domingo, 15 de novembro de 2009

Bento XVI e o Vaticano II

O que eu pretendo? Por favor, um pouco mais de honestidade!

+ Kurt Koch, Bispo de Basileia, em 19 de Junho de 2009



Nas últimas semanas muitos jornalistas e alguns clérigos, expressaram as suas opiniões sobre o Papa Bento XVI. Opiniões que contêm muitas meias verdades, falsidades e calúnias.

A pior acusação afirma que o Papa deseja regressar a um passado anterior ao Concílio Vaticano II. Esta acusação é a pior porque implica que a própria pessoa que detém a autoridade de ensinar à Igreja Universal estaria a trabalhar para minar a autoridade do Concílio.

Tal tese está, no entanto, completamente errada. De facto, como jovem teólogo, Bento XVI contribuiu muito para o Concílio. Quem deseje compreender hoje o Papa, não só através dos meios de comunicação, mas lendo o que ele escreve, chegará à conclusão de que orientou todo o seu magistério de acordo com o Concílio.

Como havemos, então, de entender essa acusação? Muitas pessoas subscreveram uma petição a favor de uma aceitação incondicional do Concílio.

Para começar, a expressão "aceitação incondicional" exaspera-me porque não conheço ninguém - eu incluído - a quem se possa aplicar. Bastam alguns exemplos, escolhidos arbitrariamente:

- O Concílio não aboliu o Latim na liturgia. Pelo contrário, sublinha que no Rito Romano, salvo casos excepcionais, o uso da língua latina deve ser mantido. Quem é que, entre os ruidosos defensores do Concílio, deseja uma "aceitação incondicional" disto?

- O Concílio declara que a Igreja considera o Canto Gregoriano como a "música própria do Rito Romano" e que, portanto, a esta música deve dar-se o primeiro lugar". Em quantas paróquias está isto implementado de modo "incondicional"? (...)

- O Concílio descreve a natureza fundamental da liturgia como a celebração do mistério pascal e o sacrifício eucarístico como "realização da obra da nossa salvação". Como é que eu conseguirei conciliar essas afirmações com a experiência que tenho, em muitas paróquias diferentes, de que o sentido sacrificial da Missa foi completamente eliminado da linguagem litúrgica e a Missa é agora entendida apenas como uma refeição ou "fracção do pão"? Como é que podemos justificar esta mudança profunda baseando-nos no Concílio?(...)

Não seria difícil estender esta ladainha. Deve perceber-se por que peço mais honestidade no actual debate sobre o Concílio. Em vez de acusar outros, Papa incluído, por desejarem volta a um passado anterior ao Concílio, seria melhor aconselhar todos a estudar os livros que escrevem, e voltar a examinar a sua posição sobre o Concílio.

Porque nem tudo o que foi dito e feito depois do Concílio, foi levado a cabo em concordância com o Concílio - e isto também se aplica à diocese de Basileia.
As últimas semanas mostraram que um problema primordial da situação actual foi um muito pobre, e, em parte, muito unilateral entendimento e aceitação do Concílio, mesmo por parte dos católicos que o defendem "incondicionalmente".

Neste sentido todos nós - novamente digo que eu estou incluído - temos muito por fazer. Por isso, novamente repito o meu pedido urgente.
Por favor, um pouco mais de honestidade!
 
+ Kurt Koch, Bispo de Basileia, em 19 de Junho de 2009

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