sábado, 11 de julho de 2015


A Europa civilizada e evangelizada

pelos filhos de São Bento


Pio XII (1876-1958)
Encíclica Fulgens radiatur (1947)

À marcha das legiões romanas, que rolavam pelas vias consulares a fim de subjugarem ao império de Roma os povos distantes, sucedeu, com efeito, o exército pacífico dos monges, desprovidos de forças materiais, mas armados do poder que vem de Deus (2Cor 10,4), enviados pelo sumos pontífice a dilatar o reinado de Jesus Cristo até aos confins da terra, não com a espada e o pavor do saque e da carnificina, mas com a cruz e o arado, com o amor e a verdade.

Onde quer que chegasse este exército inerme de agricultores, de artistas, de teólogos, de sábios, de pregoeiros do Evangelho, marcava bem fundo o rastro das suas pisadas, em oficinas que se erguiam, alegres de arte e de trabalho, em relhas que se multiplicavam, desabrochando o seio das florestas na promessa verde dos campos, em novos grupos de povos civilizados, arrancados aos costumes da selva pelo exemplo e pregação dos monges. Apóstolos sem-conta calcorrearam, transbordantes de caridade divina, as regiões turbulentas e ignoradas da Europa, regando-as, generosamente, de suor e de sangue, levando às populações pacíficas a luz das verdades e da moral cristã. […]

Com efeito, desde a Inglaterra, a França, a Holanda, a Alemanha, a Dinamarca, a Frísia, a Escandinávia, até a Hungria, nenhum povo há que se não orgulhe do apostolado dos monges, os não considere como glória nacional e ilustres iniciadores da sua cultura.




quinta-feira, 9 de julho de 2015


Melhor do que o Bloco e o Syriza...

...só os economistas e estrategos do PCP...


Helena Pereira, Observador, 7 de Julho de 2015

O escudo, a dissolução da NATO, reforma agrária no Alentejo, livros escolares grátis, TGV, novo aeroporto, abono de família universal. Esta é uma pequena parte do que propõe o PCP no seu programa.


Programa Eleitoral do PCP:
o que querem Jerónimo e o PCP

«A libertação do país da submissão da zona euro», manuais escolares grátis e TGV e novo aeroporto. Estas são algumas das promessas eleitorais do PCP do programa do partido às eleições legislativas do Outono, apresentado esta terça-feira e que defende ainda a reforma agrária, o domínio público de todos os hospitais, a reversão de privatizações nos transportes e o aumento do IRC.

Estas são as principais propostas:

  • renegociação da dívida nos prazos, juros e montantes (redução do valor nominal dos montantes em 50% e redução do seu serviço em 75%)
  • recuperação de instrumentos de soberania monetária, cambial, orçamental e fiscal, essenciais para garantir o desenvolvimento do país
  • a eliminação de condicionamentos estratégicos pelo controlo público de sectores como a banca e a energia
  • romper com a conivência e subserviência face à União Europeia e à NATO
  • divisão do país em regiões administrativas
  • a reversão das privatizações no domínio dos transportes
  • resgate total das parcerias público-privadas e dos contractos swap de entidades públicas
  • benefícios fiscais para o cooperativismo, assegurando uma taxa de IRC inferior dez pontos percentuais relativamente ao sector privado
  • uma reforma agrária nos campos do Sul, liquidando a propriedade de dimensão latifundiária «que condicione por lei o acesso à terra pelo capital estrangeiro; que trave a exploração intensiva, predadora dos solos, e a especulação imobiliária turística e que realize o aproveitamento das potencialidades agrícolas do Alqueva e de outros regadios e obras de engenharia agrícola»
  • novas marinas e mais lugares de amarração para embarcações de recreio
  • uma renovada participação do Estado na esfera produtiva, em sectores estratégicos, capazes de dinamizar outras actividades
  • prioridade no acesso transparente e simples das pequenas e médias empresas «aos dinheiros do Portugal 2020, fixando um volume garantido de fundos (50%) dos destinados a incentivos empresariais; uma carga fiscal conforme os seus rendimentos e condições estruturais; redução do número e dos custos de taxas e tarifas; aproximação dos preços da energia, comunicações e telecomunicações, seguros e outros factores de produção da média europeia»
  • crescimento dos salários e pensões
  • um forte investimento público e privado na construção civil
  • a beneficiação e renovação das estradas nacionais e municipais
  • a reabilitação e modernização de linhas de caminho-de-ferro da rede convencional
  • a introdução da alta velocidade ferroviária em Portugal, privilegiando as ligações Lisboa/Caia (itinerário Lisboa-Madrid) e Lisboa/Porto
  • construção do novo aeroporto de Lisboa, cuja localização se posiciona na Península de Setúbal (área do Campo de Tiro de Alcochete)
  • construção da terceira travessia do Tejo, rodo-ferroviária, entre Chelas e Barreiro
  • o alívio da carga tributária sobre os trabalhadores e as pequenas empresas
  • maior tributação dos rendimentos e património, mobiliário e imobiliário, do capital
  • total derrogação do sigilo bancário para efeitos fiscais
  • criação de dez escalões no IRS
  • eliminação imediata da sobretaxa extraordinária
  • criação de taxas de 60% e de 75% para rendimentos colectáveis superiores a 152 mil e a 500 mil euros anuais
  • redução da taxa normal de IVA para 21%
  • criação de um cabaz mais alargado de bens essenciais, taxados a 6%, incluindo a eletricidade, o gás natural e o gás de botija
  • introdução de uma taxa de 25% para bens e serviços de luxo
  • taxa de IVA de 13% para a restauração
  • reposição da taxa normal de IRC para 25%
  • taxa de 50% ou 90% respectivamente em todas as transferências financeiras ou rendimentos dirigidos a paraísos fiscais
  • taxa de 0,5% sobre todas as transacções financeiras
  • fim dos benefícios fiscais à Zona Franca da Madeira
  • a reversão de empresas privatizadas e a travagem e inversão dos processos de subconcessão e subcontratação no sector dos transportes
  • alargamento do subsídio social de desemprego
  • subida do salário mínimo nacional para os 600 euros no início de 2016 e a sua evolução progressiva anual para responder às necessidades básicas dos trabalhadores e suas famílias
  • fim dos cortes salariais e a reposição integral dos salários, subsídios e pensões retirados na Administração Pública, bem como o descongelamento das progressões salariais
  • redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais para todos os trabalhadores
  • reposição da universalidade do abono de família para crianças e jovens
  • aumento anual das reformas e pensões e do conjunto das prestações sociais
  • alargar os critérios de acesso e prolongamento do período de atribuição do subsídio de desemprego
  • reposição da idade legal de reforma aos 65 anos
  • o reforço do Serviço Nacional de Saúde, geral, universal e gratuito
  • gestão pública dos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde, rejeitando qualquer entrega da sua gestão a entidades privadas e pondo termo à promiscuidade entre público e privado
  • reversão para o Estado das Parcerias Público-Privadas no SNS (Braga, Vila Franca de Xira, Loures, Cascais e Linha Saúde 24)
  • revogação das taxas moderadoras
  • distribuição gratuita dos manuais escolares no ensino obrigatório
  • garantir a todas as crianças a partir dos três anos resposta na rede pública de pré-escolar
  • fim da Prova de Aferição de Capacidades e Conhecimento (PACC) e a adopção de um conjunto de medidas de desenvolvimento da qualidade da formação dos professores
  • aprovação de novos modelos de avaliação dos estudantes, assentes em princípios de valorização da avaliação contínua.






quarta-feira, 8 de julho de 2015


As dez vergonhas gregas

que nunca nem o Podemos nem o Syriza

te contaram


M. LLamas, trad. de Jóni Coelho

«A Grécia é não só um país falido, mas também uma das economias mais pobres e menos desenvolvidas da Europa desde há décadas. E isto, curiosamente, seguindo os ditames da esquerda radical, posto que o Estado grego se caracterizou por ser um dos mais intervencionistas da Europa (estava no 100.º lugar mundial da fragilidade de fazer negócios quando começou a crise do euro) e com um dos mais elevados níveis de gastos públicos.

A origem da tragédia grega, ao contrário do que defendem o Syriza e o Podemos, não reside na austeridade, mas sim no enorme e insustentável sector público. A Grécia foi o país da UE que mais aumentou o seu gasto público real (cerca de 80% entre 1996 e 2008) e a sua divida pública (400% superior à receita pública de 2011) desde os felizes anos da bolha de crédito. Mas estes grandes números, sendo relevantes, traduzem-se também em factos muito concretos, cuja realidade ocultam habilmente os partidos como o Syriza ou o Podemos em Espanha.

Em seguida, resumem-se as dez grandes vergonhas Gregas que a esquerda europeia se nega a reconhecer. A ruína grega é uma história cheia de mentiras, desperdícios e uma enorme hipocrisia.

1 – Mentiram sobre o défice público

O primeiro facto a assinalar é que os políticos gregos ocultaram o seu défice público real durante anos. Quando o novo governo chegou a Atenas em 2009, encontrou-se com um perdão fiscal correspondente a 14% do PIB, em oposição aos dados oficiais de Bruxelas que era de 3,7%.

De um dia para o outro, o défice passou de 7 000 para 30 000 milhões de euros, quase quatro vezes mais. Este manifesto embuste evidencia a enorme irresponsabilidade política dos diferentes governos gregos.

2 – Atenas recorreu à banca de investimento

A esquerda descarrega constantemente contra os mercados, em geral, e a malvada banca de investimento, em particular, mas esquecem-se que a sua admirada Grécia recorreu aos financiamentos de Wall Street para ocultar as suas contas desastrosas.

O anterior governo presidido por Yorgos Papandreu reconheceu que a Grécia mentiu nas contas do défice e da dívida para entrar no euro, oferecendo dados falsos até 2009, valendo-se, entre outros, dos serviços da Goldman Sachs. Com isto assinala-se que o actual Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, dirigia as operações da Goldman Sachs na Europa em 2002, quando a Grécia iniciou as suas operações fraudulentas de engenharia financeira.

3 – O Estado causou a falência da banca

Outra verdade é que, no caso da Grécia, a falência da banca grega foi responsabilidade directa do Estado grego, e não o contrário. As entidades bancárias foram encarregadas da dívida pública grega durante os anos da bolha para financiar o enorme e sumptuoso gasto de diversos governos. Por isso, a banca grega entrou em falência quando se removeu 50% dos títulos gregos nas mãos dos credores privados em 2011, após o acordo do 2.º plano de resgate da Troika.

Posteriormente, a  Europa teve de injectar dinheiro extra para salvar os depósitos gregos. Isto é, os depositantes gregos foram resgatados com o dinheiro dos contribuintes europeus através da Troika, depois da insolvência de Atenas, que arrastou a banca para a falência.

4 – Vida a correr bem, mas com dinheiro dos outros

Durante a bolha a Grécia viveu muito acima das suas possibilidades reais, recorrendo a uma prodigiosa dívida pública para poder financiar esse nível intolerável de gastos. Mais de metade da economia grega dependia, de uma ou outra forma, do maná estatal, criando assim uma grande estrutura clientelar à base de «jobs for the boys»corrupção, subvenções.

Seguem alguns exemplos:

  • Durante anos, e tendo um PIB per capita muito inferior ao de Espanha, o salário mínimo grego era 50% superior.
  • Durante décadas, quando um partido chegava ao poder colocava pessoas no sector público a troco dos seus votos, acrescentando de forma insustentável a pandilha estatal.
  • Hospital Evangelismos, um dos principais de Atenas, por exemplo, chegou a ter 45 jardineiros para cuidar de quatro jarras na sua entrada; alguns organismos públicos contavam com 50 condutores por carro, um antigo ministro da agricultura criou uma unidade não contabilizada de 270 pessoas para digitalizar as fotografias das terras públicas gregas, sem que nenhum dos contratados tivesse experiência na fotografia digital, pois eram carteiros, cabeleireiros, agricultores e em geral filiados no partido…
  • O gasto em educação, saúde e políticas sociais, foi de longe a que mais aumentou até ao estalar da crise da dívida, superando os 31% do PIB em 2012.
  • Além disso, a Grécia, essa grande referência da esquerda radical, era o país da UE que mais dinheiro destinava a gastos militares antes da crise, com uma média superior a 4% do PIB.


5 – Excesso de funcionários e ineficiência

O emprego público é, sem dúvida, um dos grandes paradigmas do desastre grego.

– Durante a bolha, Atenas nem sequer sabia quantos empregados tinha; os sindicatos estimavam uns 700 mil, enquanto o governo falava de 800 mil; mas se somarmos os contractos a termo, o valor superou um milhão de pessoas em 2007, equivalente a 10% da população e quase 20% da força laboral do país.

– Ganhavam em média 1 350 euros mensais, superando o salário médio existente do sector privado. Mas o relevante era que o lucro dos funcionários públicos era muito maior: além de receberem 2 salários extra, recebiam bónus e recomendações adicionais citando todo o tipo de desculpas, como chegar ao trabalho no tempo previsto, apresentar-se correctamente vestido, usar o computador ou falar línguas. Os guardas florestais, por exemplo, recebiam um bónus por trabalharem ao ar livre.

– Somando todos esses extras, os funcionários públicos gregos chegavam a receber de média mais de 70 mil euros anuais, enquanto os alemães recebiam 50 mil euros anuais.

– Mesmo assim, os funcionários também recebiam uma pensão vitalícia de 1 000 euros mensais para as filhas solteiras de empregados falecidos, entre muitos outros privilégios e regalias.

A Grécia tinha quatro vezes mais professores que a Finlândia, o país que melhores notas tinha nos exames de PISA referentes à qualidade educativa, mas essa superabundância de docentes só serviu para o país estar entre os piores países com pior nível de ensino da Europa. Muitos gregos que enviavam os seus filhos para escolas públicas, tinham que contratar professores particulares de reforço.

– Outro dado curioso é que na Saúde Pública a Grécia era a que mais gastava em consumos intermédios, superando a média da UE, sem que os gregos tivessem mais doentes que os restantes europeus. Motivo? Um dos muitos escândalos destapados durante os últimos anos era a tradição entre médicos e enfermeiros de sair dos hospitais carregados com todo o tipo de material higiénico e sanitário.

6 – Empresas públicas, o cúmulo do desperdício

No entanto, para além do número desproporcionado de funcionários públicos, os seus salários ou a grave ineficiência dos seus serviços era a sua superdimensionada estrutura estatal, tendo centenas de empresas, organismos e entidades inúteis. Basta assinalar alguns exemplos para nos apercebermos do absurdo:
  • salário médio da Renfe [equivalente da REFER portuguesa] grega, chegou a superar os 70 mil euros anuais, incluindo profissões de baixa qualificação. A sua receita operacional rondava os 100 milhões de euros anuais, enquanto os seus gastos superavam os 700 milhões.
  • «Há vinte anos, um próspero empresário chamado Stefanos Manos, nomeado depois ministro das finanças, sugeriu que seria mais barato colocar todos os passageiros das linhas férreas gregas em táxis – continua a ser verdade.», tal como detalha Michael Lewis no seu livro: «Boomerang: Travels in the New Third World», onde se explica parte dos excessos gregos cometidos durante a borbulha.
  • O orçamento do metro de Atenas rondava os 500 milhões de euros anuais, e ganhava com a venda de bilhetes apenas 90 milhões.
  • A Grécia também criou um comité para gerir o Lago Kopais, mesmo estando seco desde 1930.
  • Após o resgate da Troika, Atenas anunciou a eliminação ou fusão de 75 organismos públicos, em que trabalhavam mais de 7 mil pessoas, e que anualmente recebiam cerca de 2700 milhões de euros (uns 386 mil euros por empregado).

7 – Reformas douradas

Até ao estalar da crise, os gregos podiam-se reformar pouco depois dos 61 anos, recebendo cerca de 96% do seu salário, sendo um dos sistemas de pensões mais generoso e insustentável da UE.

Na Grécia existiam cerca de 600 categorias laborais, que alegando motivos de saúde, poderiam optar pela reforma antecipada, estabelecida para os homens aos 55 anos e para as mulheres aos 50 anos. E entre estes últimos beneficiados havia todo o tipo de profissões, desde cabeleireiros até trompetistas, flautistas, cozinheiros, massagistas e incluindo apresentadores de TV, entre outros.

Precisamente por isso, os gregos beneficiavam da maior esperança de vida após a reforma, não por viverem mais anos, mas por se reformarem antes. Em concreto, ao passo que a  média da OCDE era de 18,5 anos, os gregos desfrutavam de 24 anos da existência plácida da reforma, sustentada por um crescente volume de dinheiro emprestado em forma de dívida pública.

Além disso, o controlo sobre a gestão das pensões era inexistente. Durante a crise, detectaram-se milhares de familiares que recebiam reforma  depois dos seus titulares terem falecido,  ou recebiam certas prestações sem terem direito a elas.


8 – Subornos e evasão fiscal

A Grécia destaca-se também por liderar todos os indicadores europeus de evasão fiscal. Antes da crise, um em cada quatro trabalhadores não pagavam nada de impostos, de modo que os cofres públicos deixavam de receber entre 15 mil a 20 mil milhões de euros ao ano.

Antes da crise, cerca de 5 mil gregos declaravam que recebiam mais de 100 mil euros por ano – isto numa população de quase 12 milhões. Lewis explica no seu livro que dois terços dos médicos não pagavam um único euro em impostos, pois nos seus rendimentos declaravam menos de 12 mil euros anuais.

Os subornos estavam na ordem do dia. Alguns estudos lembram que os gregos gastavam cerca de 800 milhões de euros em subornos, para evitar o pagamento de multas ou para que os funcionários fechassem os olhos, incluindo os inspectores fiscais. Para termos noção, o ministério das finanças despediu, há escassos anos, 70 funcionários com um activo imobiliário médio de cerca de 1,2 milhões de euros, quando o seu salário não superava os 50 mil euros anuais.

Outro dado alarmante é que o número de trabalhadores por conta própria na Grécia era dos mais elevados da UE, não por serem especialmente empreendedores, mas pela facilidade de ocultarem dados do Fisco. Como se isso não bastasse, em anos eleitorais, como em 2009, a recolha de impostos baixava de forma substancial (cerca de 30% do PIB), pois os políticos a nível local perdoavam impostos com o objectivo de arrecadarem votos.

9 – Dívida pública exagerada

Como consequência desta farra de gastos e crescimento estatal, o país financiou-se emitindo dívida. A Grécia foi o país que mais recorreu à dívida privada durante a época da bolha financeira e com isso a sua factura anual de juros era cerca de 12% da receita pública até ao 2.º resgate (em 2011 antes do resgate, chegou aos 17%), no entanto na Alemanha o valor era de 6%.

10 – Podem pagar, mas não querem

Syriza e Podemos reclamam agora um novo corte da dívida soberana, mesmo que o Estado grego se tenha endividado voluntariamente para cometer todos os excessos descritos anteriormente – em vez da Grécia assumir a responsabilidade e pagar o que deve.

Mesmo que muitos digam que é impossível, é certo, segundo o BCE, que Atenas possuiu uma enorme carteira de activos públicos, estimada em cerca de 300 mil milhões de euros, incluindo empresas, infraestruturas, acções, participações, solo e todo o tipo de bens. A Grécia também podia vender ilhas, praias, ouro, e até monumentos, se fosse necessário, com a meta de cumprir os seus compromissos e evitar o doloroso estigma da falência e possível saída do euro.

Não seria necessário chegar tão longe, bastava que Atenas reduzisse o peso do Estado para metade (uns 60 mil milhões de euros) com a privatização das pensões, saúde e educação, e vendesse 50% dos seus activos (outros 100 mil milhões por baixo), e a sua dívida ficaria a cerca de 70% do PIB. Além disto, unido ao compromisso do equilíbrio das contas públicas (défice zero) e um ambicioso plano de reformas para liberalizar a economia e baixar os impostos, poderia reduzir ainda mais o seu endividamento a médio prazo por via do crescimento económico. A Grécia pode pagar, só que não quer, e tudo indica que não pague.»





terça-feira, 7 de julho de 2015


Patriotas & parasitas


Alberto GonçalvesDiário de Notícias, 5 de Julho de 2015

Na sexta-feira, os deputados do Bloco de Esquerda levantaram cartazes em que se lia «Solidariedade com a Grécia». Como se o gesto não fosse suficientemente engraçado, submeteram em simultâneo à Assembleia da República um voto com pedido semelhante. Dado que alguns parlamentares têm vergonha na cara, o voto acabou rejeitado. Mas ficou a divertidíssima intenção de condenar as «pressões indevidas que tentam condicionar a escolha livre e democrática do povo». Em português, isto significa que os gregos são livres de escolher a maneira de outros os sustentarem. Quanto à liberdade dos outros, o BE foi omisso. Para cúmulo, que se saiba nenhum dos deputados contribuiu para a campanha iniciada pelo britânico que, através de crowdfunding, procura ajudar a pagar os 1,6 mil milhões da dívida grega. Da última vez que vi, a recolha ia nos 1,6 milhões. Faltava um bocadinho, um bocadinho que, desconfio, não se alcança com cartazes e votos solidários. Nem com lirismo.

O lirismo dominou o encontro «A crise europeia à luz da Grécia», debate também realizado na sexta-feira e abrilhantado pela ausência de divergências. O calibre dos nomes envolvidos explica o estilo e o consenso: Louçã, Pacheco Pereira, Manuel Alegre, o Prof. Freitas, um economista da CGTP e, claro, os imparáveis deputados do BE. A bem da síntese, eis o tom geral: a Europa é uma ditadura (valha-nos Deus); a Grécia simboliza a democracia (desde tempos imemoriais, para não falar do velho esclavagismo e da pedofilia clássica); os gregos resistem ao poder do dinheiro (excepto quando é dado); os gregos, à imagem dos jogadores da bola, levantam a cabeça (excepto para pedir); os gregos são dignos (na medida em que o parasitismo é um critério de dignidade); os gregos, em suma, são patriotas – já os alemães que preferem a Alemanha ou os portugueses que preferem Portugal são traidores. Seja em que país for, patriota é o sujeito que dá a vida ou, vá lá, levanta um cartaz pela Grécia.

A Grécia ou, diga-se em nome da exactidão, o Syriza, o que não é exactamente o mesmo. Há dias, o ministro Varoufakis disse preferir perder um braço a prejudicar a Grécia. Ora o homem não é maneta e, com uma perna às costas, nos intervalos das poses para retratos ao piano já transformou a situação que os gregos viviam há seis meses numa saudade. O pedaço que falta aos senhores do Syriza é uma cabeça em que caiba coisa diferente de ideologia, infantilidade, ressentimento, fanatismo e todos os ingredientes da toleima de que nos lembrarmos.

E é isso, não os «gregos» ou a «Grécia», que move os apoiantes do Syriza. Nos plenários excitados de Lisboa, Caracas ou Moscovo, é o currículo marxista e maoista do bando que seduz (por pudor, não menciono os neonazis da coligação). A retórica da «democracia» é, naturalmente, cosmética, quase irónica: gosta-se do Syriza porque o Syriza representa a enésima esperança de derrubar o «capitalismo», ou o «sistema», ou a «Europa», ou o que quer que defina o Ocidente que, afinal, se abomina. Os «gregos» são os «trabalhadores» ou o «povo» do costume: cobaias mais ou menos voluntárias de uma experiência que invariavelmente corre mal. O referendo, e a reacção dos «democratas» ao referendo, decidirá se corre ainda pior.