Giulio Meotti, Gatestone, 4 de Novembro de 2018
Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano
Original em inglês: Europe's Crisis of Survival
Tradução: Joseph Skilnik
- Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece, os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados, como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição à superstição e a separação da Igreja do Estado. São questões críticas a serem enfrentadas se a Europa realmente quiser sobreviver.
- Na Alemanha Ocidental 42% das crianças com menos de seis anos têm um fundo migratório, de acordo com Departamento Federal de Estatística da Alemanha, conforme reportagem do jornal Die Welt.
- Ao observarmos a história, nos lugares onde a Igreja cochilou, se desviou do Evangelho, o Islão tirou vantagem e conquistou. É isso que estamos testemunhando na Europa, que a Igreja está cochilando e o Islão infiltrando-se... A Europa está a ser islamizada e isso afectará a África.» — Bispo Católico Andrew Nkea Fuanya da República dos Camarões.
Lamentavelmente, a «morte
da Europa» está-se aproximando, está-se tornando mais visível e é debatida com
mais frequência pelos escritores mais conhecidos.
«No
momento em que a literatura é cada vez mais marginalizada na vida pública,
Michel Houellebecq lembra, de maneira impactante, que os romancistas têm
condições de fornecerem insights
sobre a sociedade que 'experts' e especialistas não se dão conta», destacou
o New York
Times sobre o incontestavelmente mais importante autor francês.
Houellebecq «fala» através dos seus romances que são best sellers, como o Submission, bem como nas suas
palestras públicas. A última conferência da qual Houellebecq participou em
Bruxelas por ocasião da Premiação
Oswald Spengler em homenagem ao autor de The Decline of the West, foi
dedicada a esse tema. «Resumindo», Houellebecq salientou que «o mundo ocidental como um todo está
cometendo suicídio».
Porque a Europa está tão
obcecada com a sua própria demografia decadente e com a crescente imigração da
fertilidade da África?
Consoante com a matéria de Ross Douthat,
publicada no New York Times, «os programas de controle populacional
sustentados pelo Ocidente nos países em desenvolvimento» estão «voltando a
permear os debates» por três razões:
«Porque
as taxas de natalidade da África não diminuíram com a rapidez esperada pelos
especialistas ocidentais, porque a demografia europeia está seguindo a Lei de
Macron rumo à sepultura e porque os líderes europeus não estão tão optimistas
quanto à assimilação dos imigrantes como há pouquíssimos anos.»
Douthat está-se a referir
a dois discursos proferidos pelo presidente francês Emmanuel Macron. Em 2017
Macron chamou os problemas da África de «civilizacionais» e lamentou que eles «têm sete ou oito filhos por mulher». No segundo discurso
na Fundação Gates na semana passada, Macron realçou: «apresente-me uma mulher que decidiu, sendo primorosamente formada,
ter sete, oito ou nove filhos.» A questão implicitamente levantada por Macron
é: como a Europa pode administrar os seus educados cidadãos com as suas baixas
taxas de natalidade e ao mesmo tempo enfrentar a imensa fertilidade e imigração
africana e do Médio Oriente? Ao que tudo indica a Europa está mergulhada numa
batalha demográfica com o resto do mundo e só pode perder.
Enfrentando
este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece, os
europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também
perdeu toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados,
como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição à
superstição e a separação da Igreja do Estado.
São
questões críticas a serem enfrentadas se a Europa realmente quiser sobreviver.
O ilustre historiador Victor Davis Hanson escreveu recentemente:
«A julgar pelos grandes
determinantes históricos do poder civilizacional, combustível, energia,
educação, demografia, estabilidade política e poder militar, a Europa está em
declínio. Gasta apenas 1,4% do seu PIB em defesa... E com uma taxa de
fertilidade inferior a 1,6%, a Europa está lentamente encolhendo e
envelhecendo, daí a política imediatista de imigração de Angela Merkel que, ao
que tudo indica, vê a imigração também como solução para a crise demográfica e
um atalho para a mão-de-obra barata».
No
entanto, conforme Walter Laqueur enfatizou, «mesmo que o declínio da Europa seja irreversível,
não há razão para que se torne um colapso».
Como
evitar o colapso?
Num
recente encontro europeu, o ministro do interior da Itália, Matteo Salvini, que
encabeça o partido anti-imigração Liga, salientou:
«Tenho ouvido colegas
meus dizerem que a imigração é necessária porque a população da Europa está a ficar
mais velha, no entanto tenho um ponto de vista totalmente diferente... Acredito
que estou no governo para fazer com que os nossos jovens tenham a proporção de
filhos que tinham há alguns anos e não transplantar a juventude mais adequada
da África para a Europa. Talvez no Luxemburgo tenham que tomar uma medida
dessas, mas em Itália precisamos incentivar as pessoas a terem mais filhos e
não trazer os escravos modernos (da África) para substituírem os filhos que não
mais estamos tendo.
Na
sequência, abordando directamente uma interrupção do ministro das relações
exteriores do Luxemburgo, Jean Asselborn, Salvini continuou:
«Eu
respondo com toda a tranquilidade ao seu ponto de vista que é diferente do
meu... Se no Luxemburgo vocês precisam de uma nova imigração, eu prefiro manter
a Itália para os italianos e começarmos novamente a ter mais filhos.»
Salvini,
evidentemente, sabe o que espera o futuro da Itália. Se nada mudar, a população
da Itália poderá entrar em colapso e chegar a pouco mais de 16 milhões de
habitantes, se comparado com os 59 milhões de hoje. Essa preocupante projecção
surgiu este ano no «Festival de Estatística e Demografia» que acontece todos os
anos em Itália, onde na Universidade de Roma o
professor Matteo Rizzolli salientou:
«É uma
previsão para daqui a cem anos, mesmo que tenhamos 8 milhões de habitantes em
menos de 20 anos, se continuarmos agindo dessa maneira, a projecção não ajudará
em nada no sentido de promover o crescimento na taxa de natalidade».
O
establishment da Europa está, portanto, bem dividido no que diz respeito aos
assim chamados «europeístas», que acreditam que os novos migrantes são necessários
para evitar o colapso demográfico da UE e os «eurocéticos» que querem dar a
volta por cima por conta própria. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán,
por exemplo, pediu aos europeus que interrompam o «declínio
demográfico»
investindo mais nas famílias tradicionais. O arcebispo católico italiano Gian
Carlo Perego realçou:
«O desafio da Itália é o
de conciliar jovens que vêm de outros lugares com um país que está morrendo,
para começar uma nova história. Se fecharmos a porta aos migrantes,
desapareceremos».
Salvini
apresentou mais uma ideia numa entrevista ao jornal The Times:
«Um
país que não tem filhos está fadado a morrer... Criámos o ministério da Família
para trabalhar na questão da fertilidade, creches, sistema fiscal que leve em
conta famílias com muitos filhos. No fim do seu mandato, o governo será
avaliado segundo o número de recém-nascidos mais do que em relação à dívida
pública».
O que está em jogo, salientou
Salvini, é a «tradição, a história e a identidade da Itália», a esquerda usa a
crise da fertilidade como «desculpa» para «importar imigrantes».
Outro
bispo católico, Andrew Nkea Fuanya, de Mamfe, República dos Camarões,
recentemente disse o seguinte no tocante às baixas taxas de
natalidade da Europa:
«É uma
questão de grande importância. E atrevo-me a dizer que em especial, tendo como
pano de fundo a invasão islâmica, se observarmos a história nos lugares onde a
Igreja cochilou, se desviou do Evangelho, o Islão tirou vantagem e conquistou.
É isso que estamos testemunhando na Europa, que a Igreja está cochilando e o
Islão se infiltrando... A Europa está sendo islamizada e isso afectará a África».
O
declínio e a transformação da Europa também podem ser vistos em França. Segundo novas
estatísticas libertadas
pelo Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos de França, Mohammed
e vários outros nomes tradicionalmente muçulmanos agora estão no topo da lista
dos nomes mais populares de bebés no departamento francês de Seine-Saint-Denis
(1,5 milhão
de residentes). Vale salientar que dois jornalistas do influente jornal Le
Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme acabam de publicar um livro
intitulado Inch'allah:
l'islamisation à visage découvert («Com a Graça de Alá: A Face Exposta da
Islamização»), uma investigação sobre a «islamização» na região de
Seine-Saint-Denis.
Nesse
ínterim, uma investigação publicada em Julho pela revista semanal L'Express mostrou
que em França, «entre os anos de 2000 e 2016, o número de crianças com pelo
menos um dos pais estrangeiros subiu de 15% para 24%». O jornal Die Welt publicou
que de acordo com o Departamento Federal de Estatística, na Alemanha Ocidental
42% das crianças com menos de seis anos têm um fundo migratório.
A
imigração em massa para a Europa, sem nenhum tipo de critério, parece ter sido
mais prejudicial do que benéfico. escreveu
Walter Laqueur:
«... a imigração
descontrolada não foi a única razão para o declínio da Europa. Mas, somada a
outras tribulações do continente levou a uma profunda crise, seria necessário
um milagre para tirar a Europa dessa enrascada».
Tanto Matteo
Salvini como Michel
Houellebecq salientaram
que o dilema da Europa envelhecida e cansada não é uma questão partidária ou
eleitoral, é civilizacional. Essa questão também decidirá o futuro da União
Europeia, cuja política de fronteiras abertas poderá detonar.
O
tempo está-se a esgotar. Conforme salientou Houellebecq num discurso durante a cerimónia da
entrega do Prémio Frank Schirrmacher:
«O
avanço do Islão está apenas a começar, visto que a demografia está do lado do
Islão e porque a Europa, que deixou de ter filhos, entrou num processo de
suicídio. E na realidade não se trata de um suicídio lento. Uma vez atingida a
taxa de natalidade de 1,3 ou 1,4, na realidade, as coisas correrão a toque de
caixa».
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