quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Migração em massa: «A solução fatal da UE»


No corrente ano, o chanceler austríaco Sebastian Kurz (segundo à esquerda)
foi convidado a juntar-se aos líderes dos quatro países do «Grupo de Visegrád»

(República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia) na cimeira de 21 de Junho.
No topo da agenda estavam os problemas da migração em massa
e a protecção das fronteiras. (Imagem: Chancelaria Federal da Áustria).

Giulio Meotti, Gatestone, 29 de Julho de 2018

Original em inglês: Mass Migration: «The Fatal Solvent of the EU»

Hoje, 510 milhões de europeus vivem na União Europeia, 1,3 biliões de africanos estão de olho nela. Se os africanos seguirem o exemplo de outras partes do mundo em desenvolvimento como os mexicanos nos EUA, «em trinta anos... a Europa terá entre 150 a 200 milhões de afro-europeus, em comparação com os 9 milhões de hoje». Smith chamou a este cenário «Euráfrica».
  • O controverso sistema de quotas para migrantes já deu com os burros n'água. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos condenou a Hungria devido à detenção de migrantes. Os governos europeus não podem conter, deportar, deter e repatriar os migrantes. O que sugerem as autoridades em Bruxelas? Trazer todos para a Europa?
  • Os judeus franceses são vítimas de um tipo de limpeza étnica segundo um manifesto assinado entre outros pelo ex-presidente francês Nicholas Sarkozy e pelo ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls.
«Longe de levar à união, a crise migratória da Europa está a levar à divisão», escreveu recentemente o historiador da Universidade de Stanford Niall Ferguson. «Acredito cada vez mais que o problema da migração será visto pelos futuros historiadores como a solução fatal da UE». Semana após semana a previsão de Ferguson, ao que tudo indica, está a tornar-se realidade.

A Europa não só continua a fragmentar-se à medida que o sentimento anti-imigração arrebanha força política mas também, em consequência da crise migratória, a zona interna sem fronteiras da UE, cereja do bolo mais apreciada da Europa pós-guerra, já está «ameaçada» pelo governo italiano, entre outros, como por exemplo, o governo da Áustria.

A imigração também está redefinindo o contrato intra-UE.

O assim chamado «Grupo de Visegrád» formado pela República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia, recentemente contestou a defesa das fronteiras da UE. «Temos que ter uma Europa capaz de nos defender». O chanceler austríaco Sebastian Kurz destacou a mesma coisa, ao ser convidado a participar no encontro de Visegrád.

O novo governo populista da Itália também abraçou a política de linha dura, depois de a Itália confirmar a chegada de mais de 700 mil migrantes ao seu litoral nos últimos cinco anos. O ministro do interior da Itália Matteo Salvini recentemente fechou os portos da Itália às embarcações com migrantes. Na Alemanha, após a chanceler alemã trocar farpas, no tocante à imigração, com o ministro do interior Horst Seehofer, a política sobre os migrantes também poderá levar ao «fim do mandato de Merkel».

«O novo governo populista da Itália assinala um enorme desafio ao status quo europeu, mas não no aspecto que a maioria dos observadores previam no começo», comentou recentemente o autor Walter Russell Mead no The Wall Street Journal. «O governo de coligação suspendeu o desafio à política do euro. Optou por se voltar para uma matéria sobre a qual o establishment europeu é mais vulnerável: a migração».

O consenso político europeu, como um todo, está a fragmentar-se sob o impacto sísmico da onda de migrantes. A migração para a Europa tornou-se um problema político «delicado como sempre», conforme acaba de salientar o New York Times em relação ao debate que está a ocorrer na União Europeia. O presente problema da UE aparenta vir de uma dormência que tomou conta das elites políticas que se recusam a levar em conta os problemas dos seus cidadãos que vieram na esteira da maciça imigração, sem nenhum tipo de critério.

A migração em massa dos últimos anos simplesmente criou gigantescos problemas para a estabilidade interna da Europa. Primeiro houve a ameaça à segurança. De acordo com um novo levantamento da Heritage Foundation:

«Virtualmente mil pessoas foram feridas ou mortas em ataques terroristas concluidos por candidatos a asilo ou por refugiados desde 2014. Nos últimos quatro anos, 16% das conspirações islamistas na Europa tiveram como pivô candidatos a asilo ou refugiados. O ISIS tem conexão directa com a maioria das conspirações», sendo a Alemanha o maior alvo e os sírios os mais frequentemente envolvidos se comparados a qualquer outra nacionalidade. Aproximadamente três quartos dos conspiradores cometem os atentados ou têm os planos frustrados, isto nos dois primeiros anos após a sua chegada à Europa.

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«Desde Janeiro de 2014, 44 refugiados ou candidatos a asilo estiveram envolvidos em 32 ataques terroristas islamistas na Europa. Os ataques feriram 814 pessoas e mataram outras 182».Há também um grave desafio à coexistência étnica e religiosa proveniente da imigração. Os judeus franceses são vítimas de um tipo de limpeza étnica segundo um manifesto assinado, entre outros, pelo ex-presidente francês Nicholas Sarkozy e pelo ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls. «Dez por cento dos cidadãos judeus da região de Paris foram recentemente forçados a mudarem-se porque não estavam mais seguros em determinados conjuntos habitacionais» assinalou o manifesto. «Esta é uma limpeza étnica silenciosa».

A ameaça que a Europa enfrenta e continuará a enfrentar caso se recuse a fechar e controlar as fronteiras é examinada por Stephen Smith, especialista em África e admirado pelo presidente francês Emmanuel Macron, no seu novo livro, A Corrida para a Europa: a Jovem África a Caminho do Velho Mundo. Hoje, observa ele, 510 milhões de europeus vivem na União Europeia, 1,3 biliões de africanos estão de olho nela. «Em trinta e cinco anos, 450 milhões de europeus estarão diante de cerca de 2,5 biliões de africanos de olho nela, ou seja, cinco vezes mais», prevê Smith. Se os africanos seguirem o exemplo de outras partes do mundo em desenvolvimento como os mexicanos nos EUA, «em trinta anos», segundo Smith, «a Europa terá entre 150 a 200 milhões de afro-europeus, em comparação com os 9 milhões de hoje». Smith chamou a esse cenário «Euráfrica». A maior onda de migração da Europa desde a Segunda Guerra Mundial também se tornou um problema cada vez mais urgente, à medida que as populações autóctones da Europa continuam envelhecendo e encolhendo.

O controverso sistema de quotas para migrantes já deu com os burros n'água. Na realidade os governos europeus também não têm condições de deportar os migrantes. Em 2012 o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECHR) condenou o governo italiano e ordenou o pagamento de milhares de euros a um punhado de imigrantes deportados para a Líbia. As autoridades italianas haviam interceptado os migrantes no Mar Mediterrâneo quando tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa vindos da Líbia. Três anos depois, o Tribunal Europeu novamente condenou o governo italiano por deportar migrantes. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos também condenou a Espanha num julgamento pela expulsão de um grupo de 75 a 80 migrantes do enclave de Melilla. O ECHR então condenou a Hungria devido à detenção de migrantes. A Europa não pode conter, deportar, deter e repatriar os migrantes. O que sugerem as autoridades em Bruxelas? Trazer todos para a Europa?

Andrew Michta, reitor do College of International and Security Studies do George C. Marshall European Center for Security Studies, escreveu recentemente que diante dessa migração em massa as democracias europeias arriscam as suas próprias «decomposições». Não veremos apenas a «divisão» da frágil União Europeia, veremos também a da Civilização ocidental.

Tradução: Joseph Skilnik





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