Luis Dufaur, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, 9 de Maio de 2017
Continuação do artigo anterior: «Manipulação da mensagem de Fátima pela Rússia»
No Ocidente está a haver boas reacções crescentes contra a ofensiva da Revolução Cultural de substância marxista-gramsciana.
Tentando explorá-las, a propaganda do Kremlin passou a apresentar cinicamente a Rússia de Putin como um sedutor porto da salvação de onde pode vir o reerguimento moral e intelectual dos cristãos perseguidos.
A desinformação russa veicula no Ocidente que Putin teria a «missão providencial» de salvar o cristianismo |
Líderes políticos de «direita» e até de «extrema-direita», escreveu Smits, passaram a ser recebidos em Moscovo como romeiros que procuram as bênçãos de um novo Carlos Magno.
Embora ele declare que conserva piedosamente a sua carteirinha do Partido Comunista da URSS…
Pouco importa se estes políticos de «direita» defenderam no passado e sem retractação o «direito» ao aborto, o «casamento» homossexual ou leis de espírito socialista e confiscatório.
Pouco importa se a Rússia tem o maior número de abortos por mulher em idade fértil do mundo, observa espantada Jeanne Smits.
Procissão na Rússia para adorar o mais recente enviado de Deus: Vladimir Putin! |
A formação dada nas escolas do KGB apagava qualquer senso moral ou remorso na hora de procurar objectivos concretos.
Smits exemplifica com o problema do embrião de República Universal anticristã que germina na União Europeia (UE). Os europeus de bem percebem que este monstrengo é maléfico e querem abandoná-lo. O Brexit foi um caso típico.
Então os enviados de Putin passaram a gritar contra a UE e até a facilitar dinheiro para os anti-UE.
Mas estes mesmos acólitos nas suas reuniões preconizam como alternativa uma «confederação de Brest a Vladivostok». Esta seria uma «União Euro-asiática» que faria a inveja dos mais delirantes fundadores e teorizadores da decadente União Europeia. E os conservadores seduzidos estariam ludibriados e silenciados.
Esta nova confederação, de maneira muito concreta acabaria realizando os objectivos planetários da organização opressiva e utópica dirigida desde Bruxelas. Só que o comando supremo ficaria em Moscovo.
Para ver com clareza a inversão radical em acto não é preciso ir muito longe, escreve Smits.
Um outro exemplo da experiente jornalista. A Igreja católica, ainda quando é mal representada, guarda em si potencialidades de restauração do bem que inviabilizariam a conquista do mundo por qualquer adversário que encarne o mal. António Gramsci partiu desta constatação para elaborar a sua estratégia marxista.
Moscovo seria a «nova Roma» e os cristãos não poderiam voltar em grupo ao catolicismo! |
Fácil, talvez pense Moscovo. Fazer acreditar que a cabeça d’Ela migrou para o Kremlin conservando a continuidade como Igreja de Jesus Cristo. Moscovo seria a nova Roma e o Patriarca de Moscovo o verdadeiro Papa escolhido pelo Espírito Santo!
Smits fornece alguns exemplos. Um «próximo entre os próximos» de Vladimir Putin, o multibilionário Konstantin Malofeev financiador da restauração do Patriarcado de Moscovo, sustenta o think-tank Katehon dirigido pelo pensador gnóstico Aleksandr Dugin, teorizador desta super-UE euro-asiática ou «eurasianismo».
Numa série de artigos publicados nos dias 27 e 28 de Março de 2017 em Katehon, Charles Upton e a sua mulher Jennifer Doane Upton interpretaram ao modo gnóstico de Dugin a descrição do Purgatório da Divina Comédia de Dante Alighieri.
Charles Upton apostatou do catolicismo para se converter ao islamismo místico, ou sufi. E o título do trabalho do casal é suficientemente explícito: «A profecia de Dante sobre a queda da Igreja Católica Romana».
Eles explicam que não se inspiraram em pensadores como Santo Agostinho ou Santo Tomás, mas basearam-se sobretudo nos «filósofos tradicionalistas René Guénon e Fritjof Schuon», sendo este um esotérico sincretista.
O francês René Guénon morreu no Cairo como sufi, aduzindo que tinha achado a fina ponta da «Tradição» no misticismo islâmico.
A análise do casal Upton conclui que a «nova-Rússia» e o Patriarcado de Moscovo vão salvar a Igreja do Ocidente, extinguindo a sucessão dos Papas de Roma.
Para tornar mais sedutora a enganação, a funambulesca análise diz que por esta via se encerraria a crise aberta pelo Vaticano II, o modernismo e o liberalismo.
Montagem da desinformação: a Rússia não professa os «erros da Rússia» que passaram a ser exclusivamente os «erros do Ocidente»! |
E forja o inacreditável: que tendo Roma perdido a Fé, a religião cismática da Rússia virou a única religião cristã verdadeira.
O delírio da tese bate bem com as alucinações do sufismo islâmico. Mas, sobretudo, com as metas expansionistas do comunismo metamorfoseado de Vladimir Putin.
Katehon e o esoterismo de Aleksandr Dugin exploram a confusão nos católicos favorecida por desconcertantes actos, gestos, omissões e afirmações do pontífice.
E a montagem russa está toda feita para seduzi-los e fazê-los aceitar uma convergência entre Putin e um representante do Vaticano disposto a entrar no jogo.
Em 2015, um editorial de Katehon impostava-se numa visão ecuménica e pancristã. E exigia que a Igreja católica renunciasse a converter os outros cristãos desviados pelos erros dos cismas orientais e do protestantismo.
Esta reclamação iníqua vem a ser repetida pelo Patriarcado de Moscovo a propósito da conversão em massa dos ucranianos para o rito greco-católico. Também está na Declaração de Havana assinada pelo Papa Francisco e pelo Patriarca de Moscou Kirill.
A reclamação se atendida reforçaria o império do KGB sobre o mundo cristão.
A conclusão destes malabarismos todos seria que os apóstatas e inimigos do cristianismo são os fiéis à Igreja católica como Ela é, modelada durante dois mil anos pelo Espírito Santo e pelo ensinamento do seu Magistério tradicional.
A falsidade da manobra, mostra Smits, atinge o seu auge tentando virar a mensagem de Nossa Senhora em Fátima contra os católicos.
Mas os católicos, sublinha a jornalista, sabem que a Igreja está construída sobre a rocha que é Pedro e que as portas do Inferno não prevalecerão contra Ela. Mesmo quando se abatem sobre Ela as piores tempestades, da mesma maneira que aconteceu no passado e ainda haverá de se verifica no futuro.
Os escritores e jornalistas associados a Katehon excogitam sofismas para tentar matar esta Fé invertendo o sentido das palavras de Nossa Senhora em Fátima e La Salette.
Jeanne Smits: «se eu fosse o KGB teria feito tudo como está acontecendo» |
escreve Jeanne Smits:
«se eu fosse o KGB e tivesse os meios para forjar uma imensa montagem, eu teria favorecido com todas as minhas forças a desmontagem da liturgia católica, a ascensão do relativismo e por fim eu teria espalhado que a Igreja de Roma fracassou.
«Eu também teria tido a precaução de favorecer um renascimento ortodoxo».
E é isso o que parece ter sido concebido e estar sendo posto em prática.
É uma manobra suprema contra a Igreja, invertendo luciferinamente o sentido das palavras de Nossa Senhora em Fátima.
Quiçá seja esta a suprema tentativa dos «erros da Rússia» contra o catolicismo autêntico.
Mas terá sido a última antes de serem esmagados pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria anunciado por Nossa Senhora aos três pastorinhos em Portugal.
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