Gonçalo Portocarrero de Almada
Portugal festeja, neste mês, os seus santos populares: S. António, S.
João Baptista e S. Pedro, a 13, 24 e 29 de Junho, respectivamente. São a
excepção à nova regra, que expurgou do calendário a memória dos santos, para o
preencher com as mais abstrusas efemérides, como o primeiro sábado de Julho,
dia mundial das cooperativas e, a 30 de Setembro, o dia internacional do
direito à blasfémia.
Nestes dias dos santos populares, as ruas dos bairros típicos dos velhos
burgos enchem-se de animação, e improvisam-se altares numas esconsas
escadinhas, ou nas portas das tascas, onde o único incenso é o cheiro a vinho e
a sardinhas. Alguns severos liturgistas não acharão graça a esta profanação do
culto, mas estou certo que os nossos santos, lá no céu, não levam a mal a
sem-cerimónia, nem que o seu nome seja invocado para introduzir uma chalaça
atrevida, para justificar um inocente beijo mais arrojado, ou até para
desculpar mais um copo de sangria.
«A alegria, que era a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco
segredo do cristão». Com efeito, «para o pagão, as coisas pequenas são
agradáveis, como os pequenos regatos que irrompem nas montanhas, mas as coisas
grandes, contudo, são amargas» porque, «quando o pagão olha para o coração do cosmos,
fica gelado». Mas, prossegue Chesterton, «a melancolia devia ser um inocente
interlúdio, um suave e passageiro estado de espírito; e o louvor deveria ser o
permanente pulsar da alma, (?) porque a alegria é a tumultuosa actividade em
que todas as coisas vivem».
Nestes dias das suas festas, quero crer que os santos populares piscam o
olho às nossas fraquezas, à conta do que há de mais verdadeiro e puro neste
culto popular e, afinal, em toda a autêntica devoção cristã: a alegria. Boas
festas!
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