Plinio Maria Solimeo, IPCO, 17 de Julho de 2018
Segundo o prestigioso jornal «Economist», isso começa a mudar: «Desde os ataques de 11 de Setembro, a direita norte-americana desenvolveu um fascínio pela Idade Média e pela Renascença em particular, com a ideia do Ocidente como uma civilização que se estava defendendo de um desafio do Oriente. Essa tendência tem sido estimulada pela descoberta do movimento das suas contrapartes europeias que usavam imagens medievais e de cruzados desde o século XIX.»
Charles Martel na
batalha de Poitiers (732), obra de Charles de Steuben (Museu de História da França, Versailles). |
Respondendo a uma pergunta sobre o que o levou a escrever o seu livro, ele explica: «Eu estava a estudar o papado do século XIII. E fui inspirado pelo que estava a ler. Era todo um mundo que não havia sido ainda investigado […]. Somos abençoados na história medieval. Eles [os medievais] tinham-se excedido nas operações de escrita de cartas. Havia cartas e manuscritos papais. […] É um tesouro de registos da Corte, de registos monárquicos e de crónicas».
Por isso, Jones afirma: «A Idade Média tem um papel na história do mundo moderno. Nós tendemos a vê-la como um mundo obscuro, de dogma e opressão, pelo que só agora entendemos o que significa liberdade.» O escritor faz então esta afirmação tantas vezes já repetida: «A visão da Idade Média como um período sombrio vem de um cepticismo moderno muito anticatólico.»
Para evitar equívocos, esclarece: «Eu não romantizo excessivamente a Idade Média como uma utopia.» Mas vê a era medieval como a de uma civilização sacramental e cristianizada. Pelo que afirma: «Nós somos tendentes a imaginar o catolicismo como vida privada. O catolicismo pede uma civilização da caridade. A Idade Média pode-nos ajudar a ver isso de novo.»
Hoje em dia fala-se muito em igualdade. É um dogma do mundo moderno. Jones explica: «A modernidade tem uma noção específica de igualdade. Vê a desigualdade [entre as pessoas] como fonte inerente de conflito e competição. No cristianismo, as desigualdades levam à paz. Nós vemos diferenças na família: manifestam-se na procura do bem comum». E ainda: “Usei o exemplo de um pai e um filho, dizendo que eles alcançam o bem comum através de diferentes papéis.» Quer dizer, as diferenças entre ambos os fazem se complementar e completar-se, o que é muito diferente do jargão esquerdista.
Jones afirma: «No mundo moderno, entende-se por paz fazer compromissos, enquanto na Idade Média a paz obtinha-se pelo modo de lidar com as diferenças de maneira adequada e caridosa. Enquanto os modernos vêem [as desigualdades como] uma violação dos direitos, na Idade Média consistiam em se restabelecer as diferenças de modo pacífico. O mundo moderno é céptico. Os medievais não tinham cinismo em relação à doação mútua. Por exemplo, há [hoje em dia] conflitos entre pai e filhos, porque não são propriamente diferentes. A mesmice é uma fonte de conflito. Apenas essa ideia seria proveitosa para a nossa sociedade meditar, quando considerarmos como a cultura popular se tornou infantilizada».
O autor trata também no seu livro do tão difamado tema da Inquisição, abordando o tema da Inquisição Francesa do século XIII. Jones afirma: «Há uma visão polémica e anticatólica da Inquisição. Naquela época havia muito pouco interesse em saber o que as pessoas conservavam nas suas mentes. O problema era se [na manifestação das ideias] havia rejeição da ordem social e se a heresia se tornava pública. Uma investigação poderia começar, não havia interesse em pegar ou enganar as pessoas. Na maioria das vezes, a penalidade era a correcção. Temos a nossa própria versão da Inquisição e da heresia com os mobs do Twitter».
E conclui: «Precisamos ampliar a nossa imaginação. A tentativa moderna de um mundo sem Deus vai falhar. Haverá uma concepção cristã de ordem social, mas não o mesmo que a Idade Média […]. O meu livro visa afastar os leitores do mundo ao seu redor, e a procurar vê-lo a partir de um ponto de vista mais elevado [como foi o mundo medieval]. Isso nos salva do desespero. As coisas mudam. A esperança é uma virtude. O bom e o verdadeiro vencerão».
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