segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Nota do Secretariado da Milícia de São Miguel

OS ACTUAIS MOVIMENTOS ESPONTÂNEOS DE PROTESTO,
A SUA CARACTERIZAÇÃO E ENQUADRAMENTO
E A OPOSIÇÃO QUE LHES É MOVIDA
PELAS FORÇAS INSTALADAS DO SISTEMA

Nota política do Secretariado da Milícia de São Miguel
(22 de Dezembro de 2018)

O aparecimento de movimentos de protesto em vários países da Europa, nomeadamente o dos coletes amarelos em França e da sua réplica em Portugal, tem sido tema de políticos e analistas de vários quadrantes, convergindo na condenação desses movimentos. Este tema é o objecto da presente Nota.

1 — Portugal, a Europa e o mundo ocidental em geral encontram-se dominados por forças subterrâneas que visam o estabelecimento de um governo mundial de oligarcas. Estabelecer esse governo mundial passa pelo sufoco económico e financeiro das nações e pela sua dissolução cultural, religiosa, identidade nacional e independência. O sufoco económico e financeiro das nações é feito com os orçamentos globais e especulação financeira. A dissolução cultural e destruição dos valores da Civilização é feita pela contra-cultura baseada no relativismo. A dissolução religiosa é promovida através da implementação de uma religião mundial pagã desenhada à medida dos interesses políticos,  já ensaiada por Hitler. A destruição da identidade nacional é promovida através do apagamento de todas as referências nacionais, nomeadamente da história e das tradições, e pela sua substituição por um multiculturalismo, por um mundialismo, de que o europeísmo sem pátrias é instrumento, conduzindo ao mundo «sem fronteiras» para o acesso livre dos oligarcas mundiais.

2 — Na Europa, os oligarcas mundiais têm os seus agentes principais em Bruxelas, que gerem os sub-agentes nos países «integrados». Estes agentes do mundialismo, burocratas assalariados, sobrevivem da sua integração no sistema mundialista e sub-sistema europeísta. Daí usufruem carreiras, participação em negócios escuros e até mensalão, como ficou comprovado com a lista de financiados por Soros, uns daquilo a que se chama direita, outros de esquerda, incluindo os de Portugal, no Parlamento Europeu.

3 — O mundialismo elaborou uma ideologia própria e impõe-na através do poder exercido e dos meios de comunicação tradicionais, por si controlados. Nessa ideologia cabem palavras doces como harmonizaçãodireitos humanos, acolhimento, tolerância, ecologia, evitar as alterações climáticas, igualdade de género, etc., questões verdadeiras ou inventadas mas todas com o mesmo fim: a necessidade de estabelecer políticas que conduzem ao seu governo mundial.

4 — Os representantes em Portugal dos oligarcas mundiais, agindo directamente ou através da União Europeia, desempenham obedientemente esse papel. Os seus objectivos e propostas são os mesmos. Eles encontram-se no interior dos partidos políticos, governos, justiça, Forças Armadas, meios de comunicação, sindicatos, professorado, organismos culturais, organizações da sociedade civil, etc.  Eles encontram-se infiltrados até na própria Igreja, como se pode verificar pelo comportamento de um certo clero. Este conjunto de governantes no sentido lato constitui uma elite formal, falsa, vendida ao mundialismo, e não uma elite nacional real. É esta falsa elite que constrói e governa em parceria a sua III República.

5 — O sistema político da III República é, pois, um sistema corrupto, de que são exemplos a criação de leis contra a família natural e a promoção da pornografia e do homossexualismo — inclusivamente já nas escolas primárias e secundárias; a política demográfica multiculturalista; a criação de uma classe de burocratas e de políticos parasitas e corruptos; políticas económicas e fiscais sufocantes dos cidadãos para alimentar os membros da classe política e seus colaboradores; a participação ilegítima em negócios; o condicionamento dos magistrados honestos; a destruição da nossa identidade nacional; o esvaziamento e subversão dos três pilares da Civilização e do Estado — a Igreja, as Forças Armadas e a Justiça; a destruição da nossa soberania e a submissão de Portugal a uma qualquer Merkel e, através dela, aos oligarcas mundiais; o fomento da insegurança pública pela permissividade da lei e condicionamento das forças da ordem; a destruição do ensino com as chamadas «novas pedagogias»; o financiamento de grupos e actividades pseudo-culturais para arregimentar agentes de propaganda do sistema; etc., etc., etc. Eis a III República.  A tudo isto não é estranha a maçonaria, apesar da seriedade — e ingenuidade — de alguns dos seus filiados.

6 — A corrupção da classe política e o consequente agravamento da situação social, quer em Portugal, quer na generalidade das nações europeias, tem tido consequências muito negativas no dia-a-dia das pessoas. Assistimos à destruição da economia e das finanças, da educação, da cultura ocidental, da vida moral e religiosa, do equilíbrio demográfico, da segurança interna, etc. Perante esta situação, e furando a censura do sistema com os novos meios de comunicação, nomeadamente as redes sociais, surgiram na Europa e no mundo legítimos movimentos de contestação de novo tipo e até a eleição de governos distanciados da oligarquia mundialista.

7 — Sendo verdade que grupos neonazis se colam aos movimentos espontâneos populares — como se colam a qualquer contestação —, a máquina de propaganda mundialista aproveita o facto para «provar» identidades que não existem. De imediato, os movimentos e governos antimundialistas são carimbados de neonazisneofascistas ou de extrema-direita, fazendo equivaler este último epíteto aos dois primeiros, isto é, confundindo no espectro político direita — que não a «direitinha» homologada pela esquerda — com a barbárie pagã do nazi-fascismo. Os rótulos de fundamentalista ou radical surgem também na propaganda mundialista como os menos indignos...  A intoxicação vai ao ponto de classificar desse modo posições genuinamente cristãs — filosófica e politicamente opostas a tais correntes —, metendo no mesmo saco qualquer opositora aos seus anseios.

8 — Apesar de toda a propaganda e encenação dos oligarcas e seus representantes nos vários países, incluindo Portugal, a verdade acaba por impor-se. O despertar chegou a Portugal e surge o movimento dos coletes amarelos, movimento levantando uma série de problemas reais da vida das pessoas e da anomalia denominada III República. Então, de imediato, os meios tradicionais de comunicação encheram-se de políticos, politólogos, jornalistas e outros bem-pensantes do sistema a tecerem as suas teorias sobre o fenómeno.

9 — Todos os argumentos da classe política, seus ideólogos e seus prolongamentos sindicais socialistas e comunistas se resumem a um ponto: o que não é por si controlado é mau. O movimento dos coletes amarelos é «inorgânico» (isto é, ninguém o controla) e por isso é mau. É «populista»«contra a democracia»«perigoso» e até mesmo «podendo conduzir ao fascismo»...

10 — Ora, o movimento é de facto «inorgânico» no sentido em que não tem uma organização sólida por trás. Mas, para as estruturas orgânicas que existem no orgânico sistema, o problema é temerem que do movimento inorgânico nasçam estruturas orgânicas que façam concorrência política, sindical ou cultural às suas. E assim as estruturas orgânicas do sistema perderiam o controlo do povo, o poder político e sindical e as respectivas benesses. Traduzido por miúdos, a isto se resume a douta explicação da oposição aos actuais movimentos espontâneos por parte das referidas forças do sistema.

11 — A Milícia de São Miguel, como organização política, cultural e social supra-partidária promovendo a defesa da Civilização, da Nação e do bem comum, reconhece na generalidade a justeza das reivindicações do movimento dos coletes amarelos. A sua causa também é, no conjunto, a mesma. A Milícia de São Miguel apoia sem reservas esta contestação popular à corrupção moral e financeira e incompetência reinantes na III República. E fá-lo independentemente do grau de adesão que o movimento possa ter, dos resultados práticos que o movimento consiga e até de alguma incoerência ou utopia que surjam no discurso deste ou daquele manifestante espontâneo. Na generalidade, estamos no mesmo lado.

12 — A Milícia de São Miguel alerta no entanto para o facto da experiência histórica mostrar que os movimentos espontâneos são efémeros e podem até não atingir nenhum dos objectivos concretos a que se propõem. Contudo, quando justos — como é o dos coletes amarelos —, contribuem indubitavelmente para consciencializar e mobilizar as pessoas e abrir o caminho a uma solução política organizada e sólida. Diz-nos também a experiência histórica que, depois do movimento dos coletes amarelos, quaisquer que sejam através de si as conquistas imediatas do povo português, a política portuguesa não ficará igual. Bem hajam. 







terça-feira, 6 de novembro de 2018

Crise de sobrevivência da Europa


Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece,
os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu
toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados,
como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição
à superstição e a separação da Igreja do Estado. São questões críticas a serem enfrentadas
se a Europa realmente quiser sobreviver. (Imagem: Pixabay)

Giulio Meotti, Gatestone, 4 de Novembro de 2018
Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano


Original em inglês: Europe's Crisis of Survival 

Tradução: Joseph Skilnik

  • Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece, os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados, como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição à superstição e a separação da Igreja do Estado. São questões críticas a serem enfrentadas se a Europa realmente quiser sobreviver.
  • Na Alemanha Ocidental 42% das crianças com menos de seis anos têm um fundo migratório, de acordo com Departamento Federal de Estatística da Alemanha, conforme reportagem do jornal Die Welt.
  • Ao observarmos a história, nos lugares onde a Igreja cochilou, se desviou do Evangelho, o Islão tirou vantagem e conquistou. É isso que estamos testemunhando na Europa, que a Igreja está cochilando e o Islão infiltrando-se... A Europa está a ser islamizada e isso afectará a África.» — Bispo Católico Andrew Nkea Fuanya da República dos Camarões.
«O vislumbre de que a Europa se torne um museu ou um parque de diversões cultural para o novo rico da globalização não é de todo absurdo.» Essa reflexão em relação à Europa como algo parecido com um vasto parque temático cultural foi apresentada pelo já falecido historiador Walter Laqueur que, devido à sua perspicaz previsão sobre a crise da Europa, é chamado de «indispensável pessimista.» Laqueur foi um dos primeiros a compreender que o actual impasse em que se encontra o velho mundo vai muito além da economia. A questão é que os dias de pujança da Europa já se foram. Devido às baixas taxas de natalidade, a Europa está encolhendo drasticamente. Se essas tendências continuarem salientava Laqueur, em cem anos a população da Europa «será somente uma fracção do que é hoje e em duzentos alguns países poderão até já ter desaparecido».

Lamentavelmente, a «morte da Europa» está-se aproximando, está-se tornando mais visível e é debatida com mais frequência pelos escritores mais conhecidos.

«No momento em que a literatura é cada vez mais marginalizada na vida pública, Michel Houellebecq lembra, de maneira impactante, que os romancistas têm condições de fornecerem insights sobre a sociedade que 'experts' e especialistas não se dão conta», destacou o New York Times sobre o incontestavelmente mais importante autor francês. Houellebecq «fala» através dos seus romances que são best sellers, como o Submission, bem como nas suas palestras públicas. A última conferência da qual Houellebecq participou em Bruxelas por ocasião da Premiação Oswald Spengler em homenagem ao autor de The Decline of the West, foi dedicada a esse tema. «Resumindo», Houellebecq salientou que «o mundo ocidental como um todo está cometendo suicídio».

Porque a Europa está tão obcecada com a sua própria demografia decadente e com a crescente imigração da fertilidade da África?

Consoante com a matéria de Ross Douthat, publicada no New York Times, «os programas de controle populacional sustentados pelo Ocidente nos países em desenvolvimento» estão «voltando a permear os debates» por três razões:

«Porque as taxas de natalidade da África não diminuíram com a rapidez esperada pelos especialistas ocidentais, porque a demografia europeia está seguindo a Lei de Macron rumo à sepultura e porque os líderes europeus não estão tão optimistas quanto à assimilação dos imigrantes como há pouquíssimos anos.»

Douthat está-se a referir a dois discursos proferidos pelo presidente francês Emmanuel Macron. Em 2017 Macron chamou os problemas da África de «civilizacionais» e lamentou que eles «têm sete ou oito filhos por mulher». No segundo discurso na Fundação Gates na semana passada, Macron realçou: «apresente-me uma mulher que decidiu, sendo primorosamente formada, ter sete, oito ou nove filhos.» A questão implicitamente levantada por Macron é: como a Europa pode administrar os seus educados cidadãos com as suas baixas taxas de natalidade e ao mesmo tempo enfrentar a imensa fertilidade e imigração africana e do Médio Oriente? Ao que tudo indica a Europa está mergulhada numa batalha demográfica com o resto do mundo e só pode perder.

Enfrentando este desafio existencial, uma espiral descendente na qual, ao que parece, os europeus estão morrendo lentamente por não se reproduzirem, a Europa também perdeu toda a confiança nos seus valores iluministas duramente conquistados, como as liberdades individuais, a razão e a ciência em substituição à superstição e a separação da Igreja do Estado.

São questões críticas a serem enfrentadas se a Europa realmente quiser sobreviver. O ilustre historiador Victor Davis Hanson escreveu recentemente:

«A julgar pelos grandes determinantes históricos do poder civilizacional, combustível, energia, educação, demografia, estabilidade política e poder militar, a Europa está em declínio. Gasta apenas 1,4% do seu PIB em defesa... E com uma taxa de fertilidade inferior a 1,6%, a Europa está lentamente encolhendo e envelhecendo, daí a política imediatista de imigração de Angela Merkel que, ao que tudo indica, vê a imigração também como solução para a crise demográfica e um atalho para a mão-de-obra barata».

No entanto, conforme Walter Laqueur enfatizou, «mesmo que o declínio da Europa seja irreversível, não há razão para que se torne um colapso».

Como evitar o colapso?

Num recente encontro europeu, o ministro do interior da Itália, Matteo Salvini, que encabeça o partido anti-imigração Liga, salientou:

«Tenho ouvido colegas meus dizerem que a imigração é necessária porque a população da Europa está a ficar mais velha, no entanto tenho um ponto de vista totalmente diferente... Acredito que estou no governo para fazer com que os nossos jovens tenham a proporção de filhos que tinham há alguns anos e não transplantar a juventude mais adequada da África para a Europa. Talvez no Luxemburgo tenham que tomar uma medida dessas, mas em Itália precisamos incentivar as pessoas a terem mais filhos e não trazer os escravos modernos (da África) para substituírem os filhos que não mais estamos tendo.

Na sequência, abordando directamente uma interrupção do ministro das relações exteriores do Luxemburgo, Jean Asselborn, Salvini continuou:

«Eu respondo com toda a tranquilidade ao seu ponto de vista que é diferente do meu... Se no Luxemburgo vocês precisam de uma nova imigração, eu prefiro manter a Itália para os italianos e começarmos novamente a ter mais filhos.»

Salvini, evidentemente, sabe o que espera o futuro da Itália. Se nada mudar, a população da Itália poderá entrar em colapso e chegar a pouco mais de 16 milhões de habitantes, se comparado com os 59 milhões de hoje. Essa preocupante projecção surgiu este ano no «Festival de Estatística e Demografia» que acontece todos os anos em Itália, onde na Universidade de Roma o professor Matteo Rizzolli salientou:

«É uma previsão para daqui a cem anos, mesmo que tenhamos 8 milhões de habitantes em menos de 20 anos, se continuarmos agindo dessa maneira, a projecção não ajudará em nada no sentido de promover o crescimento na taxa de natalidade».

O establishment da Europa está, portanto, bem dividido no que diz respeito aos assim chamados «europeístas», que acreditam que os novos migrantes são necessários para evitar o colapso demográfico da UE e os «eurocéticos» que querem dar a volta por cima por conta própria. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, por exemplo, pediu aos europeus que interrompam o «declínio demográfico» investindo mais nas famílias tradicionais. O arcebispo católico italiano Gian Carlo Perego realçou:

«O desafio da Itália é o de conciliar jovens que vêm de outros lugares com um país que está morrendo, para começar uma nova história. Se fecharmos a porta aos migrantes, desapareceremos».

Salvini apresentou mais uma ideia numa entrevista ao jornal The Times:

«Um país que não tem filhos está fadado a morrer... Criámos o ministério da Família para trabalhar na questão da fertilidade, creches, sistema fiscal que leve em conta famílias com muitos filhos. No fim do seu mandato, o governo será avaliado segundo o número de recém-nascidos mais do que em relação à dívida pública».

O que está em jogo, salientou Salvini, é a «tradição, a história e a identidade da Itália», a esquerda usa a crise da fertilidade como «desculpa» para «importar imigrantes».

Outro bispo católico, Andrew Nkea Fuanya, de Mamfe, República dos Camarões, recentemente disse o seguinte no tocante às baixas taxas de natalidade da Europa:

«É uma questão de grande importância. E atrevo-me a dizer que em especial, tendo como pano de fundo a invasão islâmica, se observarmos a história nos lugares onde a Igreja cochilou, se desviou do Evangelho, o Islão tirou vantagem e conquistou. É isso que estamos testemunhando na Europa, que a Igreja está cochilando e o Islão se infiltrando... A Europa está sendo islamizada e isso afectará a África».

O declínio e a transformação da Europa também podem ser vistos em França. Segundo novas estatísticas libertadas pelo Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos de França, Mohammed e vários outros nomes tradicionalmente muçulmanos agora estão no topo da lista dos nomes mais populares de bebés no departamento francês de Seine-Saint-Denis (1,5 milhão de residentes). Vale salientar que dois jornalistas do influente jornal Le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme acabam de publicar um livro intitulado Inch'allah: l'islamisation à visage découvert («Com a Graça de Alá: A Face Exposta da Islamização»), uma investigação sobre a «islamização» na região de Seine-Saint-Denis.

Nesse ínterim, uma investigação publicada em Julho pela revista semanal L'Express mostrou que em França, «entre os anos de 2000 e 2016, o número de crianças com pelo menos um dos pais estrangeiros subiu de 15% para 24%». O jornal Die Welt publicou que de acordo com o Departamento Federal de Estatística, na Alemanha Ocidental 42% das crianças com menos de seis anos têm um fundo migratório.

A imigração em massa para a Europa, sem nenhum tipo de critério, parece ter sido mais prejudicial do que benéfico. escreveu Walter Laqueur:

«... a imigração descontrolada não foi a única razão para o declínio da Europa. Mas, somada a outras tribulações do continente levou a uma profunda crise, seria necessário um milagre para tirar a Europa dessa enrascada».

Tanto Matteo Salvini como Michel Houellebecq salientaram que o dilema da Europa envelhecida e cansada não é uma questão partidária ou eleitoral, é civilizacional. Essa questão também decidirá o futuro da União Europeia, cuja política de fronteiras abertas poderá detonar.

O tempo está-se a esgotar. Conforme salientou Houellebecq num discurso durante a cerimónia da entrega do Prémio Frank Schirrmacher:

«O avanço do Islão está apenas a começar, visto que a demografia está do lado do Islão e porque a Europa, que deixou de ter filhos, entrou num processo de suicídio. E na realidade não se trata de um suicídio lento. Uma vez atingida a taxa de natalidade de 1,3 ou 1,4, na realidade, as coisas correrão a toque de caixa».





segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A face tradicional do Papa Paulo VI




LA FACE TRADITIONNELLE DE PAUL VI

La Lettre de Paix liturgique du 10 Octobre 2018

Paul VI, pape-Janus, à deux visages ? Son prochaine canonisation le dimanche 14 octobre 2018 soulève des réactions diverses, comme plus généralement les béatifications et canonisations très rapides de tous les papes qui ont présidé ou qui ont succédé au concile Vatican II. Nous n’avons pas la compétence pour entrer dans ces discussions, ni dans celles concernant l’autorité de ces canonisations à marche forcée.

En revanche, nous voudrions donner notre sentiment sur le jugement assez courant qui classe et oppose les papes du Concile et de l’après-Concile, en « libéraux » (Paul VI, le Pape François), d’une part, et en «restaurationnistes» (Jean-Paul II, Benoît XVI), d’autre part. Les choses nous paraissent autrement complexes, spécialement en ce qui concerne Paul VI.

Sans doute a-t-il présidé un concile qui a apporté dans l’Eglise un bouleversement dont plus personne aujourd’hui n’ose affirmer qu’il a été un merveilleux «printemps». Sans doute est-il le pape qui a promulgué des textes fondateurs de doctrines particulièrement novatrices comme celle de l’œcuménisme. Sans doute – et cela nous est particulièrement sensible – est-il l’homme d’une réforme liturgique, que nous qualifierions plus volontiers de révolution.

Et cependant, il est aussi l’auteur d’une série de textes en sens opposé qui, à notre avis, lui mériteraient tout autant que Jean-Paul II, la qualification de pape de «restauration», ce qui, par la même occasion, permet de préciser la compréhension ambivalente de ce terme qui tire son origine du thème développé par le cardinal Joseph Ratzinger dans son Entretien sur la foi de 1985.

3 septembre 1965 : Mysterium fidei et la foi en l’eucharistie

Dans l’atmosphère de libération théologique qui accompagna le concile Vatican II, des remises en cause de la foi en la présence réelle dans l’eucharistie se sont multipliées, et ce d’autant plus que les bouleversements de la réforme liturgique étaient lancés depuis 1964.

En publiant l’encyclique Mysterium fidei, le 3 septembre 1965, Paul VI répondait à des inquiétudes gravissimes: «Nous savons en effet que parmi les personnes qui parlent ou écrivent sur ce mystère très saint, il en est qui répandent au sujet des messes privées, du dogme de la transsubstantiation et du culte eucharistique certaines opinions qui troublent les esprits des fidèles; elles causent une grande confusion d’idées touchant les vérités de la foi, comme s’il était loisible à qui que ce soit de laisser dans l’oubli la doctrine précédemment définie par l’Église ou de l’interpréter de manière à appauvrir le sens authentique des termes ou énerver la force dûment reconnue aux notions ».

Certains, disait Paul VI, voulaient que la présence réelle soit exprimée différemment. Très couramment, d’ailleurs, des fidèles refusaient de communier avec des hosties qui n’avaient pas été consacrées lors de la messe. Certains niaient la présence du Christ dans les hosties consacrées restant après la messe: la présence réelle était, selon eux, attachés à la communauté célébrant l’eucharistie. Paul VI dénonçait donc des théories parlant de «transsignification» ou de «transfinalisation» (le signe sacramentel occasionnerait un changement de signification ou de finalité du pain et du vin) qui entendaient se substituer au terme, dogmatiquement consacré, de transsubstantiation. Et de réaffirmer: «Cette présence, on la nomme «réelle», non à titre exclusif, comme si les autres présences n'étaient pas «réelles», mais par excellence ou «antonomase», parce qu'elle est substantielle, et que par elle le Christ, Homme-Dieu, se rend présent tout entier».

24 juin 1967: Sacerdotalis cælibatus et la défense
du célibat ecclésiastique

Durant le Concile, la question du célibat ecclésiastique dans l’Eglise latine fut pas mal discutée. Elle était théoriquement malmenée par la tendance libérale, mais l’était aussi pratiquement, dans la mesure où de très nombreux prêtres et religieux quittaient leur état pour prendre femme. Certains voulaient tout de même, ce faisant, conserver des fonctions sacerdotales!

Paul VI intervint publiquement par une lettre au cardinal Tisserant, Doyen du Sacré Collège et l’un des présidents de l’assemblée conciliaire, en octobre 1965: «Il n’est pas opportun de débattre publiquement de ce thème qui requiert la plus grande prudence et revêt une telle importance. Et Nous avons le propos, non seulement de conserver autant qu’il est en Nous cette loi ancienne, sainte et providentielle, mais encore de renforcer son observance, rappelant les prêtres de l’Eglise latine à la conscience des causes et des raisons qui aujourd’hui, aujourd’hui précisément de façon spéciale, font que l’on doit considérer cette loi du célibat comme très adaptée parce que par elle les prêtres peuvent consacrer tout leur amour uniquement au Christ et se donner totalement et généreusement au service de l’Eglise et des âmes».

L’hémorragie de prêtres qui «quittaient» était considérable. Le P. Salvini dans La Civilta Cattolica, le 21 avril 2009, évaluait à environ 70.000 le nombre de prêtres qui avaient abandonné le ministère pour se marier depuis le Concile, la période de 1965 à 1980 ayant été la plus aigue et la plus dramatique.

Deux ans après la fin de Vatican II, le 24 juin 1967, Paul VI publia l’encyclique Sacerdotalis cælibatus sur le célibat sacré, qui «conserve toute sa valeur également à notre époque caractérisée par une transformation profonde des mentalités et des structures». Dans ce texte, un des plus beaux qu’il ait composés, même s’il est très marqué par le style ecclésiastique de l’immédiat après-Concile, Paul VI rappelait entre autres le sens christologique du célibat des prêtres: «La somme des idéaux les plus élevés de l’Evangile et du royaume» font ainsi «la dignité et le caractère désirable du choix de la virginité pour ceux qu’appelle le Seigneur Jésus, et qui entendent ainsi participer non seulement à sa fonction sacerdotale mais partager également avec lui l’état de vie qui fut le sien».

Texte qui acquiert une nouvelle actualité, alors que de nouvelles entreprises remettent aujourd’hui en cause la discipline latine par des voix comme celle du cardinal Marx, archevêque de Munich, et par le biais du document préparatoire du Synode sur l’Amazonie, d’octobre 2019, lequel suggère «un type de ministère officiel» qui pourrait être confié aux femmes (le diaconat féminin) et laisse ouverte, comme on dit, la question de l’ordination d’hommes mariés.

30 juin 1968: le Credo du Peuple de Dieu

La tourmente postconciliaire ne cessant de s’aggraver, Paul VI décida que, du 29 juin 1967 au 29 juin 1968, serait célébrée une «année de la foi», à la fin de laquelle, il proclama un Credo du peuple de Dieu, le 30 juin 1968. Très caractéristique des hésitations du pape Montini est le fait qu’il ait d’abord demandé au P. Congar de rédiger un Credo. Il s’adressa ensuite au cardinal Journet, qui lui-même proposa une rédaction de Jacques Maritain, qui venait de rédiger un essai alarmant: Le paysan de la Garonne. Un vieux laïc s’interroge à propos du temps présent (DDB, 1966).

Dans son Credo, Paul VI rappelait les grandes propositions de la foi catholique, notamment celles les plus contestées au sein même de l’Eglise. Jean Madiran regrettait certes, à l’époque, que Paul VI ne fît ce rappel que comme une profession de foi personnelle, pas de Pape qui oblige à croire, et surtout de manière seulement «positive», sans préciser que ceux qui n’adhéraient pas aux dogmes catholiques avaient fait naufrage dans la foi et ne faisaient plus partie de l’Eglise. Mais il énonçait clairement, par exemple: «Nous croyons qu’en Adam tous ont péché, ce qui signifie que la faute originelle commise par lui a fait tomber la nature humaine, commune à tous les hommes, dans un état où elle porte les conséquences de cette faute et qui n’est pas celui où elle se trouvait d’abord dans nos premiers parents, constitués dans la sainteté et la justice, et où l’homme ne connaissait ni le mal ni la mort».

Concernant le sacrifice de la messe, il adoptait, il est vrai, la thèse de Maritain, Journet et d’autres, lesquels gênés par l’affirmation tridentine que la messe est un sacrifice sacramentel référé à celui du Golgotha, estimaient que la messe est plutôt le sacrifice de la Croix, capté en quelque sorte par la célébration eucharistique (voir notre lettre n. 623): «Nous croyons que la messe célébrée par le prêtre représentant la personne du Christ en vertu du pouvoir reçu par le sacrement de l’ordre, et offerte par lui au nom du Christ et des membres de son Corps mystique, est le sacrifice du calvaire rendu sacramentellement présent sur nos autels.

Mais, très classiquement, Paul VI affirmait la présence réelle du Christ dans l’eucharistie: «Le Christ ne peut être ainsi présent en ce sacrement autrement que par le changement en son corps de la réalité elle-même du pain et par le changement en son sang de la réalité elle-même du vin, seules demeurant inchangées les propriétés du pain et du vin que nos sens perçoivent. Ce changement mystérieux, l’Église l’appelle d’une manière très appropriée transsubstantiation».

25 juillet 1968: Humanæ vitæ et la condamnation
de la contraception

Et au sommet de ces mises en garde, vint le rappel moral qui déclencha le plus de contestations dans les décennies qui suivirent. Paul VI empêcha le Concile, dans Gaudium et spes, de se prononcer au sujet de la contraception (tout laissait craindre que ce serait en un sens libéral), au motif qu’une commission pontificale créée par Jean XXIII en 1963 étudiait cette question.

Malheureusement, durant quatre ans, le pape laissa l’affaire en suspens, ce qui eut des effets désastreux, et par la suite indéracinables, dans la pratique des couples catholiques.

Pour forcer Paul VI a prendre parti dans un sens permissif, des fuites furent organisées qui permirent de savoir qu’en 1966, par 15 voix contre 4, la commission avait déclaré que la contraception artificielle n'était pas intrinsèquement mauvaise.

Malgré cela et malgré toutes les pressions, comme celles du cardinal Suenens de Malines-Bruxelles, et notamment en raison de l’insistance en sens inverse de Karol Wojtyla qui, devenu Jean-Paul II, sera un grand défenseur de la doctrine traditionnelle du mariage, Paul VI, par l’encyclique Humanæ vitæ du 25 juillet 1968, condamna la contraception: «Est exclue toute action qui, soit en prévision de l'acte conjugal, soit dans son déroulement, soit dans le développement de ses conséquences naturelles, se proposerait comme but ou comme moyen de rendre impossible la procréation».

1968, il y a cinquante ans, devint alors un Annus horribilis pour le pape Montini, qui vit monter la contestation de toutes parts, du côté progressiste, contre Humanæ vitæ, promulguée le 25 juillet, et du côté traditionnel, contre le nouvel Ordo Missæ, approuvé par lui le 6 novembre.

Et dans l’Église, les maux ne cessaient d’empirer, au point que le 29 juin 1972 le malheureux pontife en vint à affirmer qu'il avait «le sentiment que par quelque fissure, la fumée de Satan est entrée dans le temple de Dieu». «Il y a le doute, disait-il, l'incertitude, la problématique, l'agitation, l'insatisfaction, l'affrontement. […] On croyait qu'après le Concile, il y aurait une journée ensoleillée dans l'histoire de l'Église. Il est venu à la place une journée de nuages, de tempête, de ténèbres, de recherche, et d'incertitude».

Pyromane qui se fait pompier, a-t-on souvent commenté. Cependant, il est clair que toute l’entreprise dont on crédite Jean-Paul II et de Benoît XVI pour tenter d’encadrer le concile Vatican II et pour écarter les «abus» a son origine dans ce désir de «recentrement» exprimé pathétiquement par Paul VI lui-même. Le nier serait injuste. Et si l’on affirme que ce recentrement de Paul VI n’était au fond qu’une tentative thermidorienne, qui voulait empêcher les excès de la révolution sans revenir sur les racines du mal, on porte du même coup cette critique contre Jean-Paul II et Benoît XVI.

De notre point de vue – la défense de la messe traditionnelle – nous retiendrons que la première lueur concernant la célébration de la messe ancienne fut l’indult de la Congrégation du Culte divin du 5 novembre 1971, donnant aux évêques d’Angleterre et du Pays de Galles la faculté de permettre à certains groupes de fidèles, en des occasions spéciales, de participer à la messe célébrée «selon les rites et les textes du missel romain précédent». A cause de la signature de l’illustre romancière anglaise, Agatha Christie, donnée à la pétition de protestation qui avait précédé cette mesure, on qualifia cette permission d’«indult Agatha Christie». Cette autorisation de Paul VI lui-même de célébrer selon le missel antérieur servira de précédent, lors des décisions qui élargiront cette permission, Quattuor abhinc annos de 1984, Ecclesia Dei adflicta de 1988, Summorum Pontificum de 2007. Il est d’ailleurs significatif que ce pape, dont on disait qu’il avait le caractère hésitant d’Hamlet, ait d’une main enterré la messe tridentine et de l’autre ouvert une première possibilité pour continuer à la célébrer.




Cinquenta anos de autodemolição na Igreja


Membros da TFP em campanha de colecta de assinaturas no centro da capital paulista

Paulo Roberto Campos, IPCO, 17 de Outubro de 2018

Há meio século, um abaixo-assinado com grande número de aderentes denunciou a infiltração comunista nos meios católicos, pedindo ao Papa Paulo VI medidas contra o avanço comunista no Brasil


Reverente e Filial Mensagem a Sua Santidade
o Papa Paulo VI — Assim se intitulava o abaixo-assinado em que a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) colheu 1.600.368 assinaturas, entre Julho e Setembro de 1968 [vide link I]. Os membros da TFP ergueram os seus estandartes rubros com o leão dourado em 229 cidades de quase todos os estados brasileiros, numa histórica campanha percorrendo o País em colecta de assinaturas e denunciando um processo de autodemolição da Igreja perpetrado por eclesiásticos de mentalidade comunista. As entidades coirmãs do Chile, Uruguai e Argentina aderiram à campanha, elevando o número de adesões para 2.025.201.[1]

Naquele ano, os católicos estavam preocupados com a actuação do clero comuno-progressista infiltrado na Igreja católica. Entre eles destacava-se o sacerdote belga Joseph Comblin, professor no Instituto Teológico da Arquidiocese de Recife, onde era acobertado por Dom Helder Câmara, cognominado «Arcebispo Vermelho». Os objectivos e ideias do Pe. Comblin estavam compilados num documento reservado, não destinado ao grande público, mas acabaram por sair na imprensa e estarreceram o País [vide link II]. Propunha uma revolução não apenas nos ambientes católicos, mas também na sociedade civil, incluindo tribunais de excepção para punir os adversários anticomunistas.

Esse documento subversivo foi o estímulo para a deflagração da campanha da TFP pedindo ao Papa Paulo VI providências para fazer cessar a acção deletéria dentro da Igreja. O regime proposto pelo Pe. Comblin tinha como modelo a ditadura cubana; e o modelo religioso era uma igreja miserabilista ao serviço do comunismo. Algumas partes do projecto bastam para avaliar a sua radicalidade:

• «Será necessário montar um sistema repressivo: tribunais novos de excepção contra quem se opõe às reformas. Os procedimentos ordinários da Justiça são lentos demais. O poder legislativo também não pode depender de assembleias deliberativas.

• «O poder deve neutralizar as forças de resistência: neutralização das forças armadas se [elas] forem conservadoras; controle da imprensa, TV, rádio e outros meios de difusão; censura das críticas destrutivas e reaccionárias.

• «Sem dúvida, a religiosidade católica tradicional do povo está condenada a desaparecer com o desenvolvimento. Se a Igreja não tiver OUTRA religião mais evoluída para oferecer-lhes, as massas voltar-se-ão para outras mensagens mais ao alcance delas ou mais preocupadas com elas.»

Apreciações de autoridades sobre a campanha da TFP

Plinio Corrêa de Oliveira observa
a impressionante pilha
com mais de dois milhões de assinaturas
Autoridades e órgãos de imprensa manifestaram-se sobre a campanha. Dentre elas, destacamos:

Mons. Alfredo Cifuentes Gómez, arcebispo de La Serena (Chile), um dos mais destacados e respeitados membros do Episcopado daquele país: «Li com especial interesse a reverente e filial mensagem […]. Ela reflete duas características que sempre animaram o espírito cristão e o verdadeiro amor à Pátria. Espírito cristão, porque justamente vêem ameaçados os princípios ligados intimamente à Doutrina da Igreja: e amor à Pátria, porque precisamente o ataque a esses princípios vulnera nas suas bases o bem-estar e a paz da Nação. Como filhos fiéis, os senhores recorrem à suprema Autoridade da Igreja com sentimentos de profundo respeito e confiança».

A revista americana «Time», na sua edição de 23 de Agosto de 1968, reconheceu «a facilidade com que a TFP colectou as assinaturas. […] Reflecte o facto de que a maioria dos latino-americanos aprova ou pelo menos tolera o conservadorismo católico». No mesmo sentido, afirmou o sacerdote francês Charles Antoine: «De todas as campanhas organizadas pelo movimento Tradição, Família e Propriedade, a mais espectacular é sem dúvida a de Julho de 1968».[2]

De passagem pelo Brasil naquele ano, o Pe. René Laurentin, célebre teólogo francês e doutor em Mariologia, relatou num dos seus livros: «Grupos volantes recolheram assinaturas um pouco por toda a parte, nas estações ferroviárias, nos aeroportos e noutros lugares públicos. Os autores desta iniciativa abordaram-me muito cortesmente num supermercado de Curitiba. Desfraldavam um estandarte de veludo vermelho com a figura de um leão em pé. Convidavam a assinar ‘contra o comunismo’.» [3] [vide link III].

Abaixo-assinado entregue, silêncio do Vaticano

As folhas do abaixo-assinado ultrapassaram dois metros de altura. Foram copiadas em rolos de microfilmes, e assim entregues na Secretaria de Estado da Santa Sé.

Qual foi a resposta do Vaticano? Lamentavelmente, o silêncio. Desconcertante silêncio, pois revelava insensibilidade ante a preocupação de mais de dois milhões de fiéis que subscreveram o abaixo-assinado. Não mereceriam resposta esses fiéis, cuja preocupação os levou a pedir ao Papa socorro contra a escandalosa infiltração esquerdista nos meios católicos?

Apesar desse silêncio da Santa Sé, a campanha atingiu o seu objectivo: a «esquerda católica» ficou muito desacreditada e enfraquecida, enquanto os autênticos católicos saíram fortificados na Fé e reuniram esforços para reagir com ainda maior eficácia. Ademais, o incendiário Pe. Comblin acabou abandonando o Brasil.

O esquerdismo católico e seus derivados

Transcorrido exactamente meio século daquele memorável abaixo-assinado — e não tendo sido tomadas as medidas solicitadas pelos signatários — o mal não cessou, antes cresceu de modo ainda mais alarmante, deixando os fiéis mais estarrecidos do que então. Basta considerar que o progressismo católico — herdeiro do modernismo, condenado pelo grande Papa São Pio X como a «síntese de todas as heresias» — atingiu quase todos os ambientes católicos e instituições eclesiásticas, revolucionando a própria liturgia e abolindo tradições da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, avaliado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira como «uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja».[4]

Do progressismo nasceu a «Teologia da Libertação», cujo programa de luta de classes marxista intoxicou os seminários, além de deformar os missionários com a sua neomissiologia indigenista. Uma das suas consequências foi a formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Mas elas foram forçadas a um longo período de encolhimento, devido às denúncias do livro –bomba As CEBs… Das quais muito se fala e pouco se conhece – A TFP descreve-as como são. Nessa obra de 1982, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e os irmãos Gustavo António e Luís Sérgio Solimeo apresentam contra elas acusações graves, nunca refutadas. Seis edições, num total de 72 mil exemplares, foram amplamente difundidas em todo o território nacional. Foi também editada e divulgada uma versão popular em quadrinhos, com a tiragem de 180.000 exemplares.

Em entrevista obtida pela Agência Boa Imprensa, publicada com exclusividade em Catolicismo (edição de Janeiro de 1993),[5] o próprio Pe. Comblin foi obrigado a confessar o fracasso das CEBs: «Elas estão marginalizadas, fustigadas, fulminadas em todas as partes. Hoje, constituem minorias sem projecção no conjunto das igrejas locais». Actualmente as cinzas das CEBs começam a ser exumadas do sepulcro pelo clero comuno-progressista, com o apoio do Papa Francisco.

Outro derivado do esquerdismo católico está contido em matéria publicada por Catolicismo na edição de Julho passado.[6] Trata-se de uma ruptura com o Magistério tradicional da Igreja, uma «mudança de paradigma» especialmente sobre a instituição da família monogâmica e indissolúvel, estabelecida por Deus no sacramento do matrimónio entre um homem e uma mulher. Reflecte-se também no acolhimento que o Pontífice vem concedendo a movimentos ditos «sociais», que agem segundo a doutrina marxista. Esses movimentos esquerdistas, assim como regimes comunistas de alguns países, vêem no Papa Francisco um ponto de apoio, embora seja uma actuação condenada pela Doutrina católica tradicional, por servir de base a um sistema «intrinsecamente perverso».

Em Setembro de 1968, a TFP comemora, na Casa de Portugal em São Paulo,
o término da sua campanha, em que 1.600.368 brasileiros pediam providências
ao Papa Paulo VI contra a infiltração comunista na Igreja

Autodemolição e fumaça de Satanás na Igreja

Essa verdadeira revolução em curso na Igreja traz à memória as palavras do Papa Paulo VI em 7 de Dezembro de 1968, onde se refere ao processo de autodemolição da Igreja, «golpeada também pelos que d´Ela fazem parte».[7] São palavras que confirmam a grave denúncia contra a infiltração comunista no clero católico, divulgada pela TFP poucos meses antes. Outra confirmação encontra-se na alocução «Resistite fortes in fide» (29 de Junho de 1972), onde o mesmo Papa alega ter a sensação de que «por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus».[8]

O que poderia suceder de mais terrível à Santa Igreja do que ser penetrada pela fumaça de Satanás e sofrer o processo de autodemolição? Difícil imaginar tragédia maior! Presentemente, tudo isso leva muitos fiéis católicos a perguntarem para onde ruma a «nova igreja do Papa Francisco».

Concílio Vaticano II

A fidelidade à Santa Igreja, mantida a toda prova

Numa comovente Via Sacra publicada por Catolicismo em 1951, e depois reeditada em opúsculos no Brasil e no exterior, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira comenta na 6.ª Estação:

«No Véu de Verónica, a representação da Face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana é feita como num espelho. Nas suas instituições, na sua Doutrina, nas suas leis, na sua unidade, na sua universalidade, na sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflecte o nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo. 

E nós, todos nós, temos a graça de pertencer à Igreja, de ser pedras vivas da Igreja. Como devemos agradecer este favor! 

Não nos esqueçamos, porém, de que noblesse oblige. Pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias da nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade profunda e sincera. Noutros termos, supõe o sacrifício de uma existência inteira».

Assistimos hoje a uma verdadeira guerra de extermínio empreendida por inimigos que se infiltraram na Igreja, cuja fisionomia se torna cada vez menos reconhecível. Em reparação, peçamos a graça de ter em relação a Ela a atitude de Verónica, que com o seu precioso véu limpou a sagrada face do nosso Redentor. Pertencer à Santa Igreja é uma graça imensurável, mas que nos traz obrigações. Como filhos, devemos mais do que nunca lutar por Ela, manter inabalável a fidelidade e ainda mais ardorosa a nossa Fé na sua indestrutibilidade. Sabemos que os membros da Igreja podem errar e até ensinar erros, mas Ela, jamais, pois o que ensina está definido claramente por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:
«O Concílio Vaticano II foi uma das maiores calamidades,
se não a maior, da História da Igreja».
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Notas:

[1] Argentina (266.512 assinaturas), Chile (121.210 assinaturas), Uruguai (37.111 assinaturas).

[2] Pe. Charles Antoine, L’Eglise et le pouvoir au Brésil. Naissance du militarisme, Desclée de Brouwer, Paris, 1971, p. 144.

[3] René Laurentin, L’Amérique latine à l’heure de l’enfantement, Ed. Seuil, Paris, 1970.

[4] «O êxito dos êxitos alcançado pelo comunismo pós-staliniano sorridente foi o silêncio enigmático, desconcertante, espantoso e apocalipticamente trágico do Concílio Vaticano II a respeito do comunismo. […] Seu silêncio sobre o comunismo deixou aos lobos toda a liberdade. A obra desse Concílio não pode estar inscrita, enquanto efectivamente pastoral, nem na História, nem no Livro da Vida. É penoso dizê-lo. Mas a evidência dos factos aponta, neste sentido, o Concílio Vaticano II como uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja. A partir dele penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a «fumaça de Satanás», que se vai dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão dos gases. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Cristo entrou no sinistro processo enquanto autodemolição». Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Editora Artpress, São Paulo, Parte III, capítulo II, 4, A, pp. 166-168.

[5] http://catolicismo.com.br/index1.cfm/mes/Janeiro1993

[6] http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0811/P12-13.html

[7] Em alocução aos alunos do Seminário Lombardo, no dia 7 de Dezembro de 1968, o Papa Paulo VI afirmou que «a Igreja atravessa hoje um momento de inquietação. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembleia conciliar. Há ainda este aspecto na Igreja, o do florescimento. Mas, posto que bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu, fixa-se a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que d´Ela fazem parte» (cfr. Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 1188).

[8] Cfr. Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, p. 707.

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LINK 1: http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0813/P32-33.html#.W8VKOfZFx9A

LINK 2:  http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0813/P34-35.html#.W8VK3vZFx9A

LINK 3: http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0813/P28-29.html#.W8VKjfZFx9A