quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Desfazendo mitos sobre a Idade Média


Quase todos nós aprendemos na escola que a Idade Média foi uma época de mil anos de trevas
e de fanatismo religioso, sem nada digno de ser mencionado nos séculos seguintes.
E não nos damos ao trabalho de estudar as obras, as instituições, a arquitectura, a vida de família
e, sobretudo, a profunda religiosidade, que a tornaram insuperável.

Plinio Maria Solimeo, IPCO, 17 de Julho de 2018

Segundo o prestigioso jornal «Economist», isso começa a mudar: «Desde os ataques de 11 de Setembro, a direita norte-americana desenvolveu um fascínio pela Idade Média e pela Renascença em particular, com a ideia do Ocidente como uma civilização que se estava defendendo de um desafio do Oriente. Essa tendência tem sido estimulada pela descoberta do movimento das suas contrapartes europeias que usavam imagens medievais e de cruzados desde o século XIX.»


Para o jornal, alguns exemplos disso são o frequente aparecimento e as ilustrações de cruzados revestidos de capacete e que bradam o grito de guerra Deus vult! Diz ainda: «Os jornais e sites contrários ao islamismo se nomeiam segundo o rei franco Charles Martel, [quadro abaixo], que lutou contra exércitos muçulmanos no século VIII, ou a derrota otomana (levemente pós-medieval) em Viena», enquanto «milhões de outros […] são atraídos pela era medieval, de que são testemunhos a popularidade de reconstituições renascentistas ou as fantasias medievais de inspiração, como Game of Thrones».

Charles Martel na batalha de Poitiers (732), obra de Charles de Steuben
(Museu de História da França, Versailles).
A esse respeito, o também muito conceituado site do «National Catholic Register» publica uma entrevista com o especialista da Idade Média, Andrew Willard Jones, professor de história da Igreja, teologia e doutrina social na Universidade Franciscana de Steubenville, Ohio, sobre o seu novo livro Diante da Igreja e do Estado: um estudo da ordem social no reino sacramental de São Luís IX [ao lado, foto da capa], no qual esse académico traz considerações acerca de verdades esquecidas e frequentemente negadas sobre a Idade Média, a qual foi chamada de «A Doce Primavera da Fé» por Montalembert.

Respondendo a uma pergunta sobre o que o levou a escrever o seu livro, ele explica: «Eu estava a estudar o papado do século XIII. E fui inspirado pelo que estava a ler. Era todo um mundo que não havia sido ainda investigado […]. Somos abençoados na história medieval. Eles [os medievais] tinham-se excedido nas operações de escrita de cartas. Havia cartas e manuscritos papais. […] É um tesouro de registos da Corte, de registos monárquicos e de crónicas».

Por isso, Jones afirma: «A Idade Média tem um papel na história do mundo moderno. Nós tendemos a vê-la como um mundo obscuro, de dogma e opressão, pelo que só agora entendemos o que significa liberdade.» O escritor faz então esta afirmação tantas vezes já repetida: «A visão da Idade Média como um período sombrio vem de um cepticismo moderno muito anticatólico.»

Para evitar equívocos, esclarece: «Eu não romantizo excessivamente a Idade Média como uma utopia.» Mas vê a era medieval como a de uma civilização sacramental e cristianizada. Pelo que afirma: «Nós somos tendentes a imaginar o catolicismo como vida privada. O catolicismo pede uma civilização da caridade. A Idade Média pode-nos ajudar a ver isso de novo.»

Hoje em dia fala-se muito em igualdade. É um dogma do mundo moderno. Jones explica: «A modernidade tem uma noção específica de igualdade. Vê a desigualdade [entre as pessoas] como fonte inerente de conflito e competição. No cristianismo, as desigualdades levam à paz. Nós vemos diferenças na família: manifestam-se na procura do bem comum». E ainda: “Usei o exemplo de um pai e um filho, dizendo que eles alcançam o bem comum através de diferentes papéis.» Quer dizer, as diferenças entre ambos os fazem se complementar e completar-se, o que é muito diferente do jargão esquerdista.


Jones afirma: «No mundo moderno, entende-se por paz fazer compromissos, enquanto na Idade Média a paz obtinha-se pelo modo de lidar com as diferenças de maneira adequada e caridosa. Enquanto os modernos vêem [as desigualdades como] uma violação dos direitos, na Idade Média consistiam em se restabelecer as diferenças de modo pacífico. O mundo moderno é céptico. Os medievais não tinham cinismo em relação à doação mútua. Por exemplo, há [hoje em dia] conflitos entre pai e filhos, porque não são propriamente diferentes. A mesmice é uma fonte de conflito. Apenas essa ideia seria proveitosa para a nossa sociedade meditar, quando considerarmos como a cultura popular se tornou infantilizada».


O autor trata também no seu livro do tão difamado tema da Inquisição, abordando o tema da Inquisição Francesa do século XIII. Jones afirma: «Há uma visão polémica e anticatólica da Inquisição. Naquela época havia muito pouco interesse em saber o que as pessoas conservavam nas suas mentes. O problema era se [na manifestação das ideias] havia rejeição da ordem social e se a heresia se tornava pública. Uma investigação poderia começar, não havia interesse em pegar ou enganar as pessoas. Na maioria das vezes, a penalidade era a correcção. Temos a nossa própria versão da Inquisição e da heresia com os mobs do Twitter».

E conclui: «Precisamos ampliar a nossa imaginação. A tentativa moderna de um mundo sem Deus vai falhar. Haverá uma concepção cristã de ordem social, mas não o mesmo que a Idade Média […]. O meu livro visa afastar os leitores do mundo ao seu redor, e a procurar vê-lo a partir de um ponto de vista mais elevado [como foi o mundo medieval]. Isso nos salva do desespero. As coisas mudam. A esperança é uma virtude. O bom e o verdadeiro vencerão».





São Tomás de Aquino: no islamismo acreditaram homens animalizados, ignorantes da Doutrina Divina, que obrigaram os outros pela violência das armas

São Tomás de Aquino, apoiado em Platão e Aristóteles, esmaga
Averroes, «sábio» maometano.
O que achar do islamismo e dos seus prosélitos? Como interpretar os crimes que estão a praticar contra os cristãos, a sua adesão ao Corão (Livro) de Maomé, e as tentativas de diálogo e ecumenismo com eles?

São Tomás nos ensina com a concisão e a sabedoria do maior mestre e doutor da Doutrina e do método de pensamento da Igreja católica:

«Tão maravilhosa conversão do mundo para a fé cristã é de tal modo certíssimo indício dos sinais havidos no passado, que eles não precisaram ser reiterados no futuro, visto que os seus efeitos os evidenciavam.

«Seria realmente o maior dos sinais miraculosos se o mundo tivesse sido induzido, sem aqueles maravilhosos sinais, por homens rudes e vulgares, a crer em verdades tão elevadas, a realizar coisas tão difíceis e a desprezar bens tão valiosos.

«Mas ainda: em nossos dias Deus, por meio dos seus santos, não cessa de operar milagres para a confirmação da fé.

«No entanto, os iniciadores de seitas erróneas seguiram o caminho oposto, como se tornou patente em Maomé (o fundador do Islão):

Militantes do ISIL no Iraque.
«a) Ele (Maomé) seduziu os povos com promessas referentes aos desejos carnais, excitados que são pela concupiscência.

«b) Formulou também preceitos conformes àquelas promessas, relaxando, desse modo, as rédeas que seguram os desejos da carne.

«c) Além disso, não apresentou testemunhos da verdade, senão aqueles que facilmente podem ser conhecidos pela razão natural de qualquer medíocre ilustrado. Além disso, introduziu, em verdades que tinha ensinado, fábulas e doutrinas falsas.

«d) Também não apresentou sinais sobrenaturais. Ora, só mediante estes há conveniente testemunho da inspiração divina, enquanto uma acção visível, que não pode ser senão divina, mostra que o mestre da Verdade está inspirado de modo invisível.

«Mas Maomé manifestou ter sido enviado pelo poder das armas, que também são sinais dos ladrões e dos tiranos.

«e) Ademais, desde o início, homens sábios, versados em coisas divinas e humanas, nele não acreditaram.

Chefe do Boko Haram e sequazes na Nigéria.
«Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram totalmente ignorantes da Doutrina Divina. No entanto, foi a multidão de tais homens que obrigou os outros a obedecerem, pela violência das armas, a uma lei.

«f) Finalmente, nenhum dos oráculos dos profetas que o antecederam dele deu testemunho, visto que ele deturpou com fabulosas narrativas quase todos os factos do Antigo e do Novo Testamento.

«Tudo isso pode ser verificado ao estudar-se a sua lei. Já também por isso, e de caso sagazmente pensado, não deixou para leitura dos seus seguidores os livros do Antigo Testamento, para que não o acusassem de impostura.

«g) Fica assim comprovado que os que lhe dão fé à palavra crêem levianamente».


(Autor: São Tomás de Aquino. Suma contra los Gentiles. Livro I, Capítulo VI, Club de Lectores, Buenos Aies, 1951, 321. p.76 e ss.).





quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Migração em massa: «A solução fatal da UE»


No corrente ano, o chanceler austríaco Sebastian Kurz (segundo à esquerda)
foi convidado a juntar-se aos líderes dos quatro países do «Grupo de Visegrád»

(República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia) na cimeira de 21 de Junho.
No topo da agenda estavam os problemas da migração em massa
e a protecção das fronteiras. (Imagem: Chancelaria Federal da Áustria).

Giulio Meotti, Gatestone, 29 de Julho de 2018

Original em inglês: Mass Migration: «The Fatal Solvent of the EU»

Hoje, 510 milhões de europeus vivem na União Europeia, 1,3 biliões de africanos estão de olho nela. Se os africanos seguirem o exemplo de outras partes do mundo em desenvolvimento como os mexicanos nos EUA, «em trinta anos... a Europa terá entre 150 a 200 milhões de afro-europeus, em comparação com os 9 milhões de hoje». Smith chamou a este cenário «Euráfrica».
  • O controverso sistema de quotas para migrantes já deu com os burros n'água. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos condenou a Hungria devido à detenção de migrantes. Os governos europeus não podem conter, deportar, deter e repatriar os migrantes. O que sugerem as autoridades em Bruxelas? Trazer todos para a Europa?
  • Os judeus franceses são vítimas de um tipo de limpeza étnica segundo um manifesto assinado entre outros pelo ex-presidente francês Nicholas Sarkozy e pelo ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls.
«Longe de levar à união, a crise migratória da Europa está a levar à divisão», escreveu recentemente o historiador da Universidade de Stanford Niall Ferguson. «Acredito cada vez mais que o problema da migração será visto pelos futuros historiadores como a solução fatal da UE». Semana após semana a previsão de Ferguson, ao que tudo indica, está a tornar-se realidade.

A Europa não só continua a fragmentar-se à medida que o sentimento anti-imigração arrebanha força política mas também, em consequência da crise migratória, a zona interna sem fronteiras da UE, cereja do bolo mais apreciada da Europa pós-guerra, já está «ameaçada» pelo governo italiano, entre outros, como por exemplo, o governo da Áustria.

A imigração também está redefinindo o contrato intra-UE.

O assim chamado «Grupo de Visegrád» formado pela República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia, recentemente contestou a defesa das fronteiras da UE. «Temos que ter uma Europa capaz de nos defender». O chanceler austríaco Sebastian Kurz destacou a mesma coisa, ao ser convidado a participar no encontro de Visegrád.

O novo governo populista da Itália também abraçou a política de linha dura, depois de a Itália confirmar a chegada de mais de 700 mil migrantes ao seu litoral nos últimos cinco anos. O ministro do interior da Itália Matteo Salvini recentemente fechou os portos da Itália às embarcações com migrantes. Na Alemanha, após a chanceler alemã trocar farpas, no tocante à imigração, com o ministro do interior Horst Seehofer, a política sobre os migrantes também poderá levar ao «fim do mandato de Merkel».

«O novo governo populista da Itália assinala um enorme desafio ao status quo europeu, mas não no aspecto que a maioria dos observadores previam no começo», comentou recentemente o autor Walter Russell Mead no The Wall Street Journal. «O governo de coligação suspendeu o desafio à política do euro. Optou por se voltar para uma matéria sobre a qual o establishment europeu é mais vulnerável: a migração».

O consenso político europeu, como um todo, está a fragmentar-se sob o impacto sísmico da onda de migrantes. A migração para a Europa tornou-se um problema político «delicado como sempre», conforme acaba de salientar o New York Times em relação ao debate que está a ocorrer na União Europeia. O presente problema da UE aparenta vir de uma dormência que tomou conta das elites políticas que se recusam a levar em conta os problemas dos seus cidadãos que vieram na esteira da maciça imigração, sem nenhum tipo de critério.

A migração em massa dos últimos anos simplesmente criou gigantescos problemas para a estabilidade interna da Europa. Primeiro houve a ameaça à segurança. De acordo com um novo levantamento da Heritage Foundation:

«Virtualmente mil pessoas foram feridas ou mortas em ataques terroristas concluidos por candidatos a asilo ou por refugiados desde 2014. Nos últimos quatro anos, 16% das conspirações islamistas na Europa tiveram como pivô candidatos a asilo ou refugiados. O ISIS tem conexão directa com a maioria das conspirações», sendo a Alemanha o maior alvo e os sírios os mais frequentemente envolvidos se comparados a qualquer outra nacionalidade. Aproximadamente três quartos dos conspiradores cometem os atentados ou têm os planos frustrados, isto nos dois primeiros anos após a sua chegada à Europa.

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«Desde Janeiro de 2014, 44 refugiados ou candidatos a asilo estiveram envolvidos em 32 ataques terroristas islamistas na Europa. Os ataques feriram 814 pessoas e mataram outras 182».Há também um grave desafio à coexistência étnica e religiosa proveniente da imigração. Os judeus franceses são vítimas de um tipo de limpeza étnica segundo um manifesto assinado, entre outros, pelo ex-presidente francês Nicholas Sarkozy e pelo ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls. «Dez por cento dos cidadãos judeus da região de Paris foram recentemente forçados a mudarem-se porque não estavam mais seguros em determinados conjuntos habitacionais» assinalou o manifesto. «Esta é uma limpeza étnica silenciosa».

A ameaça que a Europa enfrenta e continuará a enfrentar caso se recuse a fechar e controlar as fronteiras é examinada por Stephen Smith, especialista em África e admirado pelo presidente francês Emmanuel Macron, no seu novo livro, A Corrida para a Europa: a Jovem África a Caminho do Velho Mundo. Hoje, observa ele, 510 milhões de europeus vivem na União Europeia, 1,3 biliões de africanos estão de olho nela. «Em trinta e cinco anos, 450 milhões de europeus estarão diante de cerca de 2,5 biliões de africanos de olho nela, ou seja, cinco vezes mais», prevê Smith. Se os africanos seguirem o exemplo de outras partes do mundo em desenvolvimento como os mexicanos nos EUA, «em trinta anos», segundo Smith, «a Europa terá entre 150 a 200 milhões de afro-europeus, em comparação com os 9 milhões de hoje». Smith chamou a esse cenário «Euráfrica». A maior onda de migração da Europa desde a Segunda Guerra Mundial também se tornou um problema cada vez mais urgente, à medida que as populações autóctones da Europa continuam envelhecendo e encolhendo.

O controverso sistema de quotas para migrantes já deu com os burros n'água. Na realidade os governos europeus também não têm condições de deportar os migrantes. Em 2012 o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECHR) condenou o governo italiano e ordenou o pagamento de milhares de euros a um punhado de imigrantes deportados para a Líbia. As autoridades italianas haviam interceptado os migrantes no Mar Mediterrâneo quando tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa vindos da Líbia. Três anos depois, o Tribunal Europeu novamente condenou o governo italiano por deportar migrantes. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos também condenou a Espanha num julgamento pela expulsão de um grupo de 75 a 80 migrantes do enclave de Melilla. O ECHR então condenou a Hungria devido à detenção de migrantes. A Europa não pode conter, deportar, deter e repatriar os migrantes. O que sugerem as autoridades em Bruxelas? Trazer todos para a Europa?

Andrew Michta, reitor do College of International and Security Studies do George C. Marshall European Center for Security Studies, escreveu recentemente que diante dessa migração em massa as democracias europeias arriscam as suas próprias «decomposições». Não veremos apenas a «divisão» da frágil União Europeia, veremos também a da Civilização ocidental.

Tradução: Joseph Skilnik