Recentemente um sacerdote lamentava-se de passar horas a fio no confessionário sem que ninguém aparecesse. Ora, num país que se diz maioritariamente católico, este fenómeno merece reflexão, pois se os confessionários estão vazios os «spas» são cada vez mais procurados. Por conseguinte, talvez não seja por acaso que Portugal ocupe um indecoroso 32ºlugar no Índice de Percepção da Corrupção, relativo a 2011, divulgado pela Transparência Internacional, de um total de 183 países avaliados.
Numa sociedade cada vez mais secularista, a noção entre o bem e o mal tem vindo a esbater-se. Se recusarmos assumir que o bem e o mal são realidades naturais, como é que faz sentido falar-se em justiça? Existem interesses políticos e económicos que visam extinguir da nossa sociedade uma certa consciência moral. É o principio de todas as tiranias: prometem de início o cumprimento de todos os desejos humanos, dando rédea solta a todos os instintos e apetites, mas rapidamente se apoderam da liberdade de um povo.
E foi o que aconteceu connosco. Portugal não perdeu apenas soberania com a dívida pública, antes disso, perdeu um depósito moral que urge repor. A televisão não ficou indiferente a este fenómeno, explicando-se deste modo o florescimento de programas televisivos moralmente degradantes, como «a casa dos segredos», nos quais, em vez de se enaltecer as virtudes humanas, se idolatram os vícios privados e se promove a boçalidade. Escasseiam as pessoas que falam com a mínima convicção sobre o bem e o mal e quando alguém expressa este tipo de opinião ela é escarnecida, apontada como fundamentalista – como se fosse possível haver alguma tolerância perante o lamaçal da degradação humana.
Temos assistido a um aumento da corrupção, criando-se a percepção perigosa de que aqueles que ontem foram as vítimas, se tiverem oportunidade, convertem-se amanhã em carrascos. Impera o principio justificativo «todos fazem assim...». E quando alguém deixa de acreditar nos princípios é porque deixou de os ter. A corrupção não se combate apenas com leis gerais, numa planificação em grande escala. A corrupção só se combate eficazmente quando o indivíduo reconhece que o mal está dentro de si próprio. Mas como será possível alcançar este objectivo se apenas se promove o auto-endeusamento?
Esta crescente idolatria pelos centros de rejuvenescimento, relaxamento e anti-stresse é psiquicamente estéril. A fecundidade está no acto de nos questionarmos quanto ao que está certo e se, porventura, nos teremos equivocado; a fecundidade está na reflexão pessoal e no desejo de enriquecer as nossas qualidades humanas. Não é possível melhorarmos enquanto país se não melhorarmos enquanto pessoas. E este elemento de mudança não está ao alcance de nenhum governo.
Um país para ser verdadeiramente livre e próspero terá de fomentar a autocrítica e o pensamento, defender uma consciência moral, assumir que existe um bem-comum e que todos nós somos responsáveis pela sua conquista. Devido à constante correria é provável que hajam muitas pessoas que nem sequer tenham consciência disso. É preciso travar esta agitação febril para as soluções fáceis, penetrando na raiz do problema. Pior do que termos uma praga de «spas» é entronizarmos a decrepitude e entregarmo-nos submissos à época viciosa em que vivemos.
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