quinta-feira, 14 de agosto de 2014


BES

A tragédia menor


Alberto Gonçalves

A propósito da solução para o BES, António José Seguro teme que os contribuintes venham a assumir os erros dos privados, António Costa lamenta que os pequenos accionistas se afundem com o «banco mau», a menina Catarina do BE disse umas coisas naturalmente desvairadas e o PCP, que ainda há semanas pedia a nacionalização do banco, acusa o Governo de resgatar o banco com dinheiros públicos. Eu, que acho misteriosa qualquer operação financeira acima dos cem mil euros, tenho uma única certeza: com ou sem BES, o «novo» ou o «velho», o fisco continuará a aliviar-me com regularidade.

Se o caso BES serve de alguma coisa, é de lição. O arranjinho encontrado é uma desgraça? Talvez, mas talvez não pudesse ser melhor, ou talvez, a julgar pelas assarapantadas reacções da esquerda, pudesse ser bastante pior. E este falso paradoxo é, afinal, uma educação acerca do máximo que se deve esperar da acção governativa, que nunca é a arte de procurar a resposta ideal, e sim a de tentar fugir à resposta catastrófica. Décadas de recorrentes desilusões democráticas teriam sido evitadas se os cidadãos – e os políticos – observassem esse simples preceito.

Esqueçam o pormenor (desculpem o eufemismo) do BES e pensem no «quadro geral»: o Governo é lamentável? Das indecisões às péssimas decisões, da retórica reformista à incapacidade de reformar, da fama «neoliberal» ao proveito dos impostos, do folclore de Relvas aos amigos na Santa Casa, claro que sim. Só que a questão é outra: descontados os fiéis e os oportunistas, alguém encontra nas oposições o esboço de um governo preferível? Dito de maneira diferente, o País estaria menos sufocado com o dr. Seguro ou o dr. Costa (a fim de evitar embaraços, nem menciono o PCP e as setenta agremiações destinadas a unir a esquerda)?

Semanalmente, diversos exaltados acusam-me, nas «caixas» de comentários do DN online, de escrever a expensas do poder ou de sonhar em alcançá-lo. Para mal da minha conta bancária, a primeira acusação é falsa; para bem da nação, a segunda é delirante: antes de irromper no fascinante universo partidário, tentaria a sorte como chofer de praça, carpinteiro de limpos ou pequeno traficante de analgésicos. A dignidade acima de tudo. Se pareço tolerar um Governo atroz é apenas porque as alternativas me parecem intoleráveis. Parece absurdo? Eis a política, sobre a qual toda a repulsa peca por escassa.





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