terça-feira, 29 de setembro de 2009

A urgência de trazer Deus para a vida social

Na recente encíclica social, o Papa Bento XVI diz que o desenvolvimento é uma vocação, Deus, tendo criado os homens, chama-os continuamente para que se empenhe no desenvolvimento. O Papa não defende um cessar do desenvolvimento, não condena a tecnologia, não desconfia do bem estar, mas pede que tudo tenha em vista o homem e que nunca se olhe para o homem sem ter em conta toda a sua humanidade. É assim que o Papa mostra que não pode haver desenvolvimento integral do homem quando se põe Deus de lado. Deus não está ao lado da vida do homem, e não pode ser posto ao lado da vida social. «O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano. Só o humanismo aberto ao Absoluto pode guiar-nos na promoção e realização de formas de vida social e civil preservando-nos do risco de cairmos prisioneiros das modas do momento» (Caritas in veritate, 78).
Na política, na vida familiar, no trabalho, quando se abordam as questões como as migrações, o ambiente ou a bioética, quando se procuram soluções para os desafios da educação, da economia, da cultura e da arte, nunca se terá uma visão completa se Deus ficar de lado. É o coração do homem, a sua capacidade de perguntar pelo sentido das coisas e o seu desejo de infinito que obrigam a pôr a questão de Deus, a procurá-Lo e a reconhecer os sinais da Sua presença.
O estranho é que hoje dizer isto é entrar numa grande batalha cultural. Não se pode falar de Deus em todo o lado. Vêm logo acusações de que somos alucinados, tontinhos, ou fundamentalistas. São mesmo várias as «forças» que defendem que Deus seja dispensado da vida social. Velhos e novos ateísmos aparecem com o mesmo olhar redutor que fecha a humanidade à eternidade e a limita ao tempo e ao espaço em que vivem. Estamos numa apaixonante batalha. Não podemos ter medo. Temos Deus connosco.
Em Portugal avizinham-se as eleições, um pouco por toda a Europa se fala de política, a todos preocupa o desemprego e a crise económica. Há problemas ambientais que exigem colaboração de todos. Sente-se uma falta de segurança crescente nas cidades. Na comunicação Social cada vez se sabe menos o que é verdade e o que é mentira. A droga continua a seduzir e destruir muitos jovens e menos jovens. A vida vai perdendo o valor que tem em si mesma para passar a ser uma coisa que depende da «utilidade» e, por isso, depois de se aprovar o aborto, aparecem os defensores da Eutanásia com ar de compaixão, mas perdidos sem saber bem o que se está a fazer na vida. Enfim tantas questões que mostram bem como estamos mesmo diante de questões que tocam connosco.
É exactamente por tudo isso que os cristãos são convocados a intervir na vida social. Fazendo a experiência do Amor de Deus temos o dever de O anunciar. Não podemos ter vergonha, não podemos aceitar sem mais que Deus saia da vida. Não podemos reduzir a nossa vida cristã ao que fazemos na Igreja ou à oração pessoal e escondida. Deus tem direito de cidadania. A vida familiar, o ambiente social e até a política precisam de Deus. A Igreja na Europa, neste velho continente laicizado tem esta obrigação. Se aqui, ao contrário do que se passa na Ásia, na América e em África, a Igreja não está a crescer é, provavelmente, porque os cristãos, aceitando o secularismo como uma fatalidade, também puseram Deus num canto. E, no entanto, não podemos desanimar e todos os dias podemos recomeçar. Como recorda o Santo Padre, «Deus dá-nos a força de lutar e sofrer por amor do bem comum, porque Ele é o nosso Tudo, a nossa esperança.» (Caritas in Veritate 78).

Padre Duarte Cunha

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