João J. Brandão Ferreira
Com o título «Fazer história» escreveu a
Secretária de Estado da Defesa (SED), Dr.ª Berta Cabral (BC), um patético
artigo no DN do pretérito dia 2. Parto do princípio que foi ela a autora.
Nele congratulava-se com o facto de,
supostamente ter-se extinto a «última limitação de género da república
portuguesa (em minúsculas, como no original), por se permitir que as raparigas
possam frequentar o Colégio Militar (CM) (faltam ainda os conventos, seminários
e colégios privados, mas não vamos hoje por aí).
Tal deriva da grosseira idiotice governamental
que, através de um despacho do MDN, encerra o Instituto de Odivelas (IO)[1] – essa sim, uma
realização histórica notável – fazendo passar as suas alunas para um
internato/externato a constituir no CM, descaracterizando por completo esta
outra, mais do que bicentenária instituição educacional e revolucionária (no
sentido do Bem) para a época. E que se mantém actual!
Será que lhe irão chamar o nome que faz parte do
título?
A ignorância e desfaçatez destes políticos, não
tem fundo.
Que diz a senhora?
Começa por enumerar a primeira vez que uma
mulher foi médica em Portugal e quando puderam exercer advocacia; algumas
mudanças no código civil; as primeiras moças militares, para acabar mencionando
a dama que pela primeiramente foi nomeada SED (ela), ocorrida há quatro meses.
Convenhamos que confunde coisas: a lenta
evolução da sociedade no que diz respeito ao acesso a profissões e à cidadania
plena das mulheres – o que acarreta, em simultâneo, vantagens, inconvenientes e
consequências – com a obrigatoriedade do ensino misto no CM, que não é mais do
que uma regressão civilizacional!
E qualificar a sua nomeação para SED como um
facto histórico é de elementar mau gosto, a começar por ser «juiz em causa
própria».
Histórico porquê? O que o País ganha com isso?
Era alguma causa importante? Bateu-se pelo lugar? Superou alguma oposição,
questões legais, preconceitos, como arrostaram as protagonistas de alguns dos
exemplos que referiu?
Ou foi simplesmente nomeada fruto de uma
conveniência partidária, quiçá num processo de compensação por ter perdido as
eleições nos Açores?
Antes de entrarmos na «regressão civilizacional»
queremos lembrar à simpática SED que o facto de as mulheres terem tido acesso à
profissão militar, sobretudo às especialidades directamente ligadas ao combate
– o que além de escusado é algo anti-natura – não devia contribuir para
qualquer entusiasmo da sua parte.
Então não se condenam as guerras e já não haverá
homens suficientes a lutarem, que ainda se quer dar esse «privilégio» às
mulheres?!
Refere as «extraordinárias enfermeiras
paraquedistas, em 1961, que foram as primeiras a servir no Exército» (por acaso
foi na Força Aérea – está a ver como serviu de pouco ter uma mulher como SED…).
Desconheço o seu grau de «feminista» (não
confundir com «feminina»), mas presumo que não vai gostar do que vou dizer: é
que no caso das «Marias» – como carinhosamente foram conhecidas – a sua
principal razão de existência foi uma discriminação positiva (hoje
chamar-lhe-iam sexista); isto porque fazia muito bem ao Moral de um ferido (e
também aos que não estavam feridos) ter a seu lado o carinho e o jeito especial
(maternal?) de uma mulher para o tratar. Era uma espécie de bálsamo.
Senão que diferença faria dos enfermeiros do
género masculino?
E sabe porque correu tudo muito bem?
Porque era pontual e específico, foi tudo muito
bem organizado e as enfermeiras foram formadas e mantidas no seio de uma das unidades
mais capazes e disciplinadas que possuíamos.
Tudo ao contrário da precipitação, perfídia e
mau instinto como toda a actual situação foi cozinhada!
Por acaso BC já terá ouvido falar de um «grandioso»
projecto imobiliário/turístico, em estudo na Câmara de Odivelas, faz tempo, em
que as instalações do IO são parte?
Vamos então analisar porque a afirmação que faz
de que «as mulheres têm juridicamente os mesmos direitos do que os homens, mas
não podiam, até agora, estudar no CM», é uma regressão civilizacional.
A falácia descortina-se a léguas e começa por
representar uma diminuição de opções. Qual será o problema de haver separação
de sexos, mutila? Ou o que se quer mutilar é a própria Instituição Militar?
As raparigas (menores) não poderem frequentar o CM
em nada lhes tolhia os direitos. São opções distintas. Além disso as moças têm
mil e um locais onde podem ter ensino misto e outras (poucas) onde podem optar
por ensino só feminino.
Mesmo a educação militar que há no CM, também já
há muito, foi extensiva ao IO.
Falácia também, porque era recíproco, isto é, os
rapazes também não podiam frequentar o IO!
Mas, com o encerramento do IO – o que Deus não
permita – o problema põe-se ao contrário: os rapazes já não podem matricular-se
naquele colégio. Ficam discriminados…
Já agora, porque não defende, outrossim, que as
camaratas sejam mistas? Ou até, que haja vagas obrigatórias para transexuais,
bi, ou qualquer outro género «hermafrodita»? Será por serem menores?
Mas nesse caso porque é que o mesmo critério não
se aplica ao género feminino e masculino?
Poupe-nos BC, se há o direito de haver escolas
mistas porque não pode haver o mesmo direito para outras, que o não sejam?
Pelos vistos e à falta de mais argumentos (a não
ser a falácia das contas, já por outros desmontada) o MDN – com a aparente
demissão e, ou, conivência silenciosa e lamentável, das chefias militares –
reduz tudo a uma questão de género!
Que indigência mental é esta que visa acabar com
um colégio – do qual não se conhece passivo de qualquer espécie – cuja
existência só é ultrapassada por 15 países que, para além de Portugal, têm a
sua fundação ou independência anteriores ao CM?[2]
Com que direito, em nome de uma suposta
modernidade, modas passageiras ou de igualdades espúrias[3], se quer destruir o
património material, moral e espiritual da Nação Portuguesa, com um simples
despacho, baseado em estudos de opereta?
Já repararam que estes políticos além de serem
incapazes de resolver um, que seja, dos graves problemas que afectam o nosso
país, ainda passam a vida a inventar problemas onde não os há?
Fazer História?
Doutora Berta Cabral faça um favor a si mesma:
vá para casa, reflita um pouco e dedique-se a algo para que tenha jeito.
[1] Escola de excelência, de características
únicas, fundada em 1900.
[2] Um na América, os EUA; quatro na Ásia, Japão,
Irão, Nepal, e Tailândia e 10 na Europa, incluindo Andorra, Mónaco e São
Marino. Dados fornecidos pelo ex-aluno n.º 134/1945, que não conheço, mas a
quem tiro o chapéu.
[3] O Homem e a Mulher serão sempre diferentes em
termos fisiológicos quer em sentimentos, e não há poder na Terra para mudar
isto!
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