Os novos inquisidores contra Ratzinger.
Recomeça a autodemolição da Igreja.
Antonio
Socci | Tradução: Fratres
in Unum.com
Houve grandes papas cujos pontificados foram praticamente minados pelos erros dos eclesiásticos que lhes eram próximos. Esse risco também existe para o Papa Francisco.
De facto, há episódios, decisões e «explosões bizarras» bastante desconcertantes por parte de alguns prelados. Penso no Cardeal Maradiaga e no Cardeal Braz de Aviz, que se sentem tão poderosos no Vaticano que usam o cacete tanto contra o prefeito do antigo Santo Ofício, Müller, bem como contra os Franciscanos da Imaculada.
Contra Bento XVI
Os alvos das suas «cacetadas» (dadas, obviamente, em nome da misericórdia) são aqueles que, de diversas maneiras, são identificados como paladinos da ortodoxia católica e que mantiveram relações com Bento XVI.
O verdadeiro alvo, de facto, parece ser justamente ele: o «culpado» de tantas coisas: desde a sua condenação histórica da Teologia da Libertação e defesa da sã doutrina até o Motu Proprio sobre a Liturgia.
O cardeal Oscar Maradiaga é arcebispo de Tegucigalpa, nas Honduras, diocese em decadência. Porém, o prelado, que circula pelos palcos dos meios de comunicação mundanos, recentemente deu que falar por causa da entrevista que concedeu a um jornal alemão, onde – além do lixo new age e banalidades terceiro-mundistas – atacou publicamente o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Müller, a quem o Papa recentemente concedeu a púrpura cardinalícia. Igualmente escandaloso é constatar que Maradiaga é o chefe da comissão que deveria reformar a Cúria.
O que acontecera? Müller, escolhido para esse cargo por Bento XVI e confirmado por Francisco, há poucos meses reiterou que, mesmo procurando novos caminhos pastorais (já indicados por Bento XVI), o próximo Sínodo sobre a família não pode subverter a lei de Deus com «um falso apelo à misericórdia» no que diz respeito à família homem-mulher, estabelecida por Jesus no Evangelho e que sempre foi ensinado pela Igreja.
Exibicionismo de Maradiaga
Müller, que já havia sido atacado pessoalmente por Hans Küng, [agora] foi arrasado por Maradiaga com estas palavras: «ele é um alemão e também um professor alemão de teologia. Na sua mentalidade existe só o verdadeiro e o falso. Só isso. Porém, eu digo: meu irmão, o mundo não é assim, você deveria ser um pouco flexível.» Essas palavras escandalizaram muitos fieis. Acima de tudo porque a alusão ao «professor alemão de teologia», inevitavelmente, faz pensar que o alvo fosse Bento XVI, que chamou Müller para aquela função. E também porque um ataque público entre cardeais é algo completamente fora de propósito, como se Müller estivesse ali para sustentar a sua teologia pessoal e não o ensinamento constante da Igreja e de todos os papas.
No final das contas, segundo Maradiaga, seria equivocado avaliar a realidade em termos de verdadeiro ou falso, – ele esquece-se que Jesus Cristo, no Evangelho, deu este preciso mandamento: «Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno» (Mt 5,37).
Será que Maradiaga prefere «Tudo o que passa além disto» o anúncio da Verdade? Quanto aos temas relacionados à família, em que [actualmente] temos uma ofensiva ideológica semelhante à marxista dos anos setenta, diversos eclesiásticos estão prontos – justamente como naquele tempo – a desistir.
E eles também o fazem com os sofismas de Maradiaga, que afirmou que as palavras de Jesus sobre o matrimónio são vinculantes, «porém, elas podem ser interpretadas», uma vez que hoje em dia há muitas situações novas de coabitação e há necessidade de «respostas que não podem basear-se mais no autoritarismo e o moralismo».
Essa frase sozinha liquida todo o Magistério da Igreja: evidentemente, de acordo com Maradiaga, até mesmo Nosso Senhor era autoritário e moralista, uma vez que Ele se expressou com grande clareza.
Mas o que significa «mais cuidado pastoral do que doutrina»? Todo o grande pastor, de Santo Ambrósio a São Carlos Borromeu, de Dom Bosco a Padre Pio, foi um paladino da doutrina.
Maradiaga diz que a família precisa de «respostas adaptadas ao mundo de hoje». Essas são palavras vazias e alusivas, que alimentam dúvidas e confusões. E essa é a maneira típica que hoje em dia se está espalhando na Igreja para suscitar indagações sem dar respostas.
A esse respeito, Santo Tomás de Aquino expressou-se assim: «Bem, estes são falsos profetas ou falsos doutores, pois levantar uma dúvida e não a resolver é o mesmo que concedê-la» (Sermão Attendite a falsis prophetis).
Actualmente, existem na Igreja pessoas que preferem o famoso questionário relativo ao Sínodo (que foi enviado a todas as dioceses do mundo e que é apresentado por alguns como uma pesquisa) às palavras de Jesus relatadas no Evangelho, como se a Verdade revelada devesse ser substituída pelas mais diversas opiniões.
Autodemolição
Também isso nos faz voltar aos anos Setenta, quando Paulo VI alarmado denunciava:
«Assim, a verdade cristã está passando por choques e crises assustadoras. Eles não aceitarão o ensinamento do Magistério […] Há alguns que tentam facilitar a fé esvaziando-a – a fé integra e verdadeira – daquelas verdades que parecem ser inaceitáveis à mentalidade moderna. Eles seguem os seus próprios gostos, para escolher uma verdade que seja considerada aceitável… Outros estão em busca de uma nova fé, especialmente, uma nova crença sobre a Igreja. Eles estão tentando conformá-la às ideias da sociologia moderna e da história profana».
É como varrer os pontificados de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI para voltar à tenebrosa década de 70, à autodemolição da Igreja (conforme definição de Paulo VI).
Não é uma renovação, mas o retorno ao passado mais desastroso.
A vergonha
Outro episódio de autodemolição da Igreja é a perseguição aos «Franciscanos da Imaculada», uma das famílias religiosas mais ortodoxas, mais vibrantes (cheias de vocações), mais ascéticas e missionárias. Porém, a sua zelosa fidelidade a Bento XVI (como já escrevi nesta coluna) começando com o seu Motu Proprio sobre a liturgia, não foi perdoada.
A inversão de papéis é chocante. De facto, no banco dos réus temos católicos obedientes e no papel de inquisidor temos o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, que, numa longa entrevista, proferiu palavras nostálgicas de elogio à desastrosa Teologia da Libertação, borrifando-se para a condenação que lhe fizeram Ratzinger e João Paulo II.
Braz de Aviz confessou tranquilamente que, naquela época, ele estava pronto a abandonar o seminário por aquelas ideias sociais. Entretanto, fez carreira. Actualmente, é o chefe da Congregação para os religiosos, e ele no mínimo é um religioso.
O prelado, que proclama ser muito amigo da Comunidade de Santo Egidio, tem uma ideia estranha de diálogo. Para ele, isso é importante para todos, menos para os católicos mais fieis ao Magistério.
Quando era arcebispo de Brasília, participou tranquilamente e foi palestrante numa conferência do Fórum Espiritual Mundial com o ex-frei Leonardo Boff, líder da Teologia da Libertação, com Nestor Masotti, Presidente da Federação Espírita Brasileira, com Ricardo Lindemann, Presidente da Sociedade Teosófica no Brasil e com Hélio Pereira, Grão-Mestre da Grande Loja [local].
Assim que assumiu a chefia da Congregação para os Religiosos, imediatamente, ele iniciou o diálogo com as «animadas» Congregações de religiosas dos Estados Unidos [LCWR], que deram muita dor de cabeça a Bento XVI. Braz de Aviz fez uma espécie de crítica à Santa Sé: «recomeçamos a escutar… sem condenações preventivas».
Por outro lado, nunca chamou os Franciscanos da Imaculada – que nunca causaram quaisquer problemas – para ouvi-los. Eles estão sob condenação preventiva – e uma condenação muito pesada.
Estranho, não é? Há alguns dias o «Vatican Insider» publicou: «Na Itália há cada vez menos freis e freiras». Vocês acham que Braz de Aviz está preocupado com isso? De maneira nenhuma. Ele pensa em punir uma das poucas ordens cujas vocações estão aumentando.
Na primeira edição de «Jesus» [revista mensal da Sociedade de São Paulo e uma das publicações mais importantes em Itália] de 2014, um monumento foi erigido a Vito Mancuso [professor famoso pela sua visão «progressista» sobre bioética], notável por negar «uma dúzia de dogmas» (como escreveu La Civiltà Cattolica). Porém, estejam certos de que ninguém levantará alguma objecção às filhas de São Paulo a esse respeito.
Ao contrário, os «Franciscanos da Imaculada» sofrem repressão por terem defendido os dogmas da Igreja.
A autodemolição foi retomada com força.
[Fonte: «Libero», de 26 de Janeiro de 2014. Tradução a partir da versão inglesa de Rorate Caeli]
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