sábado, 28 de dezembro de 2013

Quem terá publicado
este poema «de Natal»?


Heduíno Gomes

Quem terá publicado este poema «de Natal»? Algum órgão católico? Ou um órgão do reviralho? Ou um órgão maçónico?

Pois foi o sítio da Pastoral da Cultura, animada pelo impagável padre Tolentino,  igualmente animador da Capela do Rato.

Eis então a exortação do Natal subscrita pelo padre Tolentino, da qual se recomenda a interpretação do texto e se faz notar a ausência da figura verdadeiramente central do Natal. O poema é de David Mourão-Ferreira, publicado em 1967.


Natal, e não Dezembro

     Entremos, apressados, friorentos,
     numa gruta, no bojo de um navio,
     num presépio, num prédio, num presídio
     no prédio que amanhã for demolido...
     Entremos, inseguros, mas entremos.
     Entremos e depressa, em qualquer sítio,
     porque esta noite chama-se Dezembro,
     porque sofremos, porque temos frio.

     Entremos, dois a dois: somos duzentos,
     duzentos mil, doze milhões de nada.
     Procuremos o rasto de uma casa,
     a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
     Entremos, despojados, mas entremos.
     De mãos dadas talvez o fogo nasça,
     talvez seja Natal e não Dezembro,
     talvez universal a consoada.





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