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Numa sociedade cada vez mais secularista, a noção entre o bem e o mal tem vindo a esbater-se. Se recusarmos assumir que o bem e o mal são realidades naturais, como é que faz sentido falar-se em justiça? Existem interesses políticos e económicos que visam extinguir da nossa sociedade uma certa consciência moral. É o principio de todas as tiranias: prometem de início o cumprimento de todos os desejos humanos, dando rédea solta a todos os instintos e apetites, mas rapidamente se apoderam da liberdade de um povo.
E foi o que aconteceu connosco. Portugal não perdeu apenas soberania com a dívida pública, antes disso, perdeu um depósito moral que urge repor. A televisão não ficou indiferente a este fenómeno, explicando-se deste modo o florescimento de programas televisivos moralmente degradantes, como «a casa dos segredos», nos quais, em vez de se enaltecer as virtudes humanas, se idolatram os vícios privados e se promove a boçalidade. Escasseiam as pessoas que falam com a mínima convicção sobre o bem e o mal e quando alguém expressa este tipo de opinião ela é escarnecida, apontada como fundamentalista – como se fosse possível haver alguma tolerância perante o lamaçal da degradação humana.
Temos assistido a um aumento da corrupção, criando-se a percepção perigosa de que aqueles que ontem foram as vítimas, se tiverem oportunidade, convertem-se amanhã em carrascos. Impera o principio justificativo «todos fazem assim...». E quando alguém deixa de acreditar nos princípios é porque deixou de os ter. A corrupção não se combate apenas com leis gerais, numa planificação em grande escala. A corrupção só se combate eficazmente quando o indivíduo reconhece que o mal está dentro de si próprio. Mas como será possível alcançar este objectivo se apenas se promove o auto-endeusamento?
Esta crescente idolatria pelos centros de rejuvenescimento, relaxamento e anti-stresse é psiquicamente estéril. A fecundidade está no acto de nos questionarmos quanto ao que está certo e se, porventura, nos teremos equivocado; a fecundidade está na reflexão pessoal e no desejo de enriquecer as nossas qualidades humanas. Não é possível melhorarmos enquanto país se não melhorarmos enquanto pessoas. E este elemento de mudança não está ao alcance de nenhum governo.
Um país para ser verdadeiramente livre e próspero terá de fomentar a autocrítica e o pensamento, defender uma consciência moral, assumir que existe um bem-comum e que todos nós somos responsáveis pela sua conquista. Devido à constante correria é provável que hajam muitas pessoas que nem sequer tenham consciência disso. É preciso travar esta agitação febril para as soluções fáceis, penetrando na raiz do problema. Pior do que termos uma praga de «spas» é entronizarmos a decrepitude e entregarmo-nos submissos à época viciosa em que vivemos.
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