leve ao compromisso de vida e ao testemunho fiel.

S. Paulo, na Segunda Epístola a Timóteo, falava-nos do seu grande ardor no anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Aceitou corajosamente sofrimentos e prisões para que a palavra da salvação fosse proclamada a todos os povos, porque para viver com Cristo é preciso morrer com Ele e para reinar com Cristo é preciso sofrer com Ele.

Grande contraste com a nossa atitude de fuga a todo o espírito de sacrifício, a todo o sofrimento, necessários para fazer da vida algo de grandioso e de belo. Grande contraste com a nosso desinteresse pelos valores espirituais da fé e do Evangelho que relegamos para últimos planos dentro dos nossos programas educativos familiares, escolares e eclesiais. Grande contraste com o modo como vemos crescer as crianças e os jovens anestesiados pela ilusão de uma vida onde nada falta, tudo se alcança sem esforço e onde se não exigem responsabilidades, nem compromissos, nem sacrifícios.

Cristo aceitou a paixão e a morte, em sinal de amor, para nos dar vida; Paulo e os outros discípulos aceitaram o martírio, em sinal de amor, para nos fazer chegar o Evangelho da vida; e nós não temos outro caminho senão crescer e ajudar a crescer os outros passando pelo caminho do amor, que é sempre caminho de cruz, fonte de vida.

No texto do Evangelho de S. Lucas encontrámos a manifestação de Jesus, que nos mostra o amor de Deus para connosco, naquele gesto da cura dos leprosos. “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”, disse ele aos leprosos, numa ordem que lhes mostra que a salvação não é um golpe de magia, mas um trabalho conjunto de Deus e do homem. “A tua fé te salvou”, diz Jesus ao homem que voltou para dar glória a Deus, uma palavra que demonstra a necessidade de colaboração do homem no processo de construção da sua felicidade e da sua vida.

No processo educativo é fundamental a acção de todos: dos pais, da escola, da sociedade; mas, acima de tudo, é fundamental a acção dos educandos, num clima de liberdade e de responsabilidade assumida. Numa família, numa escola, numa sociedade ou numa Igreja em que nada se exige e em que se recebe tudo feito, sem trabalho e sem esforço, não se educam pessoas para aguentar o peso da vida, nem para a dádiva de si mesmas na solidariedade e no amor, mas deixam-se crescer pessoas predispostas para tudo exigir dos outros, da família, da sociedade ou da Igreja.

Depois de narrar a cura dos dez leprosos, o texto do Evangelho apresentava-nos Jesus a lamentar o facto de apenas um ter voltado atrás para agradecer a Deus o dom gratuito que recebeu: “Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus”.

O processo educativo carece do sentido da gratidão aos homens e a Deus. É chocante vermos as crianças a crescer como se fossem o centro do mundo, a exigir aos pais tudo o que podem e não podem dar-lhes, e os pais a ceder, incapazes de resistir diante do poder avassalador da moda e do desejo de serem como todos os outros. Quem se sente senhor de todos os direitos nunca tem um obrigado a dizer, nunca sente necessidade de um gesto de gratidão.

O processo educativo carece do sentido de gratidão a Deus. A educação da fé no Deus Criador e Senhor de quem nos vem a vida, a saúde, a alegria de viver, o presente e o futuro, é uma urgência e tem de começar em casa logo nos primeiros anos de vida. Faz-se pela palavra, pela oração e pelas atitudes próprias da fé humilde, confiante e grata; faz-se também pela participação alegre e livre na vida da comunidade cristã, sobretudo na liturgia dominical e nos sacramentos.

A Nossa Senhora, a celeste educadora de Jesus e de todos nós, seus filhos, confiemos a solicitude de todos os educadores, para que encontrem os melhores caminhos para a educação de uma humanidade feliz e santa. Ámen.


Defesa da posição da Igreja na sociedade
exige formação dos cristãos

O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, pretende que os católicos insatisfeitos com o ordenamento jurídico português intervenham activamente na vida política, embora respeitando as regras do regime republicano.

Como todos os outros cidadãos, os católicos estão inseridos na «Res Publica» (coisa pública), pelo que “se hoje não estão de acordo com a legislação, então, concorram, vão às urnas, entrem no Governo, modifiquem a legislação, mas joguem o jogo republicano”, frisou o prelado em declarações à Ecclesia.

Perante uma sociedade contemporânea cada vez “mais complexa, em posições, contraposições, afrontamentos e discussões”, cabe à Igreja “entendê-la e entender-se nela”, referiu o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

Para D. Manuel Clemente, o que está em causa na intervenção da Igreja na sociedade nunca é o tipo de regime ou a cor política no poder, mas as posições que são assumidas.

É neste quadro que se entende a uma responsabilidade das comunidades cristãs de projectar uma República eficaz e moderna, tornando-a num espaço aberto e consensual.

O prelado recuou ao tempo da I República, sublinhando que a distinção entre “causa católica e causa partidária” já estava feita quando o Papa Leão XIII indicou à Igreja portuguesa que não confundisse as duas matérias.

“Os bispos portugueses, mesmo na reacção à Lei da Separação [20 de Abril de 1911], deixaram isso bem claro. O problema não era o regime, mas o modelo que ele queria impor para a organização católica e onde a Igreja não cabia”, reforçou D. Manuel Clemente.

Formação dos cristãos é urgente

A Implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, trouxe uma profunda alteração para a presença e papel da Igreja na sociedade portuguesa. A mudança de regime quebrava todo o tipo de relacionamento próximo entre a Igreja e o Estado que tinha sido construído durante os séculos da monarquia.

A entrada em vigor da chamada Lei de Separação seria o ponto de viragem, que levaria as instituições católicas a um trabalho de reconversão perante medidas que favoreciam a laicização.

Os anos a seguir à República foram anos de uma construção mobilizadora interna da própria Igreja, e isso é sempre o que nós temos a aprender nos momentos de conflitos de valores.

Num século de avanços e recuos nas relações entre a Igreja e o Estado, as instituições religiosas conviveram com a opressão da I República, a aproximação com o Estado Novo e a coexistência, ainda que com divergências, com a democracia pós-25 de Abril.

Um tempo cheio de mudanças, mas que trouxe também uma maior responsabilidade, no que diz respeito à participação das instituições católicas e dos fiéis na construção da sociedade.

Independentemente do tipo de Governo que está no poder, a defesa da posição da Igreja na sociedade de hoje só é possível através da formação dos cristãos.