Os soviéticos tinham um grande exército; mais armas nucleares do que os Estados Unidos; um sistema policial e aparelho de Estado impiedosos; países satélite na Europa de Leste e Central; entrepostos em Cuba, África, Ásia e América Central e uma rede de simpatizantes comunistas e aliados à volta do mundo, incluindo os Estados Unidos. E contudo, à medida que o tempo passava e a sua incompatibilidade com o divino e o humano se revelava, tudo virou pó.
Claro que para isso contribuiu também a enorme coragem de muitas pessoas, como Solzhenitsyn, Sharansky, Havel, Walesa e muitos outros – incluindo mártires como o padre Jerzy Popieulsko, compatriota de Karol Wojtyla e milhares de outros nos campos de concentração e nas gulags. Ainda assim, o comentário feito por João Paulo II – em privado, sem cerimónias, como se estivesse simplesmente a afirmar o óbvio – mostra, de forma muito resumida, como um espírito profundo olhava para uma força maligna que – de acordo com a bitola meramente mundana do poder – podia ter durado indefinidamente: «Era uma questão de tempo. Foi feito para falhar».
Nos nossos dias a América foi tomada por um secularismo ideológico e agressivo que parece estar a tornar-se norma do Ocidente e ter vindo para ficar por tempos indeterminados – uma marcha em câmara lenta rumo a um novo socialismo desumano. (Sendo que o actual espectáculo eleitoral não dá qualquer indício de produzir um resultado capaz de o combater). Por isso é bom recordar por que razão este tipo de sistema tem tudo para – provavelmente mais a curto prazo do que a longo – falhar.
Claro que há amplas razões humanas e culturais pelas quais o humanismo ideológico não é compatível com uma vida humana plena. Mas primeiro pensei que poderia ser útil ver umas provas concretas. A sempre útil Pew Research Center conduz estudos equilibrados e bem feitos da religião na vida pública. O seu estudo global, por exemplo, revela que os «nones», ou seja, aqueles que não professam qualquer religião (e, por alguma razão, os budistas), têm as taxas mais baixas de nascença, muito abaixo da taxa de substituição, enquanto os cristãos e os muçulmanos têm as mais altas. Embora haja previsão de os «nones» crescerem um pouco nas próximas décadas, vão diminuir bruscamente enquanto percentagem da população global. Cristãos e muçulmanos serão, cada um, um terço da população mundial em 2100.
Na América os padrões são um bocado piores que o cenário global: Os «nones» devem continuar a crescer até serem cerca de 25%, mas os cristãos continuarão a constituir 66% da população do país em 2050 (um bocado abaixo dos 70% actuais).
A Pew limita-se, e bem, a analisar números. Mas que tipo de cristãos e de «nones» é que teremos em 2050? Essa é que é a questão central. Desde que cheguei a Washington nos anos 80, quando a religiosidade estava em ascensão, já vi como as tendências podem mudar. O Espírito sopra onde quer e à medida que as vidas dos «nones» se tornam mais e mais inegavelmente insípidas, como já acontece em partes da Europa, poderemos ser surpreendidos por ressurgimentos repentinos.
Tudo virou pó |
Podemos fazer o mesmo hoje com o inevitável fracasso do humanismo militante:
Sem a crença numa dignidade humana que radica no Criador, como se lê na nossa Declaração de Independência, não existe qualquer base para uma sociedade livre para além da fraca mentalidade de «viver e deixar viver», que deixará de ter qualquer utilidade a partir do momento em que um grupo ou pessoa se torna suficientemente poderosa para dizer «vive assim, ou morre».
Isto é, aliás, precisamente o que estamos a ver nas sociedades democráticas avançadas, um regime autoritário de direitos – alguns absurdos e novos como o casamento homossexual e as normas de casas de banho para transgéneros – que negam não só a história, a razão, a religião e a biologia, mas até o senso comum.
Tal como na antiga União Soviética, o regime levará a cabo esforços cada vez mais agressivos para sustentar uma visão da pessoa e da sociedade que na verdade se mina a si própria, mas trata-se de uma proposição falhada. Mesmo os pagãos sabiam que ser pode «expulsar a Natureza com uma forquilha, mas ela volta sempre».
Que as Igrejas e as instituições formadoras de cultura, tais como as universidades e os media, parecem incapazes de compreender esta tendência, ou estão mesmo comprometidos com ela, é irritante. Mas no final de contas pouco importa. Quando o ciclo se completar, voltarão a cumprir as suas funções mais nobres.
Os secularistas militantes pensam que não estão a fazer nem mais nem menos do que ajudar a conduzir a história no rumo certo. Mas não existe um simples rumo. O desapontamento com os resultados – tal como aconteceu quando a história não conduziu inevitavelmente ao «socialismo científico» – poderá bem ser o maior impulso para um renovamento espiritual.
Podíamos continuar, mas vocês percebem a ideia.
Claro que não sei quando é que tudo isto vai passar, mas para saber que falhará basta ter a confiança revelada por João Paulo II de que existe um Deus e uma natureza humana; que as sociedades, por mais decaídas, não o estão para sempre nem se encontram para lá da salvação; que os esquemas que são feitos para falhar, falharão.
O nosso desafio passa por ter o cuidado de viver bem entretanto e preparar-nos – e os espaços em redor – para o que inevitavelmente seguirá.
Sem comentários:
Enviar um comentário