quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Pode um pai ser misericordioso
e severo ao mesmo tempo?
Cardeal Müller oferece a resposta
(…)
Ao ser perguntado sobre se é possível ser misericordioso ao corrigir os erros doutrinais, o cardeal respondeu: «Pode um pai ser misericordioso e severo ao mesmo tempo? Na verdade, se um pai não corrige os seus filhos e, ao invés disso, justifica ou minimiza os seus erros, não os amaria ou os enviaria directamente para a destruição».
No fundo, precisou, «um pai que não ajuda os seus filhos a reconhecer os seus erros, não os ama de verdade e não confia na possibilidade de que eles mudem».
«Porque a misericórdia contém em si, de forma indelével e inseparavelmente, o amor e a verdade. Pertence à tradição cristã, das Escrituras até o Magistério dos últimos Papas, que amor e verdade estão juntos: não existe amor sem verdade e não existe verdade autêntica sem amor. E isto acaso não deveria ser válido também para a doutrina?».
A misericórdia, explica o Cardeal, «é o contrário do laissez faire (deixar fazer)… esta não é a atitude de Deus frente ao homem: basta ler os evangelhos e ver como se comportava Jesus, era bom, mas ao mesmo tempo não ocultava a verdade. E a doutrina tem o mesmo objectivo de ajudar-nos a conhecer a verdade, ajuda-nos a aceitá-la na sua integridade e não enganar a verdade».
«A doutrina, para os cristãos, não tem como última referência as ideias (que temos) sobre Deus ou sobre a salvação que nos oferece, mas a vida mesma de Deus e a sua irrupção na vida do homem: é uma ajuda para compreender quem é Deus e o que está em jogo com a salvação que Deus oferece à vida concreta do homem».
Entretanto, «para compreender tudo isto, é necessária uma razão humilde, que não se coloca presunçosamente como a medida de todas as coisas. Infelizmente, o pensamento que surge da modernidade, que nos deixou também uma herança de muitas coisas belas, privou-nos desta humildade». …
O cardeal alemão disse ainda que «a misericórdia por meio da qual Jesus reveste o nosso coração, às vezes com força, outras vezes com doçura, é uma onda de bem e de verdade com a qual nos urge mudar em metade a nossa vida e abrir-nos àqueles que vivem ao nosso lado, fazendo com que se sintam próximos».
«A misericórdia ajuda-nos a conhecer sempre mais aquele Deus que se revela em Jesus e nos revela sempre mais a nós mesmos. E nos ensina a olhar, a amar-nos a nós mesmos e aos outros nessa perspectiva de bem e de verdade através da qual Jesus mesmo nos vê».
Neste sentido, continuou o Prefeito, «para mim, é paradigmático da misericórdia o gesto da confissão sacramental. Cada vez que nos confessamos, nos aproximamos do Senhor com o olhar sobre os nossos pecados e podemos sair aliviados, contagiados pelo seu olhar sobre nós, algo justo e bom ao mesmo tempo, não faz concessões fáceis, mas não nos abandona ante as nossas misérias». … «Espero para a Igreja e para todos nós que sigamos Jesus sempre com mais fidelidade e amor, a fim de não permanecermos prisioneiros das nossas fragilidades e misérias. Assim, poderemos servir sempre melhor os nossos irmãos e irmãs, na Igreja ou fora dela, porque o mundo inteiro necessita de Cristo, precisa ser aliviado e renovado pelo seu amor».
«E porque a misericórdia – concluiu o cardeal alemão – é uma graça que vem do alto e muda a vida, nos recebe como estamos, mas não nos deixa iguais como antes.»
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário