Repensar Portugal
A posição de Portugal na Ibéria deve ser vista à luz de vários factores.
Primeiro. Apenas uma forte
identidade como a portuguesa, fruto das particularidades do seu povo e de
novecentos anos de história rica de êxitos, poderia manter a sua independência
face a um vizinho cobiçoso, militarmente mais poderoso e ameaçador.
Segundo. O Estado espanhol, tutelado
por Castela, permanece um arqui-inimigo da independência portuguesa, apesar
de hoje ser obrigado a agir de forma própria no quadro internacional actual,
que já não lhe permite as veleidades militares de outrora, a que aliás
assistimos até mesmo no século XX.
Terceiro. A luta dos movimentos
independentistas das nações ibéricas hoje submetidas a Castela previsivelmente
conduzirá, a prazo, ao desmantelamento do Estado espanhol, acontecimento
apenas protelado pela ainda manutenção do regime monárquico, entretanto já
posto em causa.
Quarto. A ultrapassagem económica de
Portugal pela Espanha como consequência do acidente histórico do 25 de Abril de
1974 pode ser apenas um episódio conjuntural, dependendo a recolocação de
Portugal na dianteira exclusivamente das políticas portuguesas serem adequadas,
isto é, dependendo exclusivamente dos Portugueses.
Quinto. O actual adiantamento
conjuntural da Espanha seduz alguns portugueses e é utilizado como isco por comerciantes
ávidos e sem valores patrióticos, tecnocratas apátridas e políticos e intelectuais
vendidos a interesses castelhanos, que procuram camuflar os seus interesses
materiais com variantes do velho iberismo.
Sexto. A integração de Portugal e do
Estado espanhol na União Europeia não significa de modo nenhum o desaparecimento
das fronteiras entre os dois estados, como pretendem falaciosamente os
hiper-europeístas internos, com interesses comerciais ou políticos, e os seus
seguidores inconscientes.
Num momento em que se adivinha o desmantelamento do Estado espanhol,
tornam-se visivelmente irrealistas as aspirações e a propaganda para realizar o
sonho unificador iberista de alguns. No entanto, o neo-iberismo, hoje mais de
cariz mercantilista do que político, exerce sobre alguns responsáveis políticos
portugueses, se não um certo fascínio, pelo menos uma influência inibidora dos
seus deveres de Estado no relacionamento com o Estado espanhol, nomeadamente
no cenário europeu.
Hoje, no cenário das instituições europeias, joga-se em grande parte não
apenas o futuro de Portugal mas também as relações entre Portugal e o Estado
espanhol. Aí, tal como ontem em Aljubarrota e Montes Claros, os representantes
de Portugal devem demonstrar grande consciência e grande firmeza na defesa dos
interesses portugueses.
O Estado espanhol ocupa ilegalmente as terras portuguesas de Olivença e
procura fazer cair no esquecimento o assunto. Portugal deve utilizar todas as
tribunas internacionais à sua disposição, nomeadamente as instituições
europeias, a NATO e as Nações Unidas, para fazer valer os seus direitos e obter
a resolução deste problema pendente.
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