quinta-feira, 23 de julho de 2015


O aborto como «cuidados de saúde»

segundo as trupes liberalóides do PSD e do CDS


Heduíno Gomes

Acaba de ser debatido e aprovado na Assembleia da III República um diploma pelo qual os abortos praticados no Serviço Nacional de Saúde passam a estar sujeitos ao pagamento da chamada «taxa moderadora».

Não pondo em causa o mínimo dos mínimos que é as abortadeiras passarem a pagar uns míseros euros que não cobrem a despesa que provocam ao SNS, não podemos deixar passar em claro o facto de um aborto, chamado técnica ou pudicamente «interrupção voluntária de gravidez», ou simplesmente «IVG», ser considerado acto médico a integrar nos «cuidados de saúde».

No debate assistimos à histeria habitual dos frágeis, a mando, e das abortadeiras do costume. Já estamos habituados à defesa daquilo a que chamam «dignidade da mulher». Sobre isso, tudo como dantes. Toda a gente conhece os argumentos desses bárbaros e a sua desmontagem — quer a politicamente correcta, quer a realmente correcta. O que há a destacar nesse debate é a argumentação oficial das chefias dos grupos parlamentares do PSD e do CDS no que diz respeito à alteração da lei impondo o pagamento da chamada «taxa moderadora» às abortadeiras.

As chefias parlamentares liberalóides do PSD e CDS, tanto nas intervenções como no texto do diploma, dão como assente e colocam no mesmo plano uma «IVG» e uma doença a ser tratada pelo SNS! Escrevem os chefes parlamentares no Projecto de Lei: «o PSD e o CDS-PP entendem que, por uma questão de justiça e de equidade no acesso aos serviços e aos cuidados de saúde, não faz sentido diferenciar positivamente a mulher que interrompe a gravidez por opção, face a todos os outros cidadãos que estão sujeitos a critérios para efeitos de isenção do pagamento de taxa moderadora».

E ainda: «Entendemos que as mulheres que interrompem a gravidez por opção devem estar sujeitas aos mesmos critérios que todos os outros cidadãos.»

Cuidados de saúde?...

Equidade?...

Aos mesmos critérios?...

Entre votos a favor e abstenções, a lei actual sobre o aborto foi aprovada pela maioria socratista e companhia, incluindo na companhia alguns e algumas inqualificáveis (chamemos-lhes simplesmente deslocados...) do PSD e do CDS. Agora, sendo a maioria parlamentar destes dois partidos — que se dizem civilizados e vão buscar votos ao eleitorado civilizado e até cristão —, poderiam ter mudado as coisas e corrigido a situação. Mas preferiram permanecer na barbárie do politicamente correcto e argumentar como bárbaros.

A questão do aborto reflecte bem a oposição que existe entre os valores da Civilização e as trupes dirigentes que actualmente se encontram à frente destes dois partidos. E também revela a falta de critério de alguns católicos (pelos vistos bem integrados no sistema) que gritam vitória pela imposição de uma taxa «moderadora» às abortadeiras.

(Passo ao lado da pontuação e redacção do texto da Lei, da autoria de quem também aprova outros abortos, como, por exemplo, o aborto ortográfico.)





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