sexta-feira, 6 de novembro de 2020

O sínodo alemão coloca uma lápide na doutrina social da Igreja

 

Stefano Fontana

Muito já foi escrito sobre o carácter revolucionário do sínodo alemão. Não diz respeito apenas à Igreja alemã, porque terá uma forte influência em todas as Igrejas do centro e do norte da Europa e também atrairá muitas Igrejas latino-americanas.

As principais alterações contidas nos documentos preparatórios dizem respeito à moralidade sexual . O texto preparatório de 4 de Setembro de 2020, destinado aos trabalhos das conferências regionais, apresenta inúmeras rupturas com a moral tradicional.

Em primeiro lugar, afirma-se que «a abertura à transmissão da vida não é decisiva para cada acto individual, mas deve ser afirmada no desenvolvimento global de uma relação de casal empreendida com dedicação e com base na durabilidade». Esta abordagem faz parte da doutrina da «opção fundamental» condenada pela Veritatis splendor. Noutra parte do documento de trabalho, a importância da abertura para a vida é reiterada, mas a passagem que acabamos de ver enfraquece o seu alcance e abre caminho para excepções.

Em segundo lugar, lemos: «A fertilidade deve ser entendida no sentido mais amplo da faculdade, possível apenas na união sexual de uma mulher com um homem, para gerar uma nova vida. Ampliamos o conceito de fecundidade para além da abertura para uma nova vida e atribuímos uma dimensão social e pessoal à fecundidade de cada ser humano. Os casais do mesmo sexo e outros tipos de casais que não conseguem gerar uma nova vida também carregam o potencial de uma vida fecunda». Essas observações não se limitam aos casais heterossexuais estéreis, mas também a todos os casais homossexuais e legitimam a maternidade ou paternidade «intencional» que está por trás da destruição das figuras parentais por meio da fertilização artificial.

Em terceiro lugar, o documento de trabalho retoma um dos conceitos centrais da Exortação Amoris laetitia, isto é, que as leis morais não são preceitos ou ordens, mas indicações de um ideal a respeito do qual os homens se encontram em posições diferentes em decorrência da sua fragilidade e fraqueza, de modo que uma situação uma vez definida como pecaminosa poderia, em vez disso, ser a perfeição máxima possível nas suas relações. Consequentemente, «vemos no casamento a forma preferida, mas não única, de vivenciar o amor e a sexualidade no relacionamento». Os valores determinantes são indicados na durabilidade, fidelidade, exclusividade e harmonia («Reconhecemos a dignidade das diferentes orientações sexuais e diferentes identidades sexuais, bem como as relações de casal que se baseiam na durabilidade, fidelidade e exclusividade»), que são elementos sem conteúdo e, portanto, aplicáveis a qualquer conteúdo.

O sínodo alemão também abordará outros tópicos, mas mesmo demorando apenas neles, pode-se ver que uma lápide foi colocada sobre a doutrina social da Igreja. O tema da sexualidade é de fundamental importância para ela, pois está ligado ao casamento, à família, à procriação, à educação. Os três princípios inegociáveis de vida, família e liberdade de educação baseiam-se na sexualidade. A família é baseada na sexualidade, entendida como célula da sociedade, como sociedade natural e não apenas como agregação social. O sentido público e não privado da relação de amor entre um homem e uma mulher fundamenta-se na exclusividade do casamento como cenário de um exercício verdadeiramente humano da sexualidade, sentido público que não pode ser reconhecido no casal homossexual.

A sexualidade é a origem da sociabilidade e da sociedade e todos os discursos sobre este tema dizem respeito também à doutrina social da Igreja. A privatização das crianças, que decorre de uma privatização total da sexualidade, degrada o ser humano desde o primeiro momento e é contraditório, dadas essas premissas, exigir o seu aprimoramento posteriormente. A sociedade que perde o conceito de dignidade da pessoa no momento inicial da procriação e do uso correcto da sexualidade humana está destinada a sofrer uma ferida nas origens que não pode ser curada posteriormente. Se a responsabilidade for removida da sexualidade, como será possível encontrá-la noutras esferas subsequentes da vida social? Se, como no texto dos bispos alemães, falamos de consciência, responsabilidade e autodeterminação apenas no sentido subjetivista, não haverá mais espaço para normas públicas baseadas no direito natural; e a mesma autoridade política estará vinculada por um respeito indistinto por uma dignidade abstrata da pessoa, a ser entendida de forma tão vaga que seja adequada a todas as situações da vida.

Podemos então dizer que o sínodo alemão poderá colocar uma lápide na doutrina social da Igreja, porque nega a sociabilidade da sociedade desde o início, isto é, na sexualidade humana.



 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A Espanha à beira do precipício

 

Gonçalo Dorotea Cevada 

(extractos) 

Triste, assustador e perigoso, e qualquer semelhança com a Venezuela de Chávez e Maduro não é pura coincidência.

Corria o ano de 1992 e o então major venezuelano Hugo Chávez aventurou-se numa tentativa de golpe de Estado militar que o condenou a dois anos de prisão.

Quatro anos mais tarde, em 1998, o mesmo Hugo Chávez, numas eleições democráticas, ganhou e tornou-se presidente daquele país.

Chávez percebeu que as revoluções contemporâneas já não se faziam com tanques e armas, com ameaças de morte ou exílios forçados, mas, antes, «por dentro» e legitimadas por eleições e processos eleitorais democráticos.

Outros, com maior ou menor pudor, e, claro, com maior ou menor sucesso, seguiram-lhe o caminho: Evo Morales, na Bolívia, e Cristina Kirchner, na Argentina, são exemplos.

Ora, em todos estes fenómenos houve um resultado comum: um nível de corrupção e de concentração de poderes nunca antes vistos em estados considerados democráticos.

No entanto, o exemplo de Hugo Chávez não se limitou, nem se limita, à América Latina.

Em 2013, numa entrevista à televisão pública venezuelana, Pablo Iglesias definiu o país sul-americano como um «exemplo democrático».

Um ano antes, num tweet entretanto eliminado, Alberto Garzón afirmou que «o único modelo de consumo sustentável e com desenvolvimento humano Cuba».

Hoje, em 2020, Pablo Iglesias e Alberto Garzón são, respectivamente, Vice-Presidente e Ministro do Consumo do governo espanhol. 

Os perversos, mas inteligentes, dirigentes do Unidos Podemos cedo perceberam que a sua revolução só ultrapassaria a utopia da rua, das Portas do Sol e das salas de aulas de Ciência Política da Complutense de Madrid chegando ao governo e ao Palácio da Moncloa.

E assim foi, com dois detalhes não menos importantes: primeiro, financiados ilegalmente por narco-ditaduras; e, segundo, manipulando a opinião pública com a invenção de casos judiciais, apresentando-se como vítimas de realidades paralelas e construídas pelos mesmos.

Ainda assim, e com o pior resultado eleitoral de sempre do partido de extrema-esquerda radical, Pablo Iglesias fez xeque-mate ao PSOE e conseguiu, por fim, um lugar cimeiro no Conselho de Ministros do governo espanhol.

Uma vez no poder, o guião, que nem precisou de ser traduzido, chega a confundir-se com o da Venezuela de Hugo Chávez.

Primeiro objectivo (este ainda em curso): silenciar e vilipendiar a oposição com insultos do tipo «fascistas» e «franquistas», pelo simples facto de os outros acharem que retirar os restos mortais de um ditador desaparecido há mais de 40 anos não é um assunto relevante para a Espanha do século XXI, onde o desemprego está prestes a ultrapassar a barreira dos 15% num país com mais de 40 milhões de habitantes.

Segundo objectivo (este aparentemente falhado): adoptar uma postura de confronto declarado a qualquer meio de comunicação social independente que não siga a narrativa imposta por si e pelo actual governo.

Sobre este ponto, o executivo espanhol chegou a exigir, durante a Primavera de 2020, que qualquer jornalista presente nas conferências de imprensa sobre a Covid-19 em Espanha enviasse as suas perguntas de maneira prévia, para que estas fossem revistas e selecionadas pelo chefe de gabinete de Pedro Sanchéz, o sinistro Iván Redondo, qual Ministro da Verdade orwelliano.

Esta tentativa de silenciamento falhou porque vários jornalistas e vários meios de comunicação social de referência, como El Mundo e o ABC ameaçaram boicotar esta tentativa (...)

Terceiro objectivo (este entretanto atingido): ocupar o lugar de topo no Conselho Nacional de Segurança do Estado espanhol.

Com isto, Pablo Iglesias controla hoje todos os segredos de Estado e acede a toda e qualquer informação de segurança considerada classificada. Um perigo, portanto.

Quarto objectivo (este ainda em curso): debilitar o Estado e todas as suas instituições democráticas resultantes (e devidamente sufragadas pelo povo no referendo à Constituição de 1978) da transição para a democracia no final dos anos 70.(...)

Quinto objectivo (este é ainda um copo meio cheio, meio vazio): controlar a Justiça.

Parte já foi conseguido com a nomeação de Dolores Delgado, até há um ano Ministra da Justiça do governo de Pedro Sanchéz e hoje Fiscal General del Estado (o equivalente português à Procuradoria-Geral da República).

Uma espécie de braço armado do Executivo de esquerda numa função que se quer independente e apartidária.

E, mais recentemente, alterar a forma como são nomeados os 20 vogais do Consejo General del Poder Judicial – de onde sai o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (...)

Ora, a proposta surgiu no início desta semana e defende que os 20 juízes passem a ser eleitos por maioria absoluta simples, isto é, metade mais um, em vez da actual maioria qualificada de 3/5 no parlamento espanhol e no senado.(...)

Algo gravíssimo e que, quando visto noutras geografias da Europa, como na Polónia – acusada de destruir o que ainda resta do Estado de Direito naquele país – fez soar todos os alarmes e todas a críticas (e bem!) de Bruxelas e do Partido Socialista Europeu.

A oposição espanhola e várias associações de juízes já vieram anunciar que recorrerão a todas as instâncias judiciais domésticas e europeias para travar uma lei que, no seu espírito, não pretende mais do que matar o princípio da separação de poderes, da independência dos magistrados e do Estado de direito.

Tudo isto, no meio de uma pandemia, onde Espanha lidera todos os rankings de falecidos, de doentes e de profissionais de saúde infectados com a Covid-19.

Tudo isto, no meio de uma crise económica e social sem precedentes: o FMI e a OCDE colocam Espanha como a economia desenvolvida que mais riqueza perderá em 2020, com uma queda do PIB perto dos 15% e com uma taxa de desemprego de guerra que não se recuperará até 2026.

Esta semana, o Banco de Espanha alertou para o crescimento do risco de pobreza e que esta poderá atingir 11 milhões de pessoas no final deste ano.


Triste, assustador e perigoso, e qualquer semelhança com a Venezuela de Chávez e Maduro não é pura coincidência.

É antes consequência e resultado da mesma cartilha que não vale, além de criar Estados falhados, falidos e que multiplicam a inflação, a pobreza e a fome a um ritmo assustadoramente industrial.





sábado, 17 de outubro de 2020

Itália: Defender fronteiras nacionais acaba em julgamento

   Giulio Meotti
, 15 de Outubro de 2020

Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista
e escritor italiano.

  • Esta é a primeira vez que um tribunal de justiça da Europa é provocado para julgar um ministro, que deveria ser o responsável pela segurança de um país, por manter migrantes num porto enquanto se aguarda uma redistribuição de recém-chegados na Europa... Até então, a Europa não tinha apresentado à Itália a mínima ajuda.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

CARTA DO ARCEBISPO CARLO MARIA VIGANÓ AO PRESIDENTE DONALD TRUMP

Dies Iræ, 7 de Junho de 2020

Carta do Arcebispo Carlo Maria Viganò
ao Presidente Donald Trump
A pedido do Arcebispo Carlo Maria Viganò, o Dies Iræ traduziu e publica uma carta
que Sua Excelência Reverendíssima dirigiu, neste domingo da Santíssima Trindade,
ao Presidente Donald Trump.


7 de Junho de 2020
Domingo da Santíssima Trindade

Senhor Presidente,

Estamos a assistir, nestes meses, à formação de dois lados que definiria Bíblicos: os filhos da luz e os filhos das trevas. Os filhos da luz constituem a parte mais conspícua da humanidade, enquanto que os filhos das trevas representam uma minoria absoluta; todavia, os primeiros estão sujeitos a uma espécie de discriminação que os coloca numa situação de inferioridade moral em respeito aos seus oponentes, que ocupam frequentemente lugares estratégicos no Estado, na política, na economia e até nos media. Por um fenómeno aparentemente inexplicável, os bons são reféns dos ímpios e daqueles que os ajudam por interesse ou por temor.

Estes dois lados, enquanto bíblicos, repropõem a clara separação entre a estirpe da Mulher e a da Serpente. Por um lado, existem aqueles que, embora com mil defeitos e fraquezas, são animados pelo desejo de fazer o bem, ser honestos, constituir uma família, empenhar-se no trabalho, dar prosperidade à Pátria, socorrer os necessitados e merecer, na obediência à Lei de Deus, o Reino dos Céus. Do outro lado encontram-se aqueles que se servem, não têm princípios morais, querem demolir a família e a Nação, explorar os trabalhadores para enriquecerem indevidamente, fomentar as divisões internas e as guerras, acumular poder e dinheiro: para eles, a ilusão falaciosa de um bem-estar temporal revelará – se não se arrependerem – a tremenda sorte que os espera, longe de Deus, na danação eterna.

Na sociedade, Senhor Presidente, coexistem estas duas realidades opostas, eternas inimigas como eternos inimigos são Deus e Satanás. E parece que os filhos das trevas – que facilmente identificamos com aquele deep state ao qual Vossa Excelência se opõe e que ferozmente combate ainda nos nossos dias – quiseram descobrir as próprias cartas, por assim dizer, mostrando, enfim, os seus planos. Estavam tão certos de que já tinham tudo sob controlo, que haviam deixado de lado aquela circunspecção que, até agora, ocultava, pelo menos parcialmente, as suas verdadeiras intenções. As investigações já em andamento revelarão as verdadeiras responsabilidades daqueles que geriram a emergência COVID, não apenas no âmbito sanitário, mas também político, económico e de mediático. Descobriremos provavelmente que, mesmo nesta colossal operação de engenharia social, existem pessoas que decidiram o destino da humanidade, arrogando-se o direito de agir contra a vontade dos cidadãos e dos seus representantes nos governos das Nações.

Também descobriremos que os motins destes dias foram provocados por aqueles que, vendo desaparecer inexoravelmente o vírus e diminuir o alarme social da pandemia, tiveram necessariamente de provocar desordens porque, posteriormente, se segue a repressão que, embora legítima, será condenada como uma injustificada agressão à população. O mesmo está a acontecer na Europa, em perfeita sincronia. É bastante evidente que o recurso aos protestos de rua é fundamental para os propósitos daqueles que desejam ver eleita, nas próximas eleições presidenciais, uma pessoa que personifique os objectivos do deep state e que dele seja expressão fiel e convicta. Não será surpreendente saber, em poucos meses, que, por trás dos actos de vandalismo e da violência, se escondem novamente aqueles que, na dissolução da ordem social, esperam construir um mundo sem liberdade: Solve et Coagula, ensina o adágio maçónico.

Mesmo que possa parecer desconcertante, os lados que mencionei também se encontram no campo religioso. Há Pastores fiéis que sustentam o rebanho de Cristo, mas também mercenários infiéis que tentam dispersar o rebanho e dar as ovelhas em alimento a lobos vorazes. E não é de surpreender que estes mercenários sejam aliados dos filhos das trevas e odeiem os filhos da luz: tal como existe um deep state, também existe uma deep church que trai os próprios deveres e nega os seus compromissos diante de Deus. Assim, o Inimigo invisível, que os bons governantes combatem na coisa pública, é combatido pelos bons pastores no campo eclesiástico. Uma batalha espiritual sobre a qual também falei no meu recente Apelo lançado no passado dia 8 de Maio.

Pela primeira vez, os Estados Unidos têm em si um Presidente que defende corajosamente o direito à vida, que não se envergonha de denunciar as perseguições aos Cristãos no mundo, que fala de Jesus Cristo e do direito dos cidadãos à liberdade de culto. A sua participação na Marcha pela Vida e, mais recentemente, na proclamação do mês de Abril como National Child Abuse Prevention Month são gestos que confirmam de que lado deseja combater. E permito-me crer que somos companheiros de batalha, embora com armas diferentes.

Por este motivo, creio que o ataque de que foi alvo após a visita ao Santuário Nacional de São João Paulo II faz parte da narrativa mediática orquestrada, não para combater o racismo e para trazer ordem social, mas para exasperar as almas; não para dar justiça, mas para legitimar a violência e o crime; não para servir a verdade, mas para favorecer uma facção política. E é desconcertante que existam Bispos – como aqueles que denunciei recentemente – que, com as suas palavras, provam que estão alinhados no lado oposto. São subservientes ao deep state, ao globalismo, ao pensamento único, à Nova Ordem Mundial, que cada vez mais invocam em nome de uma fraternidade universal que não tem nada de cristão, mas que evoca, outrossim, os ideais maçónicos de quem gostaria de dominar o mundo expulsando Deus dos tribunais, das escolas, das famílias e talvez até das igrejas.

O povo americano é maduro e já compreendeu o quanto os media mainstream não querem difundir a verdade, mas silenciá-la e distorcê-la, difundindo a mentira útil para os propósitos dos seus senhores. É importante, no entanto, que os bons – que estão em maioria – acordem do torpor e não aceitem ser enganados por uma minoria de pessoas desonestas com fins inconfessáveis. É necessário que os bons, os filhos da luz, se juntem e levantem a voz. Que maneira mais eficaz de fazê-lo rezando ao Senhor para protegê-lo, Senhor Presidente, os Estados Unidos e toda a humanidade deste enorme ataque do Inimigo? Diante do poder da oração, cairão os enganos dos filhos das trevas, serão revelados os seus planos, mostrar-se-á a sua traição, não dará em nada o poder que assusta enquanto não é conduzido à luz e se mostra o que é: um engano infernal.

Senhor Presidente, a minha oração é constantemente dirigida à amada Nação americana, aonde tive o privilégio e a honra de ser enviado pelo Papa Bento XVI como Núncio Apostólico. Nesta hora dramática e decisiva para toda a humanidade, Vossa Excelência está na minha oração e, consigo, também aqueles que o apoiam no governo dos Estados Unidos. Confio que o povo americano se junte a mim e a si na oração a Deus Omnipotente.

Unidos contra o Inimigo invisível de toda a humanidade, abençoo-o a si e a Primeira-Dama, a amada Nação americana e todos os homens e mulheres de boa vontade.

 Carlo Maria Viganò,           
Arcebispo Titular de Ulpiana
ex-Núncio Apostólico nos Estados Unidos da América





segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Do interesse e importância da Catalunha para Portugal


Humberto Nuno de Oliveira

Ao iniciarmos este pequeno artigo lembraremos duas citações que orientam o rumo do mesmo. Dizia-nos Kant que «sem o fundamento geográfico, a história pouco se distancia dos contos de fadas», complementando Napoleão que «a política dos Estados está na sua geografia». Na realidade, é de um ponto de vista geográfico que analisaremos a importância de uma Catalunha independente para Portugal.

É para nós indissociável a importância dos geofactores na formação do Estado português, lembrando a autoridade de Jaime Cortesão ao afirmar «Ninguém (...) poderá estudar (…) o fenómeno da formação política de Portugal, sem o encarar nas suas relações com o território». Sendo verdade que, para o serem, todos os Estados devem possuir um território, nuns ele inflúi decisivamente e noutros não tanto. No nosso caso, a geografia desempenhou um papel enorme, posto que desde cedo o nosso território se constituiu como determinante área estratégica.

Num momento histórico em que no nosso país não se discute qual ou quais devem ser os nossos grandes objectivos nacionais, importa relembrar que a viabilização geopolítica[1] do mesmo foi o primeiro desses objectivos dado que, a exígua dimensão inicial do território seria uma vulnerabilidade que urgia superar. Este objectivo foi precisamente comungado por uma realidade política do outro lado da Península: o condado de Barcelona.

Assim, importa realçar que, logo desde os primórdios destas nacionalidades, foi preocupação constante, demonstrada pela conquista de territórios para sul, a aquisição da litoralidade e a obtenção dos estuários dos grandes rios, então navegáveis (ainda hoje, como bem sabemos, as zonas do interior apresentam maiores índices de pobreza e, consequentemente, maior vulnerabilidade). Facto que em autores como Jaime Cortesão ou Virgílio de Carvalho assumiu papel de vital importância para a sobrevivência dos estados que, por aquela via, garantiam a dimensão mínima para existir, fugindo ao poder centrípeto ou aglutinador vindo da Meseta Central[2], pela criação, em oposição, de um poder centrífugo ou evasivo marítimo. Este quadro é partilhado, no mesmo período histórico, pelo condado de Barcelona-Catalunha e depois pela monarquia aragonesa a quem emprestam a sua varonia.

E foi a aliança com esta (para além de outras externas ao contexto peninsular), decorrente de uma maritimidade partilhada, que permitiu assegurar os únicos dois casos de sucesso numa Península que, progressivamente cairia sob o jugo de Castela.

A quantos subsistem dúvidas sobre o carácter imperial do Estado espanhol para a Península, importa recordar que, para a escola de pensamento geopolítico e estratégico castelhano-espanhol, as independências de Portugal e da Catalunha hão-de ser sempre vistas como uma fatalidade histórica, que contraria a grande noção de Ibéria como espaço unitário.

Não é por acaso que, analisando a individualização de Portugal (porque lamentavelmente a Catalunha haveria de cair no âmbito das conquistas espanholas), o general espanhol Munilla Gomez (autor com grandes responsabilidades no actual pensamento estratégico do Estado castelhano-espanhol), afirmava com incontida pena:

«E quanto aos nossos vizinhos portugueses, há que reconhecer que, apesar do seu potencial militar ter sido muito inferior ao império que lograram construir, acertaram na hora de olhar para o oceano e de voltar costas à estratégia continental. Como também acertaram nas suas alianças e, sobretudo, pelo que praticaram a regra de ouro da sua política internacional: estar sempre unidos à principal potência naval de cada momento.»

Concluindo, mostra a história que a aliança de Portugal e da Catalunha foi permanente elemento de estabilidade recíproca e factor de menorização dos apetites imperiais (latentes mas jamais esquecidos) do Estado espanhol. Assim, a existência de uma Catalunha (e de outras nações oprimidas pelo Estado castelhano-espanhol) independente será sempre mais favorável ao papel de Portugal num contexto peninsular plural, diverso e não controlado pelos apetites centrípetos da Meseta.

Os castelhanos procederam a uma «regionalização» da Espanha retalhando
a Catalunha de modo a diminuir-lhe o peso político.

NOTAS:

[1] Tomemos, por exemplo, as definições do catalão Jaume Vicens i Vives (1950) de que esta disciplina é a da doutrina dos espaços vitais, apresentando-se como um resumo dos resultados da geografia histórica e da geografia política, ou a do clássico Karl Haushofer de que é a ciência que, através do processo histórico, estuda as formas de vida política nos espaços vitais naturais, considerando-os na sua ligação com o meio ambiente.

[2] Federico Udina Martorell, como aliás muitos outros autores castelhanos, confirma a grata tese de que a Meseta (Castela ou hoje o Estado Central espanhol) está, de facto, predestinada a exercer ao longo da História um papel preponderante e de comandamento sobre o restante espaço peninsular.





segunda-feira, 29 de abril de 2019

O incêndio na Notre Dame e a destruição da Europa cristã


O fogo que destruiu grande parte da Catedral de Notre Dame, no coração de Paris,
é uma tragédia irreparável. Ainda que a catedral seja reconstruída, jamais será a mesma.
(Foto: Veronique de Viguerie/Getty Images)

Guy Millière, Institute Gatestone, 27 de Abril de 2019
Dr. Guy Millière, professor da Universidade de Paris, é autor de 27 livros sobre a França e a Europa. 

Original em inglês: The Burning of Notre Dame and the Destruction of Christian Europe

Tradução: Joseph Skilnik

Apenas uma hora após as chamas começarem a subir na Catedral de Notre Dame, quando não havia a menor possibilidade de explicar as causas do incêndio, as autoridades francesas apressaram-se em adiantar que o incêndio ocorreu em consequência de um «acidente» e «incêndio doloso foi descartado». As declarações soaram como todas e quaisquer declarações oficiais feitas pelo governo francês após a ocorrência de ataques em França na última década.

O incêndio na Catedral de Notre Dame ocorre justamente quando ataques contra igrejas em França e na Europa se estão a multiplicar. Mais de 800 igrejas foram atacadas em França só no ano de 2018.

As igrejas em França estão vazias. O número de padres está a diminuir e os padres que estão no activo em França estão muito velhos ou vêm de África ou da América Latina. Agora a religião dominante em França é o Islão. Todos os anos as igrejas são demolidas para dar lugar a estacionamentos ou shopping centers. As mesquitas estão a ser construídas em todos os lados e estão cheias.

O fogo que destruiu grande parte da Catedral de Notre Dame, no coração de Paris, é uma tragédia irreparável. Ainda que a catedral seja reconstruída, jamais será a mesma. Vitrais e importantíssimas estruturas arquitectónicas foram seriamente danificadas e a moldura de carvalho totalmente destruída. A flecha da catedral era uma obra de arte sem igual. Foi desenhada pelo arquitecto Eugène Viollet-le-Duc que restaurou a catedral no século XIX, baseando o seu trabalho em registros do século XII.

Além do incêndio, a água imprescindível para extinguir as chamas penetrou no calcário das paredes e da fachada, enfraquecendo-as, fragilizando-as. O telhado já não existe mais: a nave, o transepto e o coro encontram-se a céu aberto, vulneráveis ao mau tempo. Eles sequer têm condições de serem protegidos até que a estrutura seja examinada minuciosamente, tarefa que levará semanas. Três elementos primordiais da estrutura (o pinhão do transepto norte, o pinhão localizado entre as duas torres e a abóbada) também estão à beira do colapso.

A Catedral de Notre Dame tem mais de 800 anos. Sobreviveu à turbulência da Idade Média, ao Reino de Terror da Revolução Francesa, a duas Guerras Mundiais e à ocupação nazista de Paris. Não sobreviveu ao que a França se está a tornar no século XXI.

Até agora, a causa do incêndio foi atribuída a «um acidente» «um curto-circuito» e mais recentemente «a uma falha no computador».

Se realmente o incêndio fosse um acidente, seria praticamente impossível explicar como começou. Benjamin Mouton, ex-arquitecto chefe da Notre Dame, explicou que as normas eram excepcionalmente rígidas e que nenhum cabo nem aparelho eléctrico e nenhuma fonte de calor poderia estar no sótão. Salientou que havia um sistema de alarme extremamente sofisticado. A empresa que instalou o andaime não utilizou nenhuma soldagem e era especializada neste tipo de trabalho. O incêndio começou mais de uma hora após a saída dos funcionários e nenhum deles se encontrava nas dependências da Catedral. O fogo espalhou-se num piscar de olhos, os bombeiros correram imediatamente para o local, chegando lá ficaram estupefactos. Remi Fromont, arquitecto chefe dos monumentos históricos em França salientou: «No local onde o fogo começou não existia nenhum elemento que fosse a causa do incêndio. É preciso uma gigantesca fonte de calor para desencadear um desastre dessa magnitude».

Será realizada uma investigação longa, difícil e complexa.

A possibilidade de que o incêndio tenha ocorrido em consequência de um acto criminoso não pode ser descartada. Apenas uma hora após as chamas começarem a subir na Catedral de Notre Dame, quando não havia a menor possibilidade de explicar as causas do incêndio, as autoridades francesas apressaram-se em adiantar que o incêndio ocorreu em consequência de um «acidente» e «incêndio doloso foi descartado». As declarações soaram como todas e quaisquer declarações oficiais feitas pelo governo francês após a ocorrência de ataques em França na última década.

Em Novembro de 2015, na noite do massacre na Casa Noturna Bataclan, em Paris, quando os jihadistas assassinaram 90 pessoas, o ministério do Interior de França sustentou que o governo não sabia de nada, a não ser que tinha havido um tiroteio. A verdade veio à tona somente após o ISIS assumir a responsabilidade pelo massacre.

Em Nice, após o ataque dos camiões de Julho de 2016, o governo francês insistiu por vários dias que o terrorista que atropelou 86 pessoas era um «homem que havia sofrido colapso mental».

Em 2018, o assassino de Sarah Halimi, que recitou versos do Alcorão enquanto torturava a vítima, foi considerado «mentalmente perturbado», foi enviado a uma instituição psiquiátrica logo após a detenção. Provavelmente jamais será julgado. Em 8 de Abril, Alain Finkielkraut e outros 38 intelectuais publicaram um artigo realçando ser imperativo que o assassino não se esquive da justiça. O artigo não surtiu efeito.

O incêndio na Catedral de Notre Dame ocorreu menos de três anos depois que um «comando» de mulheres jihadistas, posteriormente presas, procurou destruir a Catedral detonando cilindros de gás natural. Três dias antes do incêndio da semana passada, em 12 de Abril, Ines Madani, líder dos jihadistas, um jovem francês convertido ao Islão, foi condenado a oito anos de prisão por criar um grupo terrorista filiado ao Estado Islâmico.

O incêndio na Catedral de Notre Dame ocorre justamente quando ataques contra igrejas em França e na Europa se estão a multiplicar. Mais de 800 igrejas foram atacadas em França só no ano de 2018. Muitas sofreram sérios danos: estátuas quebradas e decapitadas, tabernáculos destruídos, fezes atiradas contra as paredes. Atearam fogo em inúmeras igrejas. Em 5 de Março, a Basílica de St. Denis, onde estão enterrados todos os reis de França, menos três, foi profanada por um refugiado paquistanês. Vários vitrais foram quebrados e o órgão da basílica, um tesouro nacional construído entre 1834 e 1841, por pouco não foi totalmente destruído. Doze dias depois, em 17 de Março, atearam fogo em Saint Sulpice, a maior igreja de Paris, causando sérios danos. Após dias de silêncio, a polícia finalmente admitiu que foi criminosa a causa do incêndio.

Por meses a fio, organizações jihadistas vêm emitindo comunicados incentivando a destruição de igrejas e monumentos cristãos na Europa. A Catedral de Notre Dame foi reiteradamente apontada como alvo prioritário. Mesmo assim, a Catedral não estava adequadamente protegida. Em Novembro passado, dois jovens entraram na Catedral à noite, subiram ao telhado gravaram um vídeo e na sequência postaram-no no YouTube.

Um sem-número de mensagens foram postadas por pessoas com nomes muçulmanos nas redes sociais, Twitter, Facebook e no site da Al Jazeera, manifestando júbilo ao ver um importante símbolo cristão destruído. Hafsa Askar, uma imigrante de Marrocos e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes de França (UNEF), a principal organização estudantil de França, postou um twite com os seguintes dizeres: «as pessoas estão a chorar por causa de pequenos pedaços de madeira... é uma ilusão de lixo branco».

O presidente francês Emmanuel Macron, que nunca se referiu aos ataques a Saint Denis ou Saint Sulpice, foi a correr até à Catedral de Notre Dame e declarou: «Notre Dame é a nossa história, a nossa literatura, a nossa imaginação». Deixou totalmente de fora a dimensão religiosa da catedral.

Na noite seguinte, disse que a Notre Dame seria reconstruída em cinco anos: sem dúvida uma declaração ousada. Muitos analistas interpretaram as palavras de Macron como sendo ditadas pelo desespero em recuperar a confiança do povo francês após cinco meses de manifestações, distúrbios e destruição decorrentes da sua ineficiente gestão no tocante à revolta dos «Coletes Amarelos». (Em 16 de Março, grande parte dos Champs-Élysées foi danificada por vândalos; os reparos mal começaram.) Os especialistas são unânimes em dizer que é praticamente certo que levará muito mais do que cinco anos para reconstruir a Catedral de Notre Dame.

Causa espécie que Macron tenha salientado que a catedral ficará ainda «mais bonita» do que antes, como se um monumento seriamente danificado poderia ficar mais bonito após a restauração. Macron então realçou que a reconstrução seria um «gesto arquitectónico contemporâneo». A observação suscitou apreensão, para não dizer pânico, entre os defensores de monumentos históricos, que agora temem que ele estaria disposto a incluir elementos arquitectónicos modernos a uma joia da arquitectura gótica. Mais uma vez, deixou totalmente de fora a dimensão religiosa da catedral.

A atitude de Macron não surpreende ninguém. A partir do momento em que se tornou presidente, manteve-se longe de qualquer cerimónia cristã. A maioria dos presidentes que o precederam fizeram o mesmo. A França é um país onde o secularismo dogmático supremo reina. Um líder político que se atreva a dizer que é cristão é imediatamente criticado nos media e só tende a prejudicar uma carreira política em ascensão. Nathalie Loiseau, ex-directora da Escola Nacional de Administração de França e candidata que estava no topo da lista dos candidatos do partido de Macron, «Em Marcha», para as eleições do Parlamento Europeu de Maio de 2019, foi recentemente fotografada a sair de uma igreja após a missa, o que levou a um debate nos media sobre a sua ida à igreja, se isso pode ser considerado um «problema».

As consequências do secularismo francês saltam aos olhos. O cristianismo foi praticamente eliminado da vida pública. As igrejas estão vazias. O número de padres está diminuindo e os padres que estão no activo em França estão muito velhos ou vêm de África ou da América Latina. Agora a religião dominante em França é o Islão. Todos os anos, igrejas são demolidas para dar lugar a estacionamentos ou shopping centers. As mesquitas estão a ser construídas em todos os lados e estão cheias. Imãs radicais são proselitistas. O assassinato, há três anos, de Jacques Hamel, um padre de 85 anos de idade que foi massacrado por dois islamistas enquanto celebrava a missa numa igreja onde apenas cinco pessoas (três freiras idosas) estavam presentes, já diz tudo.

Em 1905 o parlamento francês aprovou uma lei decretando que todas as propriedades da Igreja católica em França seriam confiscadas. Igrejas e catedrais passaram a ser propriedade do Estado. Desde então, sucessivos governos gastaram pouco dinheiro com a sua conservação. As igrejas que não foram profanadas estão em péssimo estado e a maioria das catedrais também está nas mesmas condições. Mesmo antes do devastador incêndio, a Arquidiocese de Paris declarou que «não tem condições de arcar com todas as despesas» necessárias para manter a Catedral de Notre Dame, «estimada em US$185 milhões». Segundo a CBS News, em 20 de Março de 2018:

O governo francês, dono da catedral, prometeu US$50 milhões para a próxima década, deixando uma conta em aberto de US$135 milhões. Para levantar o restante, Picaud ajudou a lançar a Fundação Amigos da Notre-Dame de Paris. Ela trabalha para encontrar doadores do sector privado tanto em França como do outro lado do Atlântico.

«Sabemos que os americanos são ricos, de modo que iremos onde acreditamos que temos condições de arrecadar dinheiro para ajudar a restaurar a catedral», salientou Picaud.

Na noite do incêndio na Catedral de Notre Dame, centenas de franceses aglomeraram-se em frente à catedral em chamas para cantar salmos e rezar. De repente, parecia que estavam a entender que estavam a perder algo imensamente precioso.

Após o incêndio, o governo francês decidiu receber doações de pessoas, empresas e organizações do sector privado para a reconstrução; foram arrecadados mais de um bilião de euros. Os bilionários franceses prometeram doar vultuosas somas de dinheiro: a família Pinault (os principais proprietários do conglomerado varejista Kering) prometeu 100 milhões de euros, a família Arnault (proprietária da LVMH, a maior empresa de artigos de luxo do mundo), 200 milhões de euros, a família Bettencourt (proprietária da L'Oréal), também 200 milhões. Muitos da «esquerda» francesa imediatamente disseram que as famílias abastadas tinham dinheiro demais e que esses milhões seriam melhor empregados se ajudassem os pobres ao invés de se preocuparem com pedras antigas.

Durante muito tempo, o coração de Paris terá que arcar com as terríveis cicatrizes de um incêndio que devastou muito mais do que uma catedral. O fogo destruiu uma parte essencial do que restou da alma quase perdida de França e do que a França podia realizar quando os franceses acreditavam em algo superior que a sua própria existência do dia-a-dia.

Alguns nutrem a esperança de que a visão da catedral destruída inspire muitos franceses a seguirem o exemplo daqueles que rezavam na noite do desastre. Michel Aupetit, arcebispo de Paris, salientou em 17 de Abril, dois dias depois do incêndio, que tinha total convicção que a França experimentaria um «despertar espiritual».

Outros, não tão optimistas, vêem nas cinzas da catedral um símbolo da destruição do cristianismo em França. O historiador de arte Jean Clair disse que vê na destruição da Catedral de Notre Dame mais um sinal da «irreversível decadência» da França e do colapso final das raízes judaico-cristãs da Europa.

O colunista americano Dennis Prager escreveu:

«O simbolismo do incêndio da Catedral de Notre Dame, a mais renomada construção da civilização ocidental, símbolo icônico da cristandade ocidental, é difícil de deixar passar.

«É como se o próprio Deus nos quisesse advertir, da maneira mais inequívoca possível, que o cristianismo ocidental está em chamas e juntamente com ele a civilização ocidental».

Outro escritor americano, Rod Dreher, observou:

«Esta catástrofe ocorrida em Paris é hoje um sinal para todos nós cristãos e um sinal para todas as pessoas no Ocidente, especialmente aqueles que desprezam a civilização que construiu este grande templo para o seu Deus numa Ilha no Sena onde ritos religiosos eram celebrados desde os dias da Roma pagã. É um alerta de que estamos a perder e do que não recuperaremos se não mudarmos de rumo agora».

Por agora, nada indica que a França e a Europa Ocidental mudarão de rumo.





sábado, 20 de abril de 2019

Bento XVI analisa a Igreja e os abusos sexuais e cita várias causas


Bento XVI quis analisar a situação da Igreja e a crise dos abusos que a atingem neste momento

O  Papa recorda a revolução sexual
o colapso da teologia moral

Relata a censura aos seus livros nos seminários

El Papa Benedicto XVI ha presentado un largo escrito titulado La Iglesia y los abusos sexuales para la publicación alemana Klerusblatt pero que ha sido filtrado antes a The New York Post y que reproduce íntegro en español Aciprensa. En él, Ratzinger hace un completo análisis de la situación de la Iglesia y la relación con los escándalos de abusos sexuales que la han sacudido tanto en el pasado reciente como en la actualidad.

Benedicto XVI divide su trabajo en tres partes con su tradicional estilo expositivo. La primera parte pone en contexto este gran problema. «Intento mostrar que en la década de 1960 ocurrió un gran evento, en una escala sin precedentes en la historia. Se puede decir que en los 20 años entre 1960 y 1980, los estándares vinculantes hasta entonces respecto a la sexualidad colapsaron completamente, y surgió una nueva normalidad que hasta ahora ha sido sujeta de varios laboriosos intentos de disrupción».

En la segunda parte, el Papa emérito asegura que busca precisar los efectos de esta situación en la formación de los sacerdotes y en sus vidas. Y por último desarrolla «algunas perspectivas para una adecuada respuesta por parte de la Iglesia».

La influencia de la Revolución Sexual

Sobre el contexto necesario para saber qué ha pasado en la Iglesia, Ratzinger recuerda que «entre las libertades por las que la Revolución de 1968 peleó estaba la libertad sexual total, una que ya no tuviera normas» añadiendo que «parte de la fisionomía de la Revolución del 68 fue que la pedofilia también se diagnosticó como permitida y apropiada».


Ante esta situación, reflexiona cómo «para los jóvenes en la Iglesia, pero no sólo para ellos, esto fue en muchas formas un tiempo muy difícil». «Siempre me he preguntado cómo los jóvenes en esta situación se podían acercar al sacerdocio y aceptarlo con todas sus ramificaciones. El extenso colapso de las siguientes generaciones de sacerdotes en aquellos años y el gran número de laicizaciones fueron una consecuencia de todos estos desarrollos», agrega.

El colapso de la teología moral

Por otro lado, el Papa emérito señala que al mismo tiempo, aunque de manera independiente de este desarrollo, «la teología moral católica sufrió un colapso que dejó a la Iglesia indefensa ante estos cambios en la sociedad».

Resalta como se intentó sustituir una teología moral basada en la ley natural donde acabó prevaleciendo «la hipótesis de que la moralidad debía ser exclusivamente determinada por los propósitos de la acción humana». En la práctica, esto suponía –agrega Raztinger – que «ya no podía haber nada que constituya un bien absoluto, ni nada que fuera fundamentalmente malo; (podía haber) sólo juicios de valor relativos. Ya no había bien (absoluto), sino sólo lo relativamente mejor o contingente en el momento y en circunstancias».

Esto llegó a «proporciones dramáticas» a finales de la década de 1980 y en la de 1990. Esto provocó la respuesta de San Juan Pablo II con la encíclica Veritatis Splendor, y que fue contestada por una parte de los teólogos morales.

«Todo esto permite ver cuán fundamentalmente se cuestiona la autoridad de la Iglesia en asuntos de moralidad. Los que niegan a la Iglesia una competencia en la enseñanza en esta área la obligan a permanecer en silencio precisamente allí donde el límite entre la verdad y la mentira está en juego», incide.

Las consecuencias de este cambio en la moralidad

Benedicto XVI se centra posteriormente en las reacciones eclesiales iniciales y asegura que la «disolución del concepto cristiano de moralidad» estuvo marcado por la radicalidad de la década de 1960 que, en su opinión, «necesariamente debió tener un efecto en los distintos miembros de la Iglesia».


Dada su experiencia como Papa entre 2005 y 2013 y anteriormente como prefecto para la Congregación para la Doctrina de la Fe recuerda muchos hechos concretos que explican los hechos que expone. Así,  explica que «en varios seminarios se establecieron grupos homosexuales que actuaban más o menos abiertamente, con los que cambiaron significativamente el clima que se vivía en ellos».

Además, el Papa emérito asegura que «en muchos lugares se entendió que las actitudes conciliares tenían que ver con tener una actitud crítica o negativa hacia la tradición existente hasta entonces, y que debía ser reemplazada por una relación nueva y radicalmente abierta con el mundo».

La concesión de los libros prohibidos de Ratzinger

Incluso, revela que «en no pocos seminarios, a los estudiantes que los veían leyendo mis libros se les consideraba no aptos para el sacerdocio. Mis libros fueron escondidos, como si fueran mala literatura, y se leyeron sólo bajo el escritorio».

Sobre la pedofilia, habla del gran problema que saltó en los 80 y de cómo fue evolucionando la respuesta de la Iglesia, y cómo al final Doctrina de la Fe fue la que se encargó de este tipo de casos. «Para imponer la máxima pena legalmente, se requiere un proceso penal genuino, pero ambos, las diócesis y la Santa Sede se ven sobrepasados por tal requerimiento. Por ello, formulamos un nivel mínimo de procedimientos penales y dejamos abierta la posibilidad de que la misma Santa Sede asuma el juicio allí donde las diócesis o la administración metropolitana no pueden hacerlo».


El rechazo al amor de Dios, clave en los escándalos

«¿Qué se debe hacer? ¿Tal vez deberíamos crear otra Iglesia para que la cosas funcionen? Bueno, ese experimento ya se ha realizado y ya ha fracasado. Sólo la obediencia y el amor por nuestro Señor pueden indicarnos el camino», reflexiona Benedicto XVI en el tercer punto de su escrito.

De este modo, Ratzinger sugiere que «la forma de pelear contra el mal que nos amenaza a nosotros y a todo el mundo, sólo puede ser, al final, que entremos en este amor. Es la verdadera fuerza contra el mal, ya que el poder del mal emerge de nuestro rechazo a amar a Dios».

El papel central de la Eucaristía

«Una sociedad sin Dios – una sociedad que no lo conoce y que lo trata como no existente – es una sociedad que pierde su medida. En nuestros días fue que se acuñó la frase de la muerte de Dios. Cuando Dios muere en una sociedad, se nos dijo, esta se hace libre. En realidad, la muerte de Dios en una sociedad también significa el fin de la libertad porque lo que muere es el propósito que proporciona orientación, dado que desaparece la brújula que nos dirige en la dirección correcta que nos enseña a distinguir el bien del mal», escribe.

Por otro lado, incide en un aspecto más interno del catolicismo: la celebración de la Santa Eucaristía: «Nuestro manejo de la Eucaristía sólo puede generar preocupación». Pese a que el Concilio Vaticano II quiso convertirla en el centro de la vida cristiana, la realidad es que «prevalece una actitud muy distinta». A su juicio, «la forma en la que la gente simplemente recibe el Santísimo Sacramento en la comunión como algo rutinario muestra que muchos la ven como un gesto puramente ceremonial».

Imagen de la cumbre antiabusos que se celebró el pasado mes de febrero en el Vaticano

La Iglesia prevalecerá

Sin embargo, Benedicto XVI recalca que «la oportunidad en la que el Apocalipsis no está hablando aquí es obvia. Hoy, la acusación contra Dios es sobre todo menosprecio de Su Iglesia como algo malo en su totalidad y por lo tanto nos disuade de ella. La idea de una Iglesia mejor, hecha por nosotros mismos, es de hecho una propuesta del demonio, con la que nos quiere alejar del Dios viviente usando una lógica mentirosa en la que fácilmente podemos caer. No, incluso hoy la Iglesia no está hecha solo de malos peces y mala hierba. La Iglesia de Dios también existe hoy, y hoy es ese mismo instrumento a través del cual Dios nos salva».

Y para acabar anima a los católicos: «sí, hay pecado y mal en la Iglesia, pero incluso hoy existe la Santa Iglesia, que es indestructible. Además hoy hay mucha gente que humildemente cree, sufre y ama, en quien el Dios verdadero, el Dios amoroso, se muestra a Sí mismo a nosotros. Dios también tiene hoy Sus testigos («martyres») en el mundo. Nosotros solo tenemos que estar vigilantes para verlos y escucharlos».

A continuación, el escrito íntegro escrito por el Papa emérito Benedicto XVI.


A IGREJA E O ESCÂNDALO
DO ABUSO SEXUAL

Del 21 al 24 de febrero, tras la invitación del Papa Francisco, los presidentes de las conferencias episcopales del mundo se reunieron en el Vaticano para discutir la crisis de fe y de la Iglesia, una crisis palpable en todo el mundo tras las chocantes revelaciones del abuso clerical perpetrado contra menores. La extensión y la gravedad de los incidentes reportados han desconcertado a sacerdotes y laicos, y ha hecho que muchos cuestionen la misma fe de la Iglesia. Fue necesario enviar un mensaje fuerte y buscar un nuevo comienzo para hacer que la Iglesia sea nuevamente creíble como luz entre los pueblos y como una fuerza que sirve contra los poderes de la destrucción.

Ya que yo mismo he servido en una posición de responsabilidad como pastor de la Iglesia en una época en la que se desarrolló esta crisis y antes de ella, me tuve que preguntar – aunque ya no soy directamente responsable por ser emérito – cómo podía contribuir a ese nuevo comienzo en retrospectiva. Entonces, desde el periodo del anuncio hasta la reunión misma de los presidentes de las conferencias episcopales, reuní algunas notas con las que quiero ayudar en esta hora difícil. Habiendo contactado al Secretario de Estado del Vaticano, Cardenal (Pietro) Parolin, y al mismo Papa Francisco, me parece apropiado publicar este texto en el «Klerusblatt».

Mi trabajo se divide en tres partes.

En la primera busco presentar brevemente el amplio contexto del asunto, sin el cual el problema no se puede entender. Intento mostrar que en la década de 1960 ocurrió un gran evento, en una escala sin precedentes en la historia. Se puede decir que en los 20 años entre 1960 y 1980, los estándares vinculantes hasta entonces respecto a la sexualidad colapsaron completamente, y surgió una nueva normalidad que hasta ahora ha sido sujeta de varios laboriosos intentos de disrupción.

En la segunda parte, busco precisar los efectos de esta situación en la formación de los sacerdotes y en sus vidas.

Finalmente, en la tercera parte, me gustaría desarrollar algunas perspectivas para una adecuada respuesta por parte de la Iglesia.

I.

(1) El asunto comienza con la introducción de los niños y jóvenes en la naturaleza de la sexualidad, algo prescrita y apoyado por el Estado. En Alemania, la entonces ministra de salud, (Käte) Strobel, tenía una cinta en la que todo lo que antes no se permitía enseñar públicamente, incluidas las relaciones sexuales, se mostraba ahora con el propósito de educar. Lo que al principio se buscaba que fuera solo para la educación sexual de los jóvenes, se aceptó luego como una opción factible.

Efectos similares se lograron con el «Sexkoffer» publicado por el gobierno de Austria (N. DEL T. Materiales sexuales usados en los colegios austríacos a fines de la década de 1980). Las películas pornográficas y con contenido sexual se convirtieron entonces en algo común, hasta el punto que se transmitían en pequeños cines (Bahnhofskinos) (N. del T. cines baratos en Alemania que proyectaban pequeñas cintas cerca a las estaciones de tren).

Todavía recuerdo haber visto, mientras caminaba en la ciudad de Ratisbona un día, multitudes haciendo cola ante un gran cine, algo que habíamos visto antes solo en tiempos de guerra, cuando se esperaba una asignación especial. También recuerdo haber llegado a la ciudad el Viernes Santo de 1970 y ver en las vallas publicitarias un gran afiche de dos personas completamente desnudas y abrazadas.

Entre las libertades por las que la Revolución de 1968 peleó estaba la libertad sexual total, una que ya no tuviera normas. La voluntad de usar la violencia, que caracterizó esos años, está fuertemente relacionada con este colapso mental. De hecho, las cintas sexuales ya no se permitían en los aviones porque podían generar violencia en la pequeña comunidad de pasajeros. Y dado que los excesos en la vestimenta también provocaban agresiones, los directores de los colegios hicieron varios intentos para introducir una vestimenta escolar que facilitara un clima para el aprendizaje.

Parte de la fisionomía de la Revolución del 68 fue que la pedofilia también se diagnosticó como permitida y apropiada.

Para los jóvenes en la Iglesia, pero no solo para ellos, esto fue en muchas formas un tiempo muy difícil. Siempre me he preguntado cómo los jóvenes en esta situación se podían acercar al sacerdocio y aceptarlo con todas sus ramificaciones. El extenso colapso de las siguientes generaciones de sacerdotes en aquellos años y el gran número de laicizaciones fueron una consecuencia de todos estos desarrollos.

(2) Al mismo tiempo, independientemente de este desarrollo, la teología moral católica sufrió un colapso que dejó a la Iglesia indefensa ante estos cambios en la sociedad. Trataré de delinear brevemente la trayectoria que siguió este desarrollo.

Hasta el Concilio Vaticano II, la teología moral católica estaba ampliamente fundada en la ley natural, mientras que las Sagradas Escrituras se citaban solamente para tener contexto o justificación. En la lucha del Concilio por un nuevo entendimiento de la Revelación, la opción por la ley natural fue ampliamente abandonada, y se exigió una teología moral basada enteramente en la Biblia.

Aún recuerdo cómo la facultad jesuita en Frankfurt entrenó al joven e inteligente Padre (Schüller) con el propósito de desarrollar una moralidad basada enteramente en las Escrituras. La bella disertación del Padre (Bruno) Schüller muestra un primer paso hacia la construcción de una moralidad basada en las Escrituras. El Padre fue luego enviado a Estados Unidos y volvió habiéndose dado cuenta de que solo con la Biblia la moralidad no podía expresarse sistemáticamente. Luego intentó una teología moral más pragmática, sin ser capaz de dar una respuesta a la crisis de moralidad.

Al final, prevaleció principalmente la hipótesis de que la moralidad debía ser exclusivamente determinada por los propósitos de la acción humana. Si bien la antigua frase «el fin justifica los medios» no fue confirmada en esta forma cruda, su modo de pensar si se había convertido en definitivo.

En consecuencia, ya no podía haber nada que constituya un bien absoluto, ni nada que fuera fundamentalmente malo; (podía haber) solo juicios de valor relativos. Ya no había bien (absoluto), sino solo lo relativamente mejor o contingente en el momento y en circunstancias.

La crisis de la justificación y la presentación de la moralidad católica llegaron a proporciones dramáticas al final de la década de 1980 y en la de 1990. El 5 de enero de 1989 se publicó la «Declaración de Colonia», firmada por 15 profesores católicos de teología. Se centró en varios puntos de la crisis en la relación entre el magisterio episcopal y la tarea de la teología. (Las reacciones a) este texto, que al principio no fue más allá del nivel usual de protestas, creció muy rápidamente y se convirtió en un grito contra el magisterio de la Iglesia y reunió, clara y visiblemente, el potencial de protesta global contra los esperados textos doctrinales de Juan Pablo II. (cf. D. Mieth, Kölner Erklärung, LThK, VI3, p. 196) (N. del T. El LTHK es el Lexikon für Theologie und Kirche, el Lexicon de Teología y la Iglesia, cuyos editores incluían al teólogo Karl Rahner y al Cardenal alemán Walter Kasper)

El Papa Juan Pablo II, que conocía muy bien y que seguía de cerca la situación en la que estaba la teología moral, comisionó el trabajo de una encíclica para poner las cosas en claro nuevamente. Se publicó con el título de Veritatis splendor (El esplendor de la verdad) el 6 de agosto de 1993 y generó diversas reacciones vehementes por parte de los teólogos morales. Antes de eso, el Catecismo de la Iglesia Católica (1992) ya había presentado persuasivamente y de modo sistemático la moralidad como es proclamada por la Iglesia.

Nunca olvidaré cómo el entonces líder teólogo moral de lengua alemana, Franz Böckle, habiendo regresado a su natal Suiza tras su retiro, anunció con respecto a la Veritatis splendor que si la encíclica determinaba que había acciones que siempre y en todas circunstancias podían clasificarse como malas, entonces él la rebatiría con todos los recursos a su disposición.

Fue Dios, el Misericordioso, quien evitó que pusiera en práctica su resolución ya que Böckle murió el 8 de julio de 1991. La encíclica fue publicada el 6 de agosto de 1993 y efectivamente incluía la determinación de que había acciones que nunca pueden ser buenas.

El Papa era totalmente consciente de la importancia de esta decisión en ese momento y para esta parte del texto consultó nuevamente a los mejores especialistas que no tomaron parte en la edición de la encíclica. Él sabía que no debía dejar duda sobre el hecho que la moralidad de balancear los bienes debe tener siempre un límite último. Hay bienes que nunca están sujetos a concesiones.

Hay valores que nunca deben ser abandonados por un valor mayor e incluso sobrepasar la preservación de la vida física. Existe el martirio. Dios es más, incluida la sobrevivencia física. Una vida comprada por la negación de Dios, una vida que se base en una mentira final, no es vida.

El martirio es la categoría básica de la existencia cristiana. El hecho que ya no sea moralmente necesario en la teoría que defiende Böckle y muchos otros demuestra que la misma esencia del cristianismo está en juego aquí.

En la teología moral, sin embargo, otra pregunta se había vuelto apremiante: había ganado amplia aceptación la hipótesis de que el magisterio de la Iglesia debe tener competencia final («infalibilidad») solo en materias concernientes a la fe y los asuntos sobre la moralidad no deben caer en el rango de las decisiones infalibles del magisterio de la Iglesia. Hay probablemente algo de cierto en esta hipótesis que garantiza un mayor debate, pero hay un mínimo conjunto de cuestiones morales que están indisolublemente relacionadas al principio fundacional de la fe y que tiene que ser defendido si no se quiere que la fe sea reducida a una teoría y no se le reconozca en su clamor por la vida concreta.

Todo esto permite ver cuán fundamentalmente se cuestiona la autoridad de la Iglesia en asuntos de moralidad. Los que niegan a la Iglesia una competencia en la enseñanza final en esta área la obligan a permanecer en silencio precisamente allí donde el límite entre la verdad y la mentira está en juego.

Independientemente de este asunto, en muchos círculos de teología moral se expuso la hipótesis de que la Iglesia no tiene y no puede tener su propia moralidad. El argumento era que todas las hipótesis morales tendrían su paralelo en otras religiones y, por lo tanto, no existiría una naturaleza cristiana. Pero el asunto de la naturaleza de una moralidad bíblica no se responde con el hecho que para cada sola oración en algún lugar, se puede encontrar un paralelo en otras religiones. En vez de eso, se trata de toda la moralidad bíblica, que como tal es nueva y distinta de sus partes individuales.

La doctrina moral de las Sagradas Escrituras tiene su forma de ser única predicada finalmente en su concreción a imagen de Dios, en la fe en un Dios que se mostró a sí mismo en Jesucristo y que vivió como ser humanoEl Decálogo es una aplicación a la vida humana de la fe bíblica en Dios. La imagen de Dios y la moralidad se pertenecen y por eso resulta en el cambio particular de la actitud cristiana hacia el mundo y la vida humana. Además, el cristianismo ha sido descrito desde el comienzo con la palabra hodós (camino, en griego, usado en el Nuevo Testamente para hablar de un camino de progreso).

La fe es una travesía y una forma de vida. En la antigua Iglesia, el catecumenado fue creado como un hábitat en la que los aspectos distintivos y frescos de la forma de vivir la vida cristiana eran al mismo tiempo practicados y protegidos ante la cultura que era cada vez más desmoralizada. Creo que incluso hoy algo como las comunidades de catecumenado son necesarias para que la vida cristiana pueda afirmarse en su propia manera.

II. — LAS REACCIONES ECLESIALES INICIALES

(1) El proceso largamente preparado y en marcha para la disolución del concepto cristiano de moralidad estuvo marcado, como he tratado de demostrar, por la radicalidad sin precedentes de la década de 1960. Esta disolución de la autoridad moral de la enseñanza de la Iglesia necesariamente debió tener un efecto en los distintos miembros de la Iglesia. En el contexto del encuentro de los presidentes de las conferencias episcopales de todo el mundo con el Papa Francisco, el asunto de la vida sacerdotal, así como la de los seminarios, es de particular interés. Ya que tiene que ver con el problema de la preparación en los seminarios para el ministerio sacerdotal, hay de hecho una descomposición de amplio alcance en cuanto a la forma previa de preparación.

En varios seminarios se establecieron grupos homosexuales que actuaban más o menos abiertamente, con lo que cambiaron significativamente el clima que se vivía en ellos. En un seminario en el sur de Alemania, los candidatos al sacerdocio y para el ministerio laico de especialistas pastorales (Pastoralreferent) vivían juntos. En las comidas cotidianas, los seminaristas y los especialistas pastorales estaban juntos. Los casados a veces estaban con sus esposas e hijos; y en ocasiones con sus novias. El clima en este seminario no proporcionaba el apoyo requerido para la preparación de la vocación sacerdotal. La Santa Sede sabía de esos problemas sin estar informada precisamente. Como primer paso, se acordó una visita apostólica (N. del T.: investigación) para los seminarios en Estados Unidos.

Como el criterio para la selección y designación de obispos también había cambiado luego del Concilio Vaticano II, la relación de los obispos con sus seminarios también era muy diferente. Por encima de todo se estableció la «conciliaridad» como un criterio para el nombramiento de nuevos obispos, que podía entenderse de varias maneras.

De hecho, en muchos lugares se entendió que las actitudes conciliares tenían que ver con tener una actitud crítica o negativa hacia la tradición existente hasta entonces, y que debía ser reemplazada por una relación nueva y radicalmente abierta con el mundo. Un obispo, que había sido antes rector de un seminario, había hecho que los seminaristas vieran películas pornográficas con la intención de que estas los hicieran resistentes ante las conductas contrarias a la fe.

Hubo – y no solo en los Estados Unidos de América – obispos que individualmente rechazaron la tradición católica por completo y buscaron una nueva y moderna «catolicidad» en sus diócesis. Tal vez valga la pena mencionar que en no pocos seminarios, a los estudiantes que los veían leyendo mis libros se les consideraba no aptos para el sacerdocio. Mis libros fueron escondidos, como si fueran mala literatura, y se leyeron solo bajo el escritorio.

La visita que se realizó no dio nuevas pistas, aparentemente porque varios poderes unieron fuerzas para maquillar la verdadera situación. Una segunda visita se ordenó y esa sí permitió tener datos nuevos, pero al final no logró ningún resultado. Sin embargo, desde la década de 1970 la situación en los seminarios ha mejorado en general. Y, sin embargo, solo aparecieron casos aislados de un nuevo fortalecimiento de las vocaciones sacerdotales ya que la situación general había tomado otro rumbo.

(2) El asunto de la pedofilia, según recuerdo, no fue agudo sino hasta la segunda mitad de la década de 1980. Mientras tanto, ya se había convertido en un asunto público en Estados Unidos, tanto así que los obispos fueron a Roma a buscar ayuda ya que la ley canónica, como se escribió en el nuevo Código (1983), no parecía suficiente para tomar las medidas necesarias. Al principio Roma y los canonistas romanos tuvieron dificultades con estas preocupaciones ya que, en su opinión, la suspensión temporal del ministerio sacerdotal tenía que ser suficiente para generar purificación y clarificación. Esto no podía ser aceptado por los obispos estadounidenses, porque de ese modo los sacerdotes permanecían al servicio del obispo y así eran asociados directamente con él. Lentamente fue tomando forma una renovación y profundización de la ley penal del nuevo Código, que había sido construida adrede de manera holgada.

Además y sin embargo, había un problema fundamental en la percepción de la ley penal. Solo el llamado garantismo (una especie de proteccionismo procesal) era considerado como «conciliar». Esto significa que se tenía que garantizar, por encima de todo, los derechos del acusado hasta el punto en que se excluyera del todo cualquier tipo de condena. Como contrapeso ante las opciones de defensa, disponibles para los teólogos acusados y con frecuencia inadecuadas, su derecho a la defensa usando el garantismo se extendió a tal punto que las condenas eran casi imposibles.

Permítanme un breve excurso en este punto. A la luz de la escala de la inconducta pedófila, una palabra de Jesús nuevamente salta a la palestra: «Y cualquiera que haga tropezar a uno de estos pequeños que creen en mí, mejor le fuera si le hubieran atado al cuello una piedra de molino de las que mueve un asno, y lo hubieran echado al mar» (Mc 9,42).

La palabra «pequeños» en el idioma de Jesús significa los creyentes comunes que pueden ver su fe confundida por la arrogancia intelectual de aquellos que creen que son inteligentes. Entonces, aquí Jesús protege el depósito de la fe con una amenaza o castigo enfático para quienes hacen daño.

El uso moderno de la frase no es en sí mismo equivocado, pero no debe oscurecer el significado original. En él queda claro, contra cualquier garantismo, que no solo el derecho del acusado es importante y requiere una garantía. Los grandes bienes como la fe son igualmente importantes.

Entonces, una ley canónica balanceada que se corresponda con todo el mensaje de Jesús no solo tiene que proporcionar una garantía para el acusado, para quien el respeto es un bien legal, sino que también tiene que proteger la fe que también es un importante bien legal. Una ley canónica adecuadamente formada tiene que contener entonces una doble garantía: la protección legal del acusado y la protección legal del bien que está en juego. Si hoy se presenta esta concepción inherentemente clara, generalmente se cae en hacer oídos sordos cuando se llega al asunto de la protección de la fe como un bien legal. En la consciencia general de la ley, la fe ya no parece tener el rango de bien que requiere protección. Esta es una situación alarmante que los pastores de la Iglesia tienen que considerar y tomar en serio.

Ahora me gustaría agregar, a las breves notas sobre la situación de la formación sacerdotal en el tiempo en el que estalló la crisis, algunas observaciones sobre el desarrollo de la ley canónica en este asunto.

En principio, la Congregación para el Clero es la responsable de lidiar con crímenes cometidos por sacerdotes, pero dado que el garantismo dominó largamente la situación en ese entonces, estuve de acuerdo con el Papa Juan Pablo II en que era adecuado asignar estas ofensas a la Congregación para la Doctrina de la Fe, bajo el título de «Delicta maiora contra fidem».

Esto hizo posible imponer la pena máxima, es decir la expulsión del estado clerical, que no se habría podido imponer bajo otras previsiones legales. Esto no fue un truco para imponer la máxima pena, sino una consecuencia de la importancia de la fe para la Iglesia. De hecho, es importante ver que tal inconducta de los clérigos al final daña la fe.

Allí donde la fe ya no determina las acciones del hombre es que tales ofensas son posibles.

La severidad del castigo, sin embargo, también presupone una prueba clara de la ofensa: este aspecto del garantismo permanece en vigor.

En otras palabras, para imponer la máxima pena legalmente, se requiere un proceso penal genuino, pero ambos, las diócesis y la Santa Sede se ven sobrepasados por tal requerimiento. Por ello formulamos un nivel mínimo de procedimientos penales y dejamos abierta la posibilidad de que la misma Santa Sede asuma el juicio allí donde la diócesis o la administración metropolitana no pueden hacerlo. En cada caso, el juicio debe ser revisado por la Congregación para la Doctrina de la Fe para garantizar los derechos del acusado. Finalmente, en la feria cuarta (N. del T. la asamblea de los miembros de la Congregación) establecimos una instancia de apelación para proporcionar la posibilidad de apelar.

Ya que todo esto superó en la realidad las capacidades de la Congregación para la Doctrina de la Fe y ya que las demoras que surgieron tenían que ser previstas dada la naturaleza de esta materia, el Papa Francisco ha realizado reformas adicionales.

III.

(1.) ¿Qué se debe hacer? ¿Tal vez deberíamos crear otra Iglesia para que las cosas funcionen? Bueno, ese experimento ya se ha realizado y ya ha fracasado. Solo la obediencia y el amor por nuestro Señor Jesucristo pueden indicarnos el camino, así que primero tratemos de entender nuevamente y desde adentro (de nosotros mismos) lo que el Señor quiere y ha querido con nosotros.

Primero, sugeriría lo siguiente: si realmente quisiéramos resumir muy brevemente el contenido de la fe como está en la Biblia, tendríamos que hacerlo diciendo que el Señor ha iniciado una narrativa de amor con nosotros y quiere abarcar a toda la creación en ella. La forma de pelear contra el mal que nos amenaza a nosotros y a todo el mundo, solo puede ser, al final, que entremos en este amor. Es la verdadera fuerza contra el mal, ya que el poder del mal emerge de nuestro rechazo a amar a Dios. Quien se confía al amor de Dios es redimido. Nuestro ser no redimidos es una consecuencia de nuestra incapacidad de amar a Dios. Aprender a amar a Dios es, por lo tanto, el camino de la redención humana.

Tratemos de desarrollar un poco más este contenido esencial de la revelación de Dios. Podemos entonces decir que el primer don fundamental que la fe nos ofrece es la certeza de que Dios existe. Un mundo sin Dios solo puede ser un mundo sin significado. De otro modo, ¿de dónde vendría todo? En cualquier caso, no tiene propósito espiritual. De algún modo está simplemente allí y no tiene objetivo ni sentido. Entonces no hay estándares del bien ni del mal, y solo lo que es más fuerte que otra cosa puede afirmarse a sí misma y el poder se convierte en el único principio. La verdad no cuenta, en realidad no existe. Solo si las cosas tienen una razón espiritual tienen una intención y son concebidas. Solo si hay un Dios Creador que es bueno y que quiere el bien, la vida del hombre puede entonces tener sentido.

Existe un Dios como creador y la medida de todas las cosas es una necesidad primera y primordial, pero un Dios que no se exprese para nada a sí mismo, que no se hiciese conocido, permanecería como una presunción y podría entonces no determinar la forma [Gestalt] de nuestra vida. Para que Dios sea realmente Dios en esta creación deliberada, tenemos que mirarlo para que se exprese a sí mismo de alguna forma. Lo ha hecho de muchas maneras, pero decisivamente lo hizo en el llamado a Abraham y que le dio a la gente que buscaba a Dios la orientación que lleva más allá de toda expectativa: Dios mismo se convierte en criatura, habla como hombre con nosotros los seres humanos.

En este sentido la frase «Dios es», al final se convierte en un mensaje verdaderamente gozoso, precisamente porque Él es más que entendimiento, porque Él crea – y es – amor para que una vez más la gente sea consciente de esta, la primera y fundamental tarea confiada a nosotros por el Señor.

Una sociedad sin Dios – una sociedad que no lo conoce y que lo trata como no existente – es una sociedad que pierde su medida. En nuestros días fue que se acuñó la frase de la muerte de Dios. Cuando Dios muere en una sociedad, se nos dijo, esta se hace libre. En realidad, la muerte de Dios en una sociedad también significa el fin de la libertad porque lo que muere es el propósito que proporciona orientación, dado que desaparece la brújula que nos dirige en la dirección correcta que nos enseña a distinguir el bien del mal. La sociedad occidental es una sociedad en la que Dios está ausente en la esfera pública y no tiene nada que ofrecerle. Y esa es la razón por la que es una sociedad en la que la medida de la humanidad se pierde cada vez más. En puntos individuales, de pronto parece que lo que es malo y destruye al hombre se ha convertido en una cuestión de rutina.

Ese es el caso con la pedofilia. Se teorizó solo hace un tiempo como algo legítimo, pero se ha difundido más y más. Y ahora nos damos cuenta con sorpresa de que las cosas que les están pasando a nuestros niños y jóvenes amenazan con destruirlos. El hecho de que esto también pueda extenderse en la Iglesia y entre los sacerdotes es algo que nos debe molestar de modo particular.

¿Por qué la pedofilia llegó a tales proporciones? Al final de cuentas, la razón es la ausencia de Dios. Nosotros, cristianos y sacerdotes, también preferimos no hablar de Dios porque este discurso no parece ser práctico. Luego de la convulsión de la Segunda Guerra Mundial, nosotros en Alemania todavía teníamos expresamente en nuestra Constitución que estábamos bajo responsabilidad de Dios como un principio guía. Medio siglo después, ya no fue posible incluir la responsabilidad para con Dios como un principio guía en la Constitución europea. Dios es visto como la preocupación partidaria de un pequeño grupo y ya no puede ser un principio guía para la comunidad como un todo. Esta decisión se refleja en la situación de Occidente, donde Dios se ha convertido en un asunto privado de una minoría.

Una tarea primordial, que tiene que resultar de las convulsiones morales de nuestro tiempo, es que nuevamente comencemos a vivir por Dios y bajo Él. Por encima de todo, nosotros tenemos que aprender una vez más a reconocer a Dios como la base de nuestra vida en vez de dejarlo a un lado como si fuera una frase no efectiva. Nunca olvidaré la advertencia del gran teólogo Hans Urs von Balthasar que una vez me escribió en una de sus postales: «¡No presuponga al Dios trino: Padre, Hijo y Espíritu Santo, preséntelo!».

De hecho, en la teología Dios siempre se da por sentado como un asunto de rutina, pero en lo concreto uno no se relaciona con Él. El tema de Dios parece tan irreal, tan expulsado de las cosas que nos preocupan y, sin embargo, todo se convierte en algo distinto si no se presupone sino que se presenta a Dios. No dejándolo atrás como un marco, sino reconociéndolo como el centro de nuestros pensamientos, palabras y acciones.

(2) Dios se hizo hombre por nosotros. El hombre como Su criatura es tan cercano a Su corazón que Él se ha unido a sí mismo con él y ha entrado así en la historia humana de una forma muy práctica. Él habla con nosotros, vive con nosotros, sufre con nosotros y asumió la muerte por nosotros. Hablamos sobre esto en detalle en la teología, con palabras y pensamientos aprendidos, pero es precisamente de esta forma que corremos el riesgo de convertirnos en maestros de fe en vez de ser renovados y hechos maestros por la fe.

Consideremos esto con respecto al asunto central: la celebración de la Santa Eucaristía. Nuestro manejo de la Eucaristía solo puede generar preocupación. El Concilio Vaticano II se centró correctamente en regresar este sacramento de la presencia del cuerpo y la sangre de Cristo, de la presencia de Su persona, de su Pasión, Muerte y Resurrección, al centro de la vida cristiana y la misma existencia de la Iglesia. En parte esto realmente ha ocurrido y deberíamos estar agradecidos al Señor por ello.

Y sin embargo prevalece una actitud muy distinta. Lo que predomina no es una nueva reverencia por la presencia de la muerte y resurrección de Cristo, sino una forma de lidiar con Él que destruye la grandeza del Misterio. La caída en la participación de las celebraciones eucarísticas dominicales muestra lo poco que los cristianos de hoy saben sobre apreciar la grandeza del don que consiste en Su Presencia real. La Eucaristía se ha convertido en un mero gesto ceremonial cuando se da por sentado que la cortesía requiere que sea ofrecido en celebraciones familiares o en ocasiones como bodas y funerales a todos los invitados por razones familiares.

La forma en la que la gente simplemente recibe el Santísimo Sacramento en la comunión como algo rutinario muestra que muchos la ven como un gesto puramente ceremonial. Por lo tanto, cuando se piensa en la acción que se requiere primero y primordialmente, es bastante obvio que no necesitamos otra Iglesia con nuestro propio diseño. En vez de ello se requiere, primero que nada, la renovación de la fe en la realidad de que Jesucristo se nos es dado en el Santísimo Sacramento.

En conversaciones con víctimas de pedofilia, me hicieron muy consciente de este requisito primero y fundamental. Una joven que había sido acólita me dijo que el capellán, su superior en el servicio del altar, siempre la introducía al abuso sexual que él cometía con estas palabras: «Este es mi cuerpo que será entregado por ti».

Es obvio que esta mujer ya no puede escuchar las palabras de la consagración sin experimentar nuevamente la terrible angustia de los abusos. Sí, tenemos que implorar urgentemente al Señor por su perdón, pero antes que nada tenemos que jurar por Él y pedirle que nos enseñe nuevamente a entender la grandeza de Su sufrimiento y Su sacrificio. Y tenemos que hacer todo lo que podamos para proteger del abuso el don de la Santísima Eucaristía.

(3) Y finalmente, está el Misterio de la Iglesia. La frase con la que Romano Guardini, hace casi 100 años, expresó la esperanza gozosa que había en él y en muchos otros, permanece inolvidable: «Un evento de importancia incalculable ha comenzado, la Iglesia está despertando en las almas».

Se refería a que la Iglesia ya no era experimentada o percibida simplemente como un sistema externo que entraba en nuestras vidas, como una especie de autoridad, sino que había comenzado a ser percibida como algo presente en el corazón de la gente, como algo no meramente externo sino que nos movía interiormente. Casi 50 años después, al reconsiderar este proceso y viendo lo que ha estado pasando, me siento tentado a revertir la frase: «La Iglesia está muriendo en las almas».

De hecho, hoy la Iglesia es vista ampliamente solo como una especie de aparato político. Se habla de ella casi exclusivamente en categorías políticas y esto se aplica incluso a obispos que formulan su concepción de la Iglesia del mañana casi exclusivamente en términos políticos. La crisis, causada por los muchos casos de abusos de clérigos, nos hace mirar a la Iglesia como algo casi inaceptable que tenemos que tomar en nuestras manos y rediseñar. Pero una Iglesia que se hace a sí misma no puede constituir esperanza.

Jesús mismo comparó la Iglesia a una red de pesca en la que Dios mismo separa los buenos peces de los malos. También hay una parábola de la Iglesia como un campo en el que el buen grano que Dios mismo sembró crece junto a la mala hierba que «un enemigo» secretamente echó en él. De hecho, la mala hierba en el campo de Dios, la Iglesia, son ahora excesivamente visibles y los peces malos en la red también muestran su fortaleza. Sin embargo, el campo es aún el campo de Dios y la red es la red de Dios. Y en todos los tiempos, no solo ha habido mala hierba o peces malos, sino también los sembríos de Dios y los buenos peces. Proclamar ambos con énfasis y de la misma forma no es una manera falsa de apologética, sino un necesario servicio a la Verdad.

En este contexto es necesario referirnos a un importante texto en la Revelación a Juan. El demonio es identificado como el acusador que acusa a nuestros hermanos ante Dios día y noche. (Ap 12, 10). El Apocalipsis toma entonces un pensamiento que está al centro de la narrativa en el libro de Job (Job 1 y 2, 10; 42:7-16). Allí se dice que el demonio buscaba mostrar que lo correcto en la vida de Job ante Dios era algo meramente externo. Y eso es exactamente lo que el Apocalipsis tiene que decir: el demonio quiere probar que no hay gente correcta, que su corrección solo se muestra en lo externo. Si uno pudiera acercarse, entonces la apariencia de justicia se caería rápidamente.

La narración comienza con una disputa entre Dios y el demonio, en la que Dios se ha referido a Job como un hombre verdaderamente justo. Ahora va a ser usado como un ejemplo para probar quién tiene razón. El demonio pide que se le quiten todas sus posesiones para ver que nada queda de su piedad. Dios le permite que lo haga, tras lo cual Jon actúa positivamente. Luego el demonio presiona y dice: «¡Piel por piel! Sí, todo lo que el hombre tiene dará por su vida. Sin embargo, extiende ahora tu mano y toca su hueso y su carne, verás si no te maldice en tu misma cara». (Job 2,4f).

Entonces Dios le otorga al demonio un segundo turno. También toca la piel de Job y solo le está negado matarlo. Para los cristianos es claro que este Job, que está de pie ante Dios como ejemplo para toda la humanidad, es Jesucristo. En el Apocalipsis el drama de la humanidad nos es presentado en toda su amplitud.

El Dios Creador es confrontado con el demonio que habla a toda la humanidad y a toda la creación. Le habla no solo a Dios, sino y sobre todo a la gente: Miren lo que este Dios ha hecho. Supuestamente una buena creación. En realidad está llena de miseria y disgustos. El desaliento de la creación es en realidad el menosprecio de Dios. Quiere probar que Dios mismo no es bueno y alejarnos de Él.

La oportunidad en la que el Apocalipsis no está hablando aquí es obvia. Hoy, la acusación contra Dios es sobre todo menosprecio de Su Iglesia como algo malo en su totalidad y por lo tanto nos disuade de ella. La idea de una Iglesia mejor, hecha por nosotros mismos, es de hecho una propuesta del demonio, con la que nos quiere alejar del Dios viviente usando una lógica mentirosa en la que fácilmente podemos caer. No, incluso hoy la Iglesia no está hecha solo de malos peces y mala hierba. La Iglesia de Dios también existe hoy, y hoy es ese mismo instrumento a través del cual Dios nos salva.

Es muy importante oponerse con toda la verdad a las mentiras y las medias verdades del demonio: sí, hay pecado y mal en la Iglesia, pero incluso hoy existe la Santa Iglesia, que es indestructible. Además hoy hay mucha gente que humildemente cree, sufre y ama, en quien el Dios verdadero, el Dios amoroso, se muestra a Sí mismo a nosotros. Dios también tiene hoy Sus testigos («martyres») en el mundo. Nosotros solo tenemos que estar vigilantes para verlos y escucharlos.

La palabra mártir está tomada de la ley procesal. En el juicio contra el demonio, Jesucristo es el primer y verdadero testigo de Dios, el primer mártir, que desde entonces ha sido seguido por incontables otros.

El hoy de la Iglesia es más que nunca una Iglesia de mártires y por ello un testimonio del Dios viviente. Si miramos a nuestro alrededor y escuchamos con un corazón atento, podremos hoy encontrar testigos en todos lados, especialmente entre la gente ordinaria, pero también en los altos rangos de la Iglesia, que se alzan por Dios con sus vidas y su sufrimiento. Es una inercia del corazón lo que nos lleva a no desear reconocerlos. Una de las grandes y esenciales tareas de nuestra evangelización es, hasta donde podamos, establecer hábitats de fe y, por encima de todo, encontrar y reconocerlos.

Vivo en una casa, en una pequeña comunidad de personas que descubren tales testimonios del Dios viviente una y otra vez en la vida diaria, y que alegremente me comentan esto. Ver y encontrar a la Iglesia viviente es una tarea maravillosa que nos fortalece y que, una y otra vez, nos hace alegres en nuestra fe.

Al final de mis reflexiones me gustaría agradecer al Papa Francisco por todo lo que hace para mostrarnos siempre la luz de Dios que no ha desaparecido, incluso hoy. ¡Gracias Santo Padre!