quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A ruptura da França

Gérard Collomb, (centro) que até ao mês passado esteve à frente
da pasta do ministério do Interior de França e hoje ocupa o cargo
de prefeito de Lyon, vê com pessimismo a situação na qual o seu país se encontra.
«É difícil calcular, mas diria que em cinco anos a situação poder-se-á
tornar irreversível. Sim, temos cinco, seis anos para evitar o pior»,
realçou não falta muito tempo.
(Foto: Aurelien Meunier/Getty Images)
Giulio Meotti, Gatestoneinstitute, 20 de Janeiro de 2019

Original em inglês: The Fracturing of France

Tradução: Joseph Skilnik

  • Num novo programa, o governo do presidente Macron está a oferecer aulas do idioma árabe nas escolas públicas da França a crianças a partir dos 6 anos de idade, ao que consta, para facilitar a integração.
  • As autoridades francesas parecem não dar a devida atenção para o facto de que a esmagadora maioria dos terroristas da França eram cidadãos franceses, que falavam perfeitamente o francês e que diferentemente dos seus pais, nasceram em França. Estavam perfeitamente «integrados». Eles rejeitaram a integração.

O presidente dos EUA, Donald Trump e o presidente da França, Emmanuel Macron, envolveram-se num bate-boca diplomático em público, dias antes de Trump visitar a França no corrente mês. A troca de farpas começou quando, numa entrevista pelo rádio, Macron sugeriu que a Europa precisava de um exército para se proteger dos Estados Unidos. «Temos que nos proteger da China, Rússia e até dos Estados Unidos da América», salientou Macron.

Proteger a França dos Estados Unidos? Num discurso em 11 de Novembro, em comemoração do fim da Primeira Guerra Mundial, Macron saudou diplomaticamente o seu convidado, atacando o «nacionalismo». Trump orgulhosamente referiu-se a si mesmo como «nacionalista» menos de três semanas antes do evento.

Parece que Macron aproveitou a comemoração do armistício assinado em 1918 para esquecer o que está a acontecer em França em 2018.

Gérard Collomb, que até ao mês passado esteve à frente da pasta do Ministério do Interior de França e hoje ocupa o cargo de prefeito de Lyon, vê com pessimismo a situação na qual o seu país se encontra, segundo a revista semanal Valeurs Actuelles. «As pessoas não querem viver juntas», lamentou Collomb, salientando que a responsabilidade pela segurança durante a recente imigração foi «gigantesca». Collomb também alertou que há «pouquíssimo tempo» para melhorar a situação. «É difícil calcular, mas diria que em cinco anos a situação poder-se-á tornar irreversível. Sim, temos cinco, seis anos para evitar o pior», realçou.

E o pior será a «secessão» ou como Gilles Kepel, especialista francês em Islão, classificou: «A Ruptura»

Macron, no entanto, não está lá muito aberto ao alerta de Collomb. Ao que consta um homem aos gritos de «Allahu Akbar» esfaqueou um policia em Bruxelas nesta semana durante uma visita oficial de Macron à capital belga, a primeira de um presidente francês desde a  visita de Mitterrand nos anos de 1980. Macron também foi ao distrito de Molenbeek, em Bruxelas, que chamou «de território marcado pela imagem do drama terrorista e também de um lugar de iniciativas, compartilhamento e integração». Compartilhamento e integração?

Oito pessoas foram presas numa rusga contraterrorista em Março de 2018 em Molenbeek. No ano passado, um relatório confidencial revelou que no mesmo distrito de Bruxelas a polícia constatou a existência de 51 organizações suspeitas de manterem ligações com o terrorismo jihadista. Muitos dos suspeitos que participaram dos ataques terroristas em Paris e Bruxelas moravam ou operavam a partir de Molenbeek. Conforme Julia Lynch salienta no jornal Washington Post em relação a Molenbeek:

«Uma das 19 ‘comunas’ na região metropolitana de Bruxelas, bairro do domicílio de um dos perpetradores dos atentados contra o comboio em Madrid em 2004 e também do francês que baleou quatro pessoas no Museu Judaico em Bruxelas em Agosto de 2014. Thalys, marroquino que disparou contra o trem Bruxelas-Paris em Agosto de 2015 morava com a sua irmã em Molenbeek

Se existe um lugar onde a explicação de Collomb sobre «secessão» não é somente um alerta, mas uma realidade, é Molenbeek. Num artigo no jornal The New York Times, Roger Cohen chama à região de «Estado Islâmico de Molenbeek.» E a existência desses distritos não é um fenómeno belga. «Hoje sabemos que há 100 bairros similares em potencial em França com as características do ocorrido em Molenbeek», salientou o então ministro da Juventude e Desporto Patrick Kanner, em 2016. Um desses distritos é Trappes, famoso não só por conta do craque do futebol internacional Nicolas Anelka, mas também pelo número de jihadistas que foram lutar na Síria ou no Iraque.

O secretário de estado do ministro do Interior, Laurent Nunez divulgou que seis ataques terroristas foram evitados antes de serem executados neste ano na França. «Desde Novembro de 2013, 55 ataques islamistas também foram frustrados graças à acção dos serviços de inteligência, incluindo seis somente este ano», salientou Nunez.

Nos últimos meses, o cenário francês não está a ser dominado por novos e marcantes ataques terroristas mas sim por uma profusão diária de intimidação. Na semana passada, um francês de cerca de 60 anos estava a andar por uma rua de Paris carregando presentes de Natal, quando um desconhecido arrancou os seus óculos e o esbofeteou. «É isso que fazemos aos infiéis», disse o agressor à sua vítima. Dias antes um judeu, cidadão francês, também foi atacado na rua por três homens.

Na frente ideológica, «Macron está a seguir os passos dos presidentes que tentaram e falharam em estabelecer o Islão em França», conforme relata o site Politico. De acordo com o Wall Street Journal:

«Agora o governo do presidente Emmanuel Macron está a pensar em apresentar aos pais uma alternativa secular ao entrelaçamento do árabe com o Islão, estimulando mais escolas públicas em França a oferecerem a crianças desde os 6 anos de idade aulas do idioma árabe...»

Robert Ménard, prefeito da cidade na região sul de Béziers, declarou que «ensinar árabe criará mais guetos». As autoridades francesas parecem não dar a devida atenção para o facto de que a esmagadora maioria dos terroristas da França eram cidadãos franceses, que falavam perfeitamente o francês e que diferentemente dos seus pais, nasceram em França. Estavam perfeitamente «integrados». Eles rejeitaram a integração.

A confirmação da existência da onda islamista veio em Setembro último num relatório aterrador do Institut Montaigne intitulado «A Fábrica Islamista.» O documento esmiúça o carácter extremo da radicalização da sociedade muçulmana francesa. Segundo o director do instituto, Hakim El Kharoui, os muçulmanos extremistas em França estão «a criar uma sociedade alternativa, paralela e separada. Composto pelo elemento chave: halal.» Macron não fez quase nada para conter a expansão.

«Duas ou três mesquitas salafistas foram fechadas em 18 meses, mas o financiamento estrangeiro de mesquitas não foi proibido», salientou a presidente do partido Frente Nacional, Marine Le Pen, recentemente. O objectivo do financiamento vindo do exterior foi explicado pelo ex-presidente do Partido Democrata Cristão, Jean-Frédéric Poisson, no seu novo livro «Islão, Conquistando o Ocidente». «A expansão do Islão no Ocidente faz parte de um plano estratégico elaborado pelos 57 países que compõem a Organização de Cooperação Islâmica, uma espécie de Organização das Nações Unidas Muçulmana, que teorizou a disseminação da lei da Sharia na Europa», salientou Poisson numa entrevista este mês. «Os participantes declararam abertamente a ambição de estabelecer uma 'civilização de substituição' no Ocidente.»

Há, no entanto, mais em jogo do que apenas a esfera cultural. Philippe De Villiers, político e ensaísta próximo a Macron, evocou de uns tempos para cá uma frase cunhada pelo seu irmão, general Pierre de Villiers, antigo chefe dos militares franceses. O general de Villiers havia alertado Macron sobre uma possível implosão interna nos voláteis subúrbios parisienses: «os lados mais sombrios da Cidade Luz». Segundo Philippe De Villiers, o seu irmão teria dito a Macron: «se os subúrbios se revoltarem, não teremos condições de dar conta da situação, não podemos dar-nos ao luxo de enfrentá-los, não temos os recursos humanos para tanto».

Dois jornalistas do influente jornal Le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme acabam de publicar um livro intitulado Inch'allah: L'islamisation à visage découvert («Com a Graça de Alá: A Face Exposta da Islamização»), uma investigação sobre a «islamização» no extenso subúrbio parisiense de Seine-Saint-Denis. Naquele subúrbio bem como em muitos outros, o antissemitismo está a aumentar. Segundo o primeiro-ministro francês Eduard Philippe, «actos» registados contra judeus subiram 69% nos primeiros nove meses de 2018. Francis Kalifat, presidente do órgão oficial que representa as comunidades judaicas em França chamou o antissemitismo de «cancro».

Numa reportagem realizada em Paris neste Verão, o jornal The New York Times esclareceu o êxodo judaico dos subúrbios multiculturais: «mais de 50 mil mudaram-se para Israel desde 2000 em comparação com cerca de 25 mil judeus franceses que partiram entre 1982 e 2000». Há também um êxodo interno:

«Em Aulnay-sous-Bois, o número de famílias judias encolheu de 600 em 2000 para 100 em 2015, em Le Blanc-Mesnil de 300 famílias para 100, em Clichy-sous-Bois de 400 para 80 famílias judias e em La Courneuve das 300 famílias restaram 80.»

«É possível que estejamos vivenciando o fim de uma civilização, a nossa», ressalta Philippe de Villiers, político e romancista francês.

«Há dois pontos em comum entre a decadência do Império Romano e a nossa própria decadência. A nobreza senatorial romana, que só pensava em acrescentar uma camada de pórfiro nas suas banheiras, não queria saber de muros como fronteira do Império, como premência a ser zelada».

Ao que tudo indica, Macron está ocupado apenas em adicionar uma camada de pórfiro à «grandeza francesa».

No ano passado, Macron apresentou-se como candidato que iria «romper com o sistema.» Em cinco anos, o seu mandato presidencial chegará ao fim. Segundo o seu ex-ministro do interior, Gérard Collomb, esses provavelmente serão os últimos anos antes da verdadeira «ruptura» se tornar irreversível. Não só para a França, mas também para a Europa.





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