terça-feira, 1 de outubro de 2013

Um sacerdote interroga-se
sobre a doutrina de certa hierarquia

Nuno Serras Pereira

Respostas eminentemente pastorais e prontas

Nós, sacerdotes, somos assaltados com miríades de perguntas surpreendentes sobre assuntos que cuidávamos serem consabidos de todos. Eu tenho gasto muito tempo quer por conversas quer por escrito em procurar responder longamente explicando com minúcia o que Nosso Senhor ensina através da Sua Igreja. Mas descobri agora que tenho andado enganado e que há um método expedito e altamente esclarecedor – responder a uma pergunta com outra que deixa o conteúdo da interrogação em aberto e remata para o olhar afectuoso de Jesus.

Daqui em diante quando me perguntarem se a Igreja aprova:

a) o adultério deverei responder: Deus, quando olha para uma pessoa adúltera, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-a, condenando-a?

b) o salário injusto deverei retorquir: Deus, quando olha para uma pessoa injusta, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-a, condenando-a?

c) os sacerdotes predadores sexuais que das crianças deverei replicar: Deus, quando olha para a pessoa do sacerdote que comete esses abusos, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-a, condenando-a?

d) a matança de judeus por parte de nazis deverei retrucar: Deus, quando olha para uma pessoa nazi, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-a, condenando-a?

e) o abortamento de milhões de pessoas nascituras por parte dos controladores demográfico e patrões e empregados da indústria do aborto deverei volver: Deus, quando olha para essas pessoas matadoras, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-as, condenando-as?

f) a imensidade de idosos eutanasiados socialmente ou «medicamente» deverei ripostar: Deus, quando olha para essas pessoas eutanazis, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-as, condenando-as?

g) o terrorismo que dizima multidões de inocentes deverei tornar: Deus, quando olha para essas pessoas terroristas, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-as, condenando-as?

Ora aí está uma pastoral esclarecida e fecunda.





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