domingo, 29 de novembro de 2009

Michael Jackson e a cultura da morte que se volta contra o ser humano

Hermes Rodrigues Nery 

Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté, Brasil.

 


O astro superpop Michael Jackson tornou-se prisioneiro do sucesso e foi vítima do sistema que o produziu. Simboliza bastante a crueldade e a desumanidade da cultura pós-moderna, com furor demoníaco. Em Moonwalker, a personagem autobiográfica ainda criança, com um bando de garotos, cantava agressivo: «eu sou cruel». Há também um Michael Jackson em fuga, primeiro dos fãs, depois de fantasmas e perseguidores, tendo de vestir uma máscara de burro para se disfarçar e, depois, projectando o burro para fora de si, animando-o e dançando com ele, depois de viajar numa espécie de nave espacial cantando ser um «demónio veloz». Um clipe terrível, evidenciando a mente conturbada, aterrorizada por ratos e aranhas, e outros seres das trevas, numa confusão de cores e medos, sustos e violências, em meio a canções melancólicas, depressivas, e cheias de desespero, além de um vazio de sentido de vida, que torna tudo assustador a sua volta.

O menino-prodígio que se destacou por uma voz magnífica deixou-se enredar na teia da indústria cultural e pela tentação do hiper-individualismo, que o fez sentir-se capaz de reconstruir o seu próprio corpo, buscando ser o que não era, perdendo o rumo de si num afã megalómano de poder, que acabou corroído por excentricidades e patologias.

Certamente a sua tragédia existencial assumiu uma proporção tão avultada, mais grave, em tantos aspectos, de outros tristes casos da história recente, especialmente da música pop. Para ser (e se manter) o número um (o sucesso pelo sucesso, tudo pelo pódio), Michael Jackson espoliou a sua própria alma e o seu corpo, viveu uma síndrome de Frankestein, tornando-se um andróide dançante, robotizado, despersonalizado, aberrante, e de estilo de vida suicida. É impressionante a desfiguração sofrida, como anulou sua identidade, não conseguindo mais controlo sobre o próprio rosto, em que tudo ia ficando artificial, como um homem-bolha, apartado de todos.

Acometido também pela síndrome de Peter Pan, recusou-se a crescer, a se amadurecer, a envelhecer, preferindo instalar-se na «terra do nunca», cujo infantilismo e exotismo o levaram a transgredir mais ainda, endividando-se cada vez mais para se livrar de escândalos sexuais com garotos, não dando conta de manter as suas fantasias milionárias. Notícias foram veiculadas dizendo que dormia numa câmara hiperbárica, para protelar o envelhecimento, pois tinha a obsessão da juventude.

Uma pergunta intrigante: porque terá sido Thriller o álbum mais vendido da história, com um conteúdo tão aterrorizante? Porque será que uma música com uma letra tão demoníaca teve tanto impacto? Uma letra que fala de «algo maligno a espreitar no escuro», em que é preciso gritar, e que «o terror toma o som antes de você fazê-lo», um terror (thriller) que congela e paralisa. Uma música com uma estrofe terrível como esta: «porque isso é o terror, noite de terror / e ninguém vai te salvar / da besta pronta para te atacar (...) numa noite assassina de terror.» Pois esta música, com uma letra tão medonha ficou para a história como a música de maior sucesso, a obter um recorde sem precedentes, certificado pelo Guinnes World Records e a fazer de Michael Jackson o homem mais conhecido do planeta.

O seu fenómeno é um sintoma de um tempo convulsivo, assombrado por uma «cultura da morte», que se volta contra o ser humano. A sua morte precoce e a reacção e histeria dos fãs em todas as partes do globo, comprovam que o mundo está mesmo dominado por ideologias do mal, sustentadas por meios de comunicação coniventes com estas forças, situação esta que requer um contraponto (e mesmo resistência), para que tais ameaças não comprometam de vez a própria Civilização.
 

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