terça-feira, 6 de novembro de 2018

Crise de sobrevivência da Europa


Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece,
os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu
toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados,
como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição
à superstição e a separação da Igreja do Estado. São questões críticas a serem enfrentadas
se a Europa realmente quiser sobreviver. (Imagem: Pixabay)

Giulio Meotti, Gatestone, 4 de Novembro de 2018
Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano


Original em inglês: Europe's Crisis of Survival 

Tradução: Joseph Skilnik

  • Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece, os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados, como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição à superstição e a separação da Igreja do Estado. São questões críticas a serem enfrentadas se a Europa realmente quiser sobreviver.
  • Na Alemanha Ocidental 42% das crianças com menos de seis anos têm um fundo migratório, de acordo com Departamento Federal de Estatística da Alemanha, conforme reportagem do jornal Die Welt.
  • Ao observarmos a história, nos lugares onde a Igreja cochilou, se desviou do Evangelho, o Islão tirou vantagem e conquistou. É isso que estamos testemunhando na Europa, que a Igreja está cochilando e o Islão infiltrando-se... A Europa está a ser islamizada e isso afectará a África.» — Bispo Católico Andrew Nkea Fuanya da República dos Camarões.
«O vislumbre de que a Europa se torne um museu ou um parque de diversões cultural para o novo rico da globalização não é de todo absurdo.» Essa reflexão em relação à Europa como algo parecido com um vasto parque temático cultural foi apresentada pelo já falecido historiador Walter Laqueur que, devido à sua perspicaz previsão sobre a crise da Europa, é chamado de «indispensável pessimista.» Laqueur foi um dos primeiros a compreender que o actual impasse em que se encontra o velho mundo vai muito além da economia. A questão é que os dias de pujança da Europa já se foram. Devido às baixas taxas de natalidade, a Europa está encolhendo drasticamente. Se essas tendências continuarem salientava Laqueur, em cem anos a população da Europa «será somente uma fracção do que é hoje e em duzentos alguns países poderão até já ter desaparecido».

Lamentavelmente, a «morte da Europa» está-se aproximando, está-se tornando mais visível e é debatida com mais frequência pelos escritores mais conhecidos.

«No momento em que a literatura é cada vez mais marginalizada na vida pública, Michel Houellebecq lembra, de maneira impactante, que os romancistas têm condições de fornecerem insights sobre a sociedade que 'experts' e especialistas não se dão conta», destacou o New York Times sobre o incontestavelmente mais importante autor francês. Houellebecq «fala» através dos seus romances que são best sellers, como o Submission, bem como nas suas palestras públicas. A última conferência da qual Houellebecq participou em Bruxelas por ocasião da Premiação Oswald Spengler em homenagem ao autor de The Decline of the West, foi dedicada a esse tema. «Resumindo», Houellebecq salientou que «o mundo ocidental como um todo está cometendo suicídio».

Porque a Europa está tão obcecada com a sua própria demografia decadente e com a crescente imigração da fertilidade da África?

Consoante com a matéria de Ross Douthat, publicada no New York Times, «os programas de controle populacional sustentados pelo Ocidente nos países em desenvolvimento» estão «voltando a permear os debates» por três razões:

«Porque as taxas de natalidade da África não diminuíram com a rapidez esperada pelos especialistas ocidentais, porque a demografia europeia está seguindo a Lei de Macron rumo à sepultura e porque os líderes europeus não estão tão optimistas quanto à assimilação dos imigrantes como há pouquíssimos anos.»

Douthat está-se a referir a dois discursos proferidos pelo presidente francês Emmanuel Macron. Em 2017 Macron chamou os problemas da África de «civilizacionais» e lamentou que eles «têm sete ou oito filhos por mulher». No segundo discurso na Fundação Gates na semana passada, Macron realçou: «apresente-me uma mulher que decidiu, sendo primorosamente formada, ter sete, oito ou nove filhos.» A questão implicitamente levantada por Macron é: como a Europa pode administrar os seus educados cidadãos com as suas baixas taxas de natalidade e ao mesmo tempo enfrentar a imensa fertilidade e imigração africana e do Médio Oriente? Ao que tudo indica a Europa está mergulhada numa batalha demográfica com o resto do mundo e só pode perder.

Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece, os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados, como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição à superstição e a separação da Igreja do Estado.

São questões críticas a serem enfrentadas se a Europa realmente quiser sobreviver. O ilustre historiador Victor Davis Hanson escreveu recentemente:

«A julgar pelos grandes determinantes históricos do poder civilizacional, combustível, energia, educação, demografia, estabilidade política e poder militar, a Europa está em declínio. Gasta apenas 1,4% do seu PIB em defesa... E com uma taxa de fertilidade inferior a 1,6%, a Europa está lentamente encolhendo e envelhecendo, daí a política imediatista de imigração de Angela Merkel que, ao que tudo indica, vê a imigração também como solução para a crise demográfica e um atalho para a mão-de-obra barata».

No entanto, conforme Walter Laqueur enfatizou, «mesmo que o declínio da Europa seja irreversível, não há razão para que se torne um colapso».

Como evitar o colapso?

Num recente encontro europeu, o ministro do interior da Itália, Matteo Salvini, que encabeça o partido anti-imigração Liga, salientou:

«Tenho ouvido colegas meus dizerem que a imigração é necessária porque a população da Europa está a ficar mais velha, no entanto tenho um ponto de vista totalmente diferente... Acredito que estou no governo para fazer com que os nossos jovens tenham a proporção de filhos que tinham há alguns anos e não transplantar a juventude mais adequada da África para a Europa. Talvez no Luxemburgo tenham que tomar uma medida dessas, mas em Itália precisamos incentivar as pessoas a terem mais filhos e não trazer os escravos modernos (da África) para substituírem os filhos que não mais estamos tendo.

Na sequência, abordando directamente uma interrupção do ministro das relações exteriores do Luxemburgo, Jean Asselborn, Salvini continuou:

«Eu respondo com toda a tranquilidade ao seu ponto de vista que é diferente do meu... Se no Luxemburgo vocês precisam de uma nova imigração, eu prefiro manter a Itália para os italianos e começarmos novamente a ter mais filhos.»

Salvini, evidentemente, sabe o que espera o futuro da Itália. Se nada mudar, a população da Itália poderá entrar em colapso e chegar a pouco mais de 16 milhões de habitantes, se comparado com os 59 milhões de hoje. Essa preocupante projecção surgiu este ano no «Festival de Estatística e Demografia» que acontece todos os anos em Itália, onde na Universidade de Roma o professor Matteo Rizzolli salientou:

«É uma previsão para daqui a cem anos, mesmo que tenhamos 8 milhões de habitantes em menos de 20 anos, se continuarmos agindo dessa maneira, a projecção não ajudará em nada no sentido de promover o crescimento na taxa de natalidade».

O establishment da Europa está, portanto, bem dividido no que diz respeito aos assim chamados «europeístas», que acreditam que os novos migrantes são necessários para evitar o colapso demográfico da UE e os «eurocéticos» que querem dar a volta por cima por conta própria. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, por exemplo, pediu aos europeus que interrompam o «declínio demográfico» investindo mais nas famílias tradicionais. O arcebispo católico italiano Gian Carlo Perego realçou:

«O desafio da Itália é o de conciliar jovens que vêm de outros lugares com um país que está morrendo, para começar uma nova história. Se fecharmos a porta aos migrantes, desapareceremos».

Salvini apresentou mais uma ideia numa entrevista ao jornal The Times:

«Um país que não tem filhos está fadado a morrer... Criámos o ministério da Família para trabalhar na questão da fertilidade, creches, sistema fiscal que leve em conta famílias com muitos filhos. No fim do seu mandato, o governo será avaliado segundo o número de recém-nascidos mais do que em relação à dívida pública».

O que está em jogo, salientou Salvini, é a «tradição, a história e a identidade da Itália», a esquerda usa a crise da fertilidade como «desculpa» para «importar imigrantes».

Outro bispo católico, Andrew Nkea Fuanya, de Mamfe, República dos Camarões, recentemente disse o seguinte no tocante às baixas taxas de natalidade da Europa:

«É uma questão de grande importância. E atrevo-me a dizer que em especial, tendo como pano de fundo a invasão islâmica, se observarmos a história nos lugares onde a Igreja cochilou, se desviou do Evangelho, o Islão tirou vantagem e conquistou. É isso que estamos testemunhando na Europa, que a Igreja está cochilando e o Islão se infiltrando... A Europa está sendo islamizada e isso afectará a África».

O declínio e a transformação da Europa também podem ser vistos em França. Segundo novas estatísticas libertadas pelo Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos de França, Mohammed e vários outros nomes tradicionalmente muçulmanos agora estão no topo da lista dos nomes mais populares de bebés no departamento francês de Seine-Saint-Denis (1,5 milhão de residentes). Vale salientar que dois jornalistas do influente jornal Le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme acabam de publicar um livro intitulado Inch'allah: l'islamisation à visage découvert («Com a Graça de Alá: A Face Exposta da Islamização»), uma investigação sobre a «islamização» na região de Seine-Saint-Denis.

Nesse ínterim, uma investigação publicada em Julho pela revista semanal L'Express mostrou que em França, «entre os anos de 2000 e 2016, o número de crianças com pelo menos um dos pais estrangeiros subiu de 15% para 24%». O jornal Die Welt publicou que de acordo com o Departamento Federal de Estatística, na Alemanha Ocidental 42% das crianças com menos de seis anos têm um fundo migratório.

A imigração em massa para a Europa, sem nenhum tipo de critério, parece ter sido mais prejudicial do que benéfico. escreveu Walter Laqueur:

«... a imigração descontrolada não foi a única razão para o declínio da Europa. Mas, somada a outras tribulações do continente levou a uma profunda crise, seria necessário um milagre para tirar a Europa dessa enrascada».

Tanto Matteo Salvini como Michel Houellebecq salientaram que o dilema da Europa envelhecida e cansada não é uma questão partidária ou eleitoral, é civilizacional. Essa questão também decidirá o futuro da União Europeia, cuja política de fronteiras abertas poderá detonar.

O tempo está-se a esgotar. Conforme salientou Houellebecq num discurso durante a cerimónia da entrega do Prémio Frank Schirrmacher:

«O avanço do Islão está apenas a começar, visto que a demografia está do lado do Islão e porque a Europa, que deixou de ter filhos, entrou num processo de suicídio. E na realidade não se trata de um suicídio lento. Uma vez atingida a taxa de natalidade de 1,3 ou 1,4, na realidade, as coisas correrão a toque de caixa».





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